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Poderoso e eterno – por Bianca Zasso

O livro é sempre melhor que o filme. Quem nunca ouviu essa frase que atire o primeiro marcador de página. Quem gosta de literatura e cinema nas mesmas proporções, caso desta que vos escreve, sempre cai na tentação de comparar livro e filme e se deixar levar por uma certa revolta quando não avista nas telas o trecho que sempre sonhou. Com o tempo e os estudos, percebemos que literatura e cinema são coisas diferentes e que não é possível transpor o universo que cada leitor criou em sua imaginação para 24 quadros por segundo.

Mas e quando o filme supera o livro, tornando-se algo único, idolatrado e cheio de estilo? A boa mão do diretor Francis Ford Coppola uniu-se à prosa intensa do escritor Mario Puzo, tornando o roteiro de O poderoso chefão um verdadeiro romance para ser lido com gosto. A saga da família Corleone, que já encantava nas páginas, ganhou cores e expressões que, mesmo quem nunca assistiu a nenhum filme da trilogia conhece e tenta imitar.

Passei pela experiência de ler O poderoso chefão antes de ter contato com o filme. Lembro bem do exemplar gasto, impresso em papel-jornal, no melhor estilo pulp que meu tio me emprestou quando eu tinha 14 anos. Devorei a história, elegi meus personagens preferidos e fui atrás da versão de Coppola achando que a decepção seria certeira. Me enganei feio.

A cada cena, a cada elipse bem colocada, a cada acorde da trilha de Nino Rota, o chefão de Coppola apagava da minha memória o chefão de Puzo. Assisti os três filmes na sequência e aquelas imagens grudaram no meu cérebro. Também pudera, eu era uma menina descobrindo os encantos do universo da máfia na tela grande e na literatura. Quando fui me dedicar à segunda leitura de O poderoso chefão, o estrago estava feito: não conseguia mais imaginar Michael Corleone sem o rosto de Al Pacino e nem Connie sem a expressão assustada de Talia Shire.

Os tons amarelados da fotografia de Gordon Willis não saiam da minha imaginação.  Claro que o talento de Coppola para contar uma história foi o grande responsável por isso, mas também houve uma ajuda da parte sentimental. Don Altobello ser interpretado por um dos meus atores preferidos, o americano Eli Wallach, é meio caminho andando para que aqueles cabelos brancos e aquela cara de malvado disfarçado nunca mais deixassem minha memória.

O poderoso chefão foi além do cinema. Virou ícone pop, estampa camisetas usadas por muitas pessoas que sequer chegaram ao segundo filme da saga. Durante um tempo isso me incomodava, não gosto de carregar no peito algo que não conheço ou não acredito. Mas as coisas mudam e a tal maturidade traz uma paciência e compreensão quase imutáveis.

Ao me deparar com garotos que usam Don Corleone nas roupas pelo apelo pop e não por sua real importância para o cinema, não me dão mais pena e sim provocam um sorrisinho no canto da boca. O meu Don Corleone é muito mais legal que o deles. Vamos ficar na torcida para que eles descubram o verdadeiro poder do chefe da máfia.

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