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Nem tudo é bullying – por Daiani Ferrari

Eu tinha um colega, o Tiago, que viva sendo sacaneado pela turma, lá pela quarta ou quinta série. Ele era colega novo, ao contrário dos outros, juntos na escola há vários anos. Os guris não gostavam dele, era meio frágil demais. As gurias debochavam por ele ser um pouco chorão. Ele gostava de mim, apesar de às vezes eu também fazer algumas brincadeiras com ele.

Naquela época, os professores diziam que nossas brincadeiras podiam ser um pouco agressivas e pediam que o ajudássemos na adaptação à escola, mas não passava disso. Nenhuma bronca maior ou sessões com psicólogo. As sacanagens acabavam com o recreio e no final da aula formava-se o grupo que descia a Serafim Vargas para ir para casa. Todos juntos. Os novos e os velhos.

***

Um casal estava na sala, tomando mate, enquanto ela passava os olhos numa revista. Viu um anúncio de uma televisão que a surpreendeu.

–   Jorge, uma televisão com comandos de voz.

– Mas não podemos ter essa televisão, Marta. Comprar uma seria um a-a-autobullying.

Ele era gago. Mas nem por isso desanimou. Na verdade, lembrou de um episódio em que depois de ralhar severamente o bandeirinha num jogo de futebol, um conhecido, algumas fileiras de arquibancadas abaixo, gritou:

–   Jorge, seu sem vergonha, para xingar o juiz tu não és gago, não é?

***

Tanto crianças quanto adultos têm de aprender a rir de si mesmos. Nem tudo é bullying.

Tiago não ficou traumatizado. Como já mencionei, ele gostava de mim, até pediu para namorar comigo num dia de prova de matemática.

Jorge e a esposa seguiram com o mate, rindo e lembrando de situações engraçadas envolvendo a gagueira dele.

Meu apelido era vaca, porque uma vez fizemos um teatrinho e eu interpretava a vaca da música “nós temos lá em casa uma vaquinha preta…”.

E eu sobrevivi sem traumas.

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