Por HELENA CHAGAS, originalmente publicado no portal Fato Online (*)
É hora de decretar luto, pois a morte do “Lulinha paz e amor” foi confirmada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sábado à noite, no aniversário do PT. Será enterrado aquele sujeito conciliador e afável que ampliou sua base de apoio caminhando para o centro, fez a Carta aos Brasileiros, conquistou a presidência em 2002, manteve os fundamentos da economia quando necessário e comandou a maior transformação social do pais nas últimas décadas. Foi também esse “Lulinha paz e amor” que escapou do Mensalão, reelegeu-se em 2006 e fez a sucessora. Não se sabe quem entra em cena agora. O sindicalista barbudo e mal humorado ficou no passado remoto. O mito campeão de popularidade que saiu do Planalto também não está mais aqui.
Reencontrar seu novo ego, porém, é um problema de Lula. Mas o impacto da radicalização do PT – que já vinha se desenhando há semanas, mas agora se confirma clara e oficialmente – talvez seja hoje o maior problema da presidente da República e dos petistas que estão no governo. Tão grave quanto os desdobramentos da Lava Jato, que na semana passada prendeu o marqueteiro João Santana e está na origem da crise e do desgaste do PT.
A chance de sobrevivência política de Dilma Rousseff hoje seria emitir sinais, via Congresso, de que a economia voltará aos trilhos, com a aprovação de projetos do ajuste fiscal e reformas estruturais como a da Previdência. Ainda que com muito esforço, teria como obter para isso apoio de parte do PMDB e até de franjas responsáveis da oposição tucana – não parece, mas ela existe. Mas o Planalto só teria esses votos pró-reformas se garantisse, antes disso, o apoio de seu próprio partido.
Sem o PT, nada feito. E as resoluções aprovadas no congresso petista deste fim de semana – incluindo um plano econômico com sinal trocado em relação a tudo o que o governo está fazendo – confirmaram o que já se desconfiava: o PT vai mandar para o espaço o ajuste fiscal de Dilma, aquele que, conforme notamos no parágrafo anterior, representaria a chance de salvação de um governo extremamente frágil.
Todos sabemos que a receita do PT não é mesmo corte orçamentário, ajuste de contas, mudança nas aposentadorias. É injeção de crédito na veia, aumento da taxação dos ricos, mais e mais dinheiro nos programas sociais, utilização dos recursos das reservas internacionais para sair da recessão. Não são sugestões novas nem incoerentes com o modo petista de pensar. Mas há um detalhe: nos 13 anos em que esteve no poder, o partido não abriu mão delas, mas soube guardá-las na gaveta sempre que foi politicamente conveniente. Lula fez seu ajuste fiscal quando precisou.
Seria o caso de se imaginar agora se salvar um governo do PT não seria uma conveniência política para o PT. Espantosamente, parece que não, pelo que se vê da carga do partido contra o Planalto nas últimas semanas. “A pauta da presidente vai contra a gente, resumiu candidamente o senador Lindbergh Farias (RJ), muito ligado ao ex-presidente Lula, em entrevista ao Estado de S. Paulo neste domingo.
Ao longo dos últimos dias, a temperatura já vinha subindo. Petistas haviam declarado que são contra a reforma da Previdência, criticado o ministro Nelson Barbosa pela “falta de ousadia”, amaldiçoado o inevitável acordo do Planalto em torno do projeto que tira a obrigatoriedade da Petrobras na exploração do Pré-Sal e exigido um cavalo-de-pau na política econômica – coisa que, obviamente, a presidente não pode fazer.
O congresso do PT, ao qual Dilma não foi, só confirmou o afastamento. Apesar das palavras de Lula em defesa do mandato de Dilma, o resumo dessa ópera ficou muito claro: a maioria do PT está desembarcando do governo, ou, no mínimo, deixando em segundo plano a sobrevivência de uma presidente com altos índices de impopularidade.
O mais importante, para esses, é o discurso eleitoral, quem sabe até numa situação de oposição, e a disputa que seu líder maior levará para as ruas com o apoio daqueles 20% ou 30% que estão com ele desde que era um sindicalista mal humorado, nos tempos pré-paz e amor. Preferem se arriscar a ver os dois pássaros do futuro (em 2016 e em 2018) voando a manter o passarinho de asa quebrada (o governo Dilma) que já tem nas mãos.
É, portanto, um equívoco dizer que a presidente, por conta das acusações da Lava Jato, é que está se afastando do PT. Não é Dilma que vai sair do PT, é o PT que está saindo de Dilma. A presidente e seus próximos sabem que, rompida com seu partido, não lhe restará mais nada.
Não serão o PMDB e as oposições a sustentar um governo de salvação nacional de Dilma até 2018. Se for para fazer esse tipo de arranjo, que seja sem intermediários, pensam os peemedebistas. É óbvio que vão correr para tentar aprovar o impeachment e colocar Michel Temer no Planalto caso percebam que Dilma perdeu de vez o apoio da base social petista, antes que o Tribunal Superior Eleitoral tenha tempo de cassar a chapa da presidente e do vice por supostas ligações entre o Petrolão e o financiamento da campanha de 2014.
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(*) HELENA CHAGAS é jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982. De lá para cá, trabalhou como repórter, colunista, comentarista, coordenadora, chefe de redação ou diretora de sucursal em diversos veículos, como O Globo, Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil (EBC). Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República de janeiro de 2011 a janeiro de 2014.
Realmente não gosto do PT e nem de petistas, mas será que não é hora dos partidos em geral apoiarem a Dilma só pra quebrar definitivamente Lula e seus ladrões?
Bem pelo que li o PT, quer salvar a pele transferindo a responsabilidade para Dilma, claro que não queremos mais imposto, mais se o Lula não se acompanhasse deste bando de ladrão, o pais não estaria assim, e agora não adianta mais pois o PMDB e os partidos da base que estão mandando no pais,para salvar a presidenta que acho que é uma pessoa honesta, mais para acobertar falcatrua esta nessa situação.