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Cena de mãe – por Bianca Zasso

A gente cresce acreditando que ela é a maior estrela de todas, “adolesce” questionando o que ela pensa e faz por nós e amadurece querendo dividir as diferenças, alegrias e frustrações. Acho que esse seria um bom roteiro para falar da relação mãe e filha. No próximo domingo, o comércio sedento por vendas definiu que é o dia delas.

Óbvio que não poderei fugir do presente, mas acho que a comemoração pode acontecer em qualquer dia do ano, quando menos se espera. Nada daquele clichê publicitário que “todo dia e dia das mães”, mas sim dar valor a algumas situações que vão virar boas lembranças em breve.

Estava há muitos dias sem ver a minha mãe. O trabalho, os livros e os artigos me fizeram com que eu ficasse algumas semanas tendo apenas o telefone como meio de conversar com ela. A tecnologia salva, mas nunca será capaz de reproduzir um comentário baixinho e o sorriso cúmplice que ela tem. Quando nos encontramos, nada de papo desenfreado. As coisas acontecem aos poucos com quem temos intimidade. Não há porque ter pressa.

Entre os muitos assuntos, eis que surge Ingmar Bergman. Mamãe havia assistido no Canal Futura uma sessão comentada de Persona, uma das grandes produções do cineasta sueco. Pra variar, mamãe foi sincera: “Não entendi o filme, mas a Lorena Calábria disse que nem sempre é preciso entender para gostar.”. Bastou para que eu lembrasse todas as vezes que pedi fitas VHS de presente para ela, a mesada gasta em ingressos de cinema, os filmes que assisti por influência dela.

O quanto ela gosta de Mamma Mia e odeia filmes de terror. O dia que apresentei os filmes de Woody Allen pra ela. As noites que ela me liga para dizer que está passando um western na TV. Quando ela vê uma foto do Kurosawa e lembra-se de mim. A nossa paixão pela Marilyn e pela Audrey. Ela me ajudando a arrumar os pôsteres na parede do quarto. O orgulho que vejo no rosto dela quando diz “minha filha ama cinema”.

Aqui em casa, filme nunca foi mero entretenimento. Não nego que a mais obcecada por cinema sempre fui eu, mas não comecei do nada. Há 20 anos, eram os desenhos sobre filmes da Disney que eu fazia na escola. Hoje são os textos publicados aqui, os artigos que me tomam madrugadas inteiras e os livros de teoria. Ontem locadora com conta estourada, hoje Vertov na estante.

E a mãe sempre ali do lado, acreditando mesmo quando nem eu mesma conseguia fazer isso. Teimosa que sou, teria seguido em frente mesmo com uma mãe anti-cinema. Mas com ela, tenho que confessar, meu caminho é mais legal e a Sétima Arte ainda mais próxima.  Domingo vai ter abraço, beijo e, quem sabe, filme. Daquelas cenas para nunca esquecer.

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