…Era bom esse Drummond – por Vitor Hugo do Amaral Ferreira
Na liberdade dos escritos, o texto aceita tudo, descreve tempos e sentimentos. Aproveitando-me da liberdade quiçá permita-me falar de tudo um pouco, de tudo, ainda que pouco. Pois é!? Até pode ser clichê, a correria dos dias, trabalho, a nossa (nova) vida… Amontoado a tudo isso, a saudade dos velhos tempos, nostalgia. Talvez as nossas vidas pudessem ser como uma boa casa arrumada.
Não qualquer casa, eu queria a Casa Arrumada de Drummond… um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz. Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela. Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: aqui tem vida!
E tal como a casa arrumada, a nossa existência precisa de vida. Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa.
A minha casa, a nossa vida, tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto… E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Iria escrever, talvez tenha me perdido em parafrasear Drummond; mas nada melhor, afinal, o que dizer diante dele? Fico na ideia de que a vida conturbada, a correria, seja um pouco da casa arrumada. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Vitor Hugo do Amaral Ferreira
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