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Quanto tempo dura no cargo o quarto ministro da Saúde em 26 meses e alguns dias? – por Carlos Wagner

A ideia que dá é que o cardiologista Marcelo Queiroga, 55 anos, fará uma foto sendo nomeado ministro da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e logo a seguir pegará as suas coisas e sairá correndo porta afora sem olhar para trás. O rolo é muito grande. Ele assume no momento em que estão morrendo diariamente quase 3 mil brasileiros pela Covid-19. Os sistemas hospitalares público e privado em 25 dos 27 estados entraram em colapso e centenas de pessoas estão sendo empilhadas nos corredores à espera de uma vaga na UTI. Só há estoque para 20 dias dos remédios usados para intubação dos pacientes. A vacinação acontece a conta-gotas devido a falta do imunizante. E a cereja do bolo: Bolsonaro segue firme na sua saga de negacionismo sobre o poder de contágio e de letalidade do vírus.

Queiroga assumiu no lugar do general da ativa do Exército Eduardo Pazuello na segunda-feira (15/03). Tem dito nos seus pronunciamentos públicos que veio para seguir as normas da ciência no combate à pandemia e recomenda união de todos para resolver o problema. A pergunta que nós jornalistas nos fizemos é a seguinte: em que planeta estava Queiroga antes de assumir a Saúde? O barco está afundando. Uma pesquisa da capa do jornal Folha de São Paulo (19/03) diz que 79% da população brasileira acredita que as autoridades perderam o controle da pandemia. Não é hora de discutir a relação. Mas de apresentar soluções. Ele tem noção disso. Tanto que falou que não tem uma varinha de condão para resolver os problemas. Enquanto a vacinação não deslancha, a única saída que existe é o isolamento social. Ontem (18/03), o presidente da República entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o poder dos governadores e prefeitos de fecharem o comércio para evitar aglomeração de pessoas. Se o presidente ganhar no STF cai a última barreira de enfrentamento ao vírus, que é o isolamento social.

Para o novo ministro da Saúde colocar as suas ideias em prática ele terá que enfrentar a fúria de Bolsonaro e das milícias digitais que são vinculadas ao Gabinete do Ódio, um grupo de pessoas que cercam o presidente, entre eles os filhos parlamentares Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. Queiroga não tem bala na agulha para esse enfrentamento. “Bala na agulha” é um dito popular que significa poder. Não é opinião. Está escrito no que temos publicado. O novo ministro parece estar deslumbrado com o cargo. E não está enxergando ao seu redor. Ele acredita que, pelo fato de cumprir uma política de saúde traçada pelo presidente, ficará isento de qual0quer responsabilidade jurídica. O ex-ministro Pazuello transformou o negacionismo do presidente em uma política de governo que resultou nessa confusão em que os brasileiros estão metidos. Alguém tem que lembrar a Queiroga que ele falou que daria continuidade à administração de Pazuello. Isso significa a execução de uma política genocida em relação ao vírus.

Não precisa ser um gênio do direito para saber que todo esse rolo vai acabar em um tribunal internacional. Já são 280 mil brasileiros mortos pelo vírus. O presidente usou Pazuello como boi de piranha – nos rios do Pantanal, os vaqueiros atravessam um animal longe da tropa para atrair os peixes carnívoros. Atirou no colo do general toda a bronca e o demitiu. Queiroga também vai ser usado como boi de piranha. O estranho de toda essa situação é o silêncio dos Generais do Bolsonaro, como são chamados os 6 mil militares que fazem parte da máquina administrativa do governo federal. Eles sabem que a emergência sanitária do país virou uma grande bagunça. Também sabem que vão ser apontados como fiadores de uma política genocida. No entanto, estão quietos. Pelo menos em público. Oficialmente ficaram longe do processo de escolha do substituto de Pazuello. A única declaração em público foi do vice-presidente da República, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão, que disse que o presidente é o responsável pela política de saúde. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, homem de confiança de Bolsonaro, que havia indicado a médica Ludhmila Hajjar para cargo que acabou ocupado por Queiroga, também está quieto. As duas únicas vozes que se ouvem hoje (19/03) no governo são as palavras de deslumbramentos do novo ministro da Saúde e os palavrões de Bolsonaro. Será que tem gente cochichando pelos cantos e nós jornalistas não estamos ouvido?

*Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos WagnerCrédito da fotoFábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil.

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6 Comentários

  1. Mourão está certo, politica de saúde é responsabilidade do Cavalão. Só tem um problema, politicas publicas tem histórico de não terem seus efeitos avaliados no Brasil. Resultado é que são para inglês ver na maioria dos casos. Segundo, não é um documento assinado em BSB que vai acabar com aglomerações clandestinas por exemplo. Mais do que óbvio.
    Cavalão tem seus pecados e tem que pagar por eles. Mas não é possível concentrar toda responsabilidade nele porque muita gente sairia com lombo liso. Sujeito vai para aposentadoria e a manada de incompetentes interesseiros fica. Bem simples.
    Resumo da ópera, sistema se encaminha a passos largos para uma ruptura, jornadas de 2013 tendem a se repetir.

  2. Genocida, genocida, genocida. ‘Gastaram’ mais uma palavra. Vai ter gente querendo transformar em nome de filho ou filha.
    Não existem 6 mil generais no governo, óbvio. Justificativas mais óbvias, confiança, trabalham, acatam ordens. Substituem os funcionários que cruzaram os braços por não concordarem com o atual governo. Principal fator nesta história, entraram os militares e ninguém da população que eu conheça notou a diferença a não ser no texto dos jornais.
    Lira e o Centrão querem o orçamento do ministério. Vermelhinhos apoiam, discurso da volta da corrupção, do loteamento de cargos, do tudo é mesma coisa, do roubaram mas todo mundo mete a mão vai aparecer.

  3. Pesquisas como sempre não dizem muito. Classe politica, não só Cavalão, tem um problema sério. Existem muitos erros na condução da pandemia.
    STF não vai derrubar barreira nenhuma. Entendimento é competência concorrente entre União, estados e municípios. De cima para baixo só é possível fechar mais, de cima diretrizes gerais e embaixo situações especificas. Eleitoreira a medida. Corta o discurso do genocídio, genocida que só faz falar não mata ninguém. Ecoa no pessoal que está na pua econômica. Resta o chavão do ‘exemplo’, que é bobagem. Ninguém começou a usar mesóclise, estocar vento ou beber mais do que o habitual só porque mudou o mandatário. Como diria Freud, simbólico é o K7.
    Imagem da 25 de março agora de manhã, cidade fechada e repórter vai mostrar a ‘falta de movimento’. Bem abaixo do normal, mas numa esquina um grupo de motoqueiros de tele-entrega aglomerados, todos sem mascara.

  4. União de todos para resolver o problema nesta escala é coisa de gente com problemas cognitivos.
    Problema que não tem solução solucionado está. O que defendem os vermelhinhos, com a habitual capacidade intelectual? Fiquem todos encerrados em casa e depois o governo central, á lá URSS, fara com que o atual presidente comece a por ovos de ouro (como a galinha) e está tudo certo. Não haverá descontentamento, ninguém vai perder o emprego, não vai haver desabastecimento e ninguém mais vai ficar doente. Toda chance disto acontecer.

  5. Quando fritava-se Pazuello já se sabia que assim que assumisse novo ministro duas coisas aconteceriam, a critica pela mudança constante e a fritura do novo ministro. Objetivo não é resolver problema nenhum é eleitoreiro.
    Ministério da Saúde tem o que os americanos chamam de ‘deep state’, famoso imperium in império. Facções politicas, pelo menos duas, e um contingente de neutros. Quando um governo que desagrada alguns sobe, parte dos servidores não se esforça muito (ou seja, menos do que o habitual). Estabilidade permite isto. Outro fator, compartilhado com outros setores, é uma burocracia insana, lotado de aspones.

  6. Fora do círculo cavalista e do circulo molusquista pouca gente presta atenção no que Cavalão faz ou deixa de fazer. Dentre os motivos que se pode apontar o mais importante é que tem muita gente de ‘saco cheio’. Segundo aspecto, quem só faz falar e produzir texto acha falar e produzir texto muito importante. Só que falar até papagaio fala e produzir texto nos dias de hoje está longe de ser atividade relevante, estamos na era do vídeo.

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