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Doença crônica de nossa cultura política – por Jorge Luiz da Cunha

Tenho repetido em aulas nos cursos de graduação e de pós-graduação, em palestras e conversas, que a corrupção é uma doença crônica de nossa cultura política, aqui no Brasil. Um sintoma da permanência das práticas políticas e administrativas do Brasil Colônia que marcam profundamente nossa história até o presente.

O fundamento principal do problema da corrupção é a confusão, que marca nosso imaginário social, entre o bem público e a propriedade privada.

Um problema que se manifesta nas práticas cotidianas de pseudo-cidadãos, que sujam, depredam, desrespeitam os espaços e os bens públicos. Que não cumprem as leis, as normas e as regras de convivência em lugares de uso comum.

A corrupção é uma característica da prática da maioria de nossos políticos que deveriam nos representar defendendo nossos interesses e nosso bem comum, mas que agem como se donos fossem da coisa pública. Votam e asseguram privilégios para si mesmos que vão desde a exorbitante remuneração, que de forma alguma corresponde à eficiência e eficácia de seu papel político. Representam na prática, quando empossados, seus próprios interesses ou os interesses de grupos e corporações que financiaram suas campanhas eleitorais.

De fato, entre nós, o povo, e entre aqueles que deveriam representar nossos interesses comuns, os políticos, há um comportamento que perpetua a cultura de corrupção que empobrece nosso presente e obscurece nosso futuro como sociedade e como nação.

Essa doença crônica também é reforçada pela péssima qualidade da educação que oferecemos para nossas crianças e jovens. A má qualidade da educação está intimamente vinculada a uma concepção errônea sobre práticas educativas adequadas.

Quem conhece e pensa a educação sabe que, com boas ou com más intenções, quando centramos o ensino na transmissão de informações e avaliamos os alunos por sua capacidade de reproduzir essas informações transmitidas pelos professores, formamos sujeitos que servirão muito bem para o mercado, sendo excelentes cumpridores de ordens e executores de tarefas. Aqui se vê, portanto, que com discursos doutrinários ou não, o resultado é sempre conservador. É por isso, que nossa educação, também contribui para a manutenção de nossas mazelas e problemas sociais, entre eles a corrupção.

A solução está em devolver para a educação a centralidade do conhecimento. Educar é usar nos espaços privados e públicos, familiares, escolares, a informação apenas como matéria prima das práticas educativas. Conteúdos que devem ser conhecidos, aprofundados, mas principalmente criticados de forma a estimular a produção de questões e perguntas e com elas a criação de respostas. Sujeitos submetidos a práticas sociais deste tipo tornam-se cidadãos de verdade, porque humanos de verdade. E essas gerações, assim educadas, podem nos ajudar a acabar com a doença crônica de nossa cultura política, tornando-nos melhores em um país melhor. Vai levar tempo, vai custar muito dinheiro e muito trabalho. Mas, é a única e durável solução que se apresenta.

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Um Comentário

  1. Patrimonialismo. Faoro. Ãhã.
    Sem entrar nos marxismos sociocontrutivistas de Paulo Freire e outros autores que conseguem parafrasear uns aos outros sem acrescentar nada de novo, o mundo mudou, mas algumas coisas não.
    Sujeitos cumpridores de ordens e executores de tarefas, verdadeiros robôs saídos de uma linha de montagem. Além de uma generalização, é um estereótipo. Parece que o pessoal da educação não conversa com o pessoal de RH da administração.
    Mercado? Sim, as pessoas tem que trabalhar. Alguém teve a brihante idéia há algum tempo de que a educação tem que "consertar" a sociedade e formar a cidadania, além de formar os profissionais. Merece os parabéns, não fazem nem uma coisa e nem outra.
    Um mínimo de informações têm "estar no sangue". São as ferramentas que fazem o sujeito matar os 6 dragões e os oito leões diários. Esta é a realidade de dentistas, engenheiros, advogados, médicos e muitos outros. Alguém tem que ficar no porão do navio e fazer o barco andar.
    A engenharia social epistemológica-socrática para acabar com a corrupção, bueno, óbvio que não vai rolar, é utopia acadêmica. A não ser que tenha acabado a compra de diplomas, compra de tcc's e a cola nas provas e não fiquei sabendo.

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