A má educação – por Leonardo Foletto
Pensar em educação num contexto digital é, pra mim, lembrar quase sempre de uma comparação. Que é mais ou menos assim: se qualquer pessoa que, por algum invento futurista, fosse congelada no séc. XIX e acordasse, sem mais nem menos, em 2014, uma das únicas coisas que não estaria mudada seria uma escola.
Todo o resto – eletricidade, avião, internet, tecnologia digital, costumes, cultura e o o que mais tu quiser por aqui – estaria completamente transformado. Mas não a escola, que em sua imensa maioria continuaria no mesmo esquema anacrônico de 200 anos atrás, um mestre a “transmitir” o conhecimento e “cobrando” através de provas objetivas conhecimentos não raro inúteis – ou úteis só para passar no vestibular, felizmente em vias de extinção (e Santa Maria inteira sabe disso melhor do que eu).
É nessa ferida que toca o documentário “A Educação Proibida“, que conta com entrevistas com mais de 90 educadores de propostas educativas alternativas da Ibero-América (Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Equador, Colômbia, México, Guatemala e Espanha).
Lançado em 2012, o filme é um sucesso nas redes, online e offline: 1 milhão e 300 mil downloads, mais de 9 milhões de reproduções no YouTube, 894 projeções em todo o mundo (que podem ser vistasneste mapa), 223 mil fãs noFacebook e pouco mais de 9 mil seguidores noTwitter.
A visibilidade do filme se justifica por uma série de elementos. O principal é o mais óbvio: seu conteúdo. Através das diversas entrevistas, ele questiona toda as bases e os métodos da educação ocidental, baseada essencialmente em um sistema competitivo de qualificações.
Em duas horas e 25 minutos, o doc traz algumas propostas interessantes para quem pensa (e hoje quem não pensa?) em uma educação diferente da que está aí – embora algumas das propostas, tendo por base grandes educadores como Paulo Freire, às vezes parecem tão óbvias que não se entende o porquê de não serem regras.
– Conteúdo/conhecimento não é a coisa mais importante, a informação não é correta para sempre, ela pode variar. O ideal é aprender a aprender, aprender a distinguir, interpretar por si só, tudo é relativo, de acordo com o contexto.
– O desempenho não é o mais importante, deve haver um objetivo a atingir. O importante são os objetivos pessoais e apreciar o processo em harmonia, o crescimento e a aventura de progredir. Em sala de aula não deve haver nenhuma hierarquia, senão se transforma em uma jaula. O professor não é superior ou tem o direito de dar ordens, é um companheiro, um guia que promove a democracia, a autonomia, a diversidade.
– O sistema de qualificações não funciona. O esquema é de autoprofecias cumpridas. A pedagogia é uma ciência social que não pode ser medida numericamente. Avaliação é um processo.
– Os valores não são para ser ensinados, mas para ser vividos. A cognição de valores e conhecimento é baseada em emoções, a melhor maneira de educar é pelo exemplo.
– As lutas de poder e a competitividade causam danos para a criança. Há que democratizar a sala de aula. Torná-la um lugar participativo, cheio de paz.
Um “detalhe” importante para o sucesso do filme é de que ele foi financiado coletivamente (via crowdfunding) através de 704 pessoas, que se tornaram co-produtoras – e, também, divulgadoras espontâneas do material. O vídeo usa uma licença creative commons, que permite a reprodução desde que para fins não-lucrativos e compartilhamento pela mesma licença. É possível encontrar (e ajudar nas traduções) as legendas em vários idiomasaqui.
Dá pra assistir o filme completono YouTube – ali é possível selecionar as legendas. Se preferir, dá prabaixar também. Em semana de início de propaganda eleitoral na TV e rádio, fica a dica para lembrar que ensino público de qualidade deveria ser a prioridade de qualquer governo que defenda os interesses da maioria da população.
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