KISS. Kiko faz acusação ao Ministério Público, chama sócio de “malandro” e diz que prefeito deveria estar ali
Como já se previa nos bastidores, um dos quatro réus mais notórios do processo criminal da Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, se dispunha a falar. E a falar bastante. Se o que se supunha era isso,não há dúvida: ele correspondeu. Foram cerca de oito horas de audiência, no Fórum de Santa Maria.
Na presença de familiares das vítimas, defesa, acusação, magistrado e demais assistentes, Kiko falou muito. Entre outras coisas, fez acusações ao Ministério Público, que “deveria ter visto a espuma” (que acabou sendo agente da fumaça tóxica que matou a maior parte das vítimas), ao prefeito (que “deveria estar ali” com ele) e até usou uma linguagem que pode denotar divergência com seu sócio, e também réu, Mauro Hoffmann.
Um bom (e bem amplo) relato do que aconteceu desde quase 2 da tarde desta terça e só terminou após 10 da noite, pode ser conferido no material produzido pelo G1, o portal de notícias das Organizações Globo. A reportagem é de Hygino Vasconcellos, com fotos de Gabriel Haesbaert (acima) e de Reprodução (abaixo). A seguir:
“Sócio da Kiss diz que MP poderia ter visto espuma em fiscalização…
…O empresário Elissandro Spohr, o Kiko, reforçou que a espuma aplicada no teto da Boate Kiss era visível e poderia ter sido vista durante fiscalizações do Ministério Público. A declaração ocorreu no interrogatório dos réus, no Fórum de Santa Maria, na região Central do Rio Grande do Sul, na tarde desta terça-feira (1).
Spohr é um dos sócios da casa noturna que pegou fogo no dia 27 de janeiro de 2013 após o uso de um artefato pirotécnico no interior do estabelecimento. As chamas do material se alastraram pelo forro com a espuma, o que gerou uma fumaça tóxica com cianeto que matou pelo menos 234 das vítimas na casa noturna. Com isso, houve confusão e correria na tentaiva de sair do local. Ao todo, 242 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas.
Durante o depoimento, que durou mais de oito horas, o empresário disse que, com exceção do teto, tentou esconder a espuma até mesmo com cortinas em outros locais da casa. Entretanto, o material, segundo ele, poderia ser visto pelo MP. “Se olhou, eu não sei, mas deveriam ter olhado”, observou o advogado de Kiko, Jader Marques, ao questionar seu cliente. Spohr reforçou que ninguém dizia que não poderia utilizar o material.
O empresário destacou que, por quase dois anos, não teve conhecimento do Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público a pedido de moradores que viviam próximos a casa noturna devido o barulho no local. O procedimento foi aberto em agosto de 2009 e Elissandro Spohr destacou que só “teve conhecimento em 2011, quando foi chamado no MP”. Disse que, durante esse período, não sabia que a casa noturna estava irregular.
Jader Marques perguntou a Elissandro Spohr se ele duvidaria do alvará de inspeção expedido pelo Corpo de Bombeiros. “Por que eu duvidaria?”, devolveu a pergunta. O empresário explicou ainda que atrasou, por 21 dias, a renovação do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) em 2012.
Na terça (24) e quarta-feira (25), o juiz Ulysses Fonseca Louzada ouviu Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, respectivamente vocalista e produtor de palco da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na boate no momento que começou o incêndio. Eles também são acusados de homicídio e tentativas de homicídio com dolo eventual. Na quinta-feira (3) será realizado o depoimento do último réu no processo, Mauro Hoffmann, sócio de Kiko na boate.
“Deveria ter mais gente aqui comigo”
Durante o depoimento, no Fórum de Santa Maria Kiko, afirmou ainda que outras pessoas também deveriam estar no banco dos réus. “Cezar Schirmer (prefeito de Santa Maria) deveria estar aqui comigo”, disse. Poucos segundos depois, reforçou que não é assassino. “Eu posso dizer que não queria que isso acontecesse. Eu posso ter culpa, mas eu não sou assassino. Deveria ter mais gente aqui comigo”, alegou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul responsabilizou ainda em 2013 quatro bombeiros e isentou servidores da Prefeitura de Santa Maria no inquérito civil que apurava supostas irregularidades na concessão de alvarás para a boate Kiss. O prefeito Cezar Schirmer também foi excluído. A Prefeitura disse que já foi investigada e que nada foi comprovado que a responsabilizasse pela tragédia. O incêndio, em janeiro daquele ano, matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.
O processo criminal colocou como réus Kiko e o seu sócio Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Todos respondem por homicídio e tentativas de homicídio.
