A garota do cartaz e os monstros pré-históricos – por Bianca Zasso
A produtora inglesa Hammer marcou os anos 60 por lançar releituras de clássicos do terror produzidos pelo estúdio americano Universal na década de 30 e 40. Drácula e Frankenstein ganharam outra vez os cinemas em cores vivas e cercados de muito sangue e garotas em trajes mínimos.
Em 1994, uma homenagem discreta e inteligente foi prestada à Hammer no filme Um sonho de liberdade, de Frank Darabont, quando o personagem de Tim Robbins decora sua cela com um cartaz de uma bela garota usando um biquíni exótico. Era Rachel Welch descobrindo o sucesso no longa Mil séculos antes de Cristo, que chega em DVD no Brasil pela Obras-Primas do Cinema.
Dirigido com competência por Don Chaffey e lançado em 1966, o filme foi uma aposta da Hammer para atingir os fãs de ficção científica, mais precisamente os apaixonados por filmes de dinossauros, um subgênero crescente naqueles tempos. A história é simples, trata-se de um remake de uma produção de 1940 estrelada por Victor Mature (que no Brasil ganhou o título O despertar do mundo), onde o protagonista é Tumak, um homem pré-histórico pertencente a Tribo das Rochas.
Após desentender-se com seu pai, é expulso do bando e passa a vagar pelas redondezas até ser acolhido pela Tribo das Conchas depois de defendê-los do ataque de um dinossauro. Entre os moradores agradecidos pela coragem de Tumak, está Loana, que acaba se apaixonando pelo troglodita e lhe trazendo um pouco de civilidade, já que a Tribo das Conchas parece mais evoluída em suas regras que a Tribo das Rochas.
Ao iniciar sua volta para casa, Tumak precisa enfrentar mais inimigos de proporções amedrontadoras. Aí começa a magia. Os animais enormes que habitaram nosso planeta um dia são recriados pelas mãos talentosas de Ray Harryhausen, responsável pelos efeitos especiais utilizando a técnica stop-motion.
Mais que reproduzir as formas dos dinossauros, Harryhausen dá vida às criaturas, criando um resultado que impressiona até hoje, onde vivemos um tempo de muita computação gráfica e pouca arte. A cena em que Loana é “sequestrada” por um pterossauro e levada até seu ninho para servir de jantar dos seus filhotes é uma das melhores de Mil séculos antes de Cristo.
As boas atuações, a direção de arte e os bonecos de Ray Harryhausen compensam a falta de pesquisa histórica, já que a Hammer estava mais interessada em explorar efeitos especiais e o belo decote de Rachel Welch do que explicar ao mundo como era a vida num período tão longínquo.
O filme de Don Chaffey é uma diversão saudável, daquelas que deixam o fim de semana mais leve e ainda faz pensar. Sim, porque o final de Mil séculos depois de Cristo é enigmático e faz o espectador refletir se não há uma mensagem mais profunda do que o simples passatempo de admirar monstros gigantes na tela grande. Enquanto o enigma não é revelado, seguimos em frente, colando cartazes com as belas formas de Rachel Welch na parede das nossas cavernas.
Mil séculos antes de Cristo
Ano: 1966
Direção: Don Chaffey
Disponível em DVD pela Obras-Primas do Cinema
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