Ao ser questionado se tinha alguma maneira de salvar as pessoas após o incêndio, o empresário foi taxativo. “Se os bombeiros tivessem máscara para entrar, sim. Se tivessem treinamento e equipamento. Quando chegaram, eu pensei ‘vai terminar agora’, mas só piorou”, falou. Na sequência, o réu observou que, ainda na delegacia, comentou que os bombeiros “fizeram o que puderam”, mas que depois mudou de opinião e que, em sua visão, “eles não fizeram nada.”
Sócio da Kiss nega uso de fogos e pede acareação com músicos
Durante o inquérito, Kiko negou que sabia sobre o uso de artefatos pirotécnicos dentro da Boate Kiss. O réu solicitou ao juiz Ulysses Fonseca Louzada um acareação com os integrantes da banda que afirmaram que ele tinha ciência da utilização do material pela banda. “Eu não tinha conhecimento. Eu não vi e não tinham me pedido. Quero ver falar na minha cara (que permitia o uso)”, contestou.
Spohr disse que nunca viu show pirotécnico na boate Kiss, e que sua banda não utilizava. O empresário relatou que tocava na boate antes de adquirir a boate, por R$190 mil, e que, posteriormente vendeu 50% para Mauro Hoffmann, na época dono de uma outra casa noturna em Santa Maria.
Questionado pelo juiz se incentivava o uso dos fogos pelas bandas, ele também negou. “Chega a ser uma piada, juro pela morte da minha mãe. Não foi pedido para mim (do uso dos fogos)”, disse no depoimento.
Elissandro Spohr disse que a casa noturna tinha entre “sete ou oito” extintores, além de sinalização indicativa para caso de fogo. O juiz cita depoimentos que relatavam que Kiko “não gostava de usar extintores, por questão estética”. Spohr negou e disse que foi algo divulgado por uma ex-funcionária. “Ela falou isso para me desmoralizar”, rebateu.
O réu disse que estava no hall de entrada da Boate Kiss no momento do incêndio, resolvendo “um problema” com um rapaz embriagado. Em seguida, olhou em direção ao palco, mas não viu fogo. Logo depois, viu pessoas correndo. “Veio uma manada na minha direção”, contou. Ele relatou que foi prensando em direção a um táxi que passava pelo local. O veículo, segundo Kiko, chegou a atropelar algumas pessoas que saíam da boate.
Ao olhar para dentro da casa noturna novamente, o empresário diz que viu uma nuvem de fumaça saindo para fora. “Quando olhou para o palco, viu alguém da Gurizada (Fandangueira, banda que se apresentava quando iniciou o incêndio)?”, questionou o juiz. Kiko relatou que só viu uma movimentação.
Kiko nega boate lotada e chama sócio de “malandro”
Spohr imaginava que a festa seria “bem falhada”, por ocorrer em um período de férias. Disse que para uma festa estar “bombada” deveria ter 800 pessoas dentro da Kiss, número considerado bom para circulação e consumo, segundo o empresário. “Nós tínhamos uma ideia pelo conforto, na nossa cabeça era 800 pessoas, ninguém vai numa festa com 500 pessoas.”
Ao juiz, o réu negou que casa noturna estivesse com mais de mil pessoas quando começou o incêndio. Disse ainda que só foram feitas duas reformas na Kiss, e que o restante foram obras de manutenção, como pintura ou troca de móveis estragados.
O empresário relatou ainda um lucro variável, por festa, entre R$ 18 mil a R$ 20 mil. “E bruto?”, questionou o juiz. “Tinha um custo fixo de R$ 7 mil a R$ 9 mil, mas dependia da festa, da banda, se tinha cortesia até meia noite”, respondeu. O réu relatou que tinha um lucro mensal de R$ 15 mil, além do salário.
Durante o depoimento, Kiko disse que Mauro Hoffmann “era malandro”, o que causou um burburinho dentro do Fórum. “Ele ia na quinta-feira tirar as coisas para levar para o Absinto (casa noturna que Mauro era dono)”, observou.
“Tu não confiava nele?”, questionou o juiz. “Eu não tinha o que confiar, tudo estava comigo. Tudo estava anotadinho”, observou o empresário. “Eu disse para ele: ‘Cuida do teu bolicho que eu cuido do meu.’ Era um trato que eu tinha com ele. Mauro sabia tudo que seria feito, inclusive obras”, relatou.
O empresário também negou que os funcionários da Boate Kiss fecharam as portas para evitar a saída das pessoas após o incêndio, apesar dos relatos. Observou que eram só um homem e uma mulher que atuavam na portaria e que não conseguiriam conter tanta gente…”
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Aguardando repercussão bombástica na Imprensa Chapa—Branca.