Marilyn de verdade – por Bianca Zasso
Basta dar uma volta na rua para notar que filmes e personagens estão estampados das mais variadas formas em camisetas e outros produtos. Um dos rostos mais reproduzidos em objetos mundo afora é de uma loira mágica. Tão mágica que conseguiu não deixar transparecer em seus personagens suas tantas angústias.
Marilyn Monroe aparecia na tela, dava uma piscadela, atirava um beijinho e o público suspirava. Sua vida pessoal sempre foi acompanhada de perto pela mídia mas só após sua morte foi que publicações tentaram desvendar quem era Norma Jean, a mulher por trás da deusa do cinema. Uma delas é um diário. Mais precisamente, as páginas que foram arrancadas dele.
Sete dias com Marilyn, dirigido por Simon Curtis, tem como base de seu roteiro a biografia O príncipe, a vedete e eu, do produtor de cinema Colin Clark. Aos 23 anos, filho de uma família rica e apaixonado por filmes, ele resolve procurar emprego em um estúdio. Depois de muita perseverança, consegue a vaga de terceiro assistente de direção. Um belo nome para uma função que consiste em dar recados e cuidar do elenco.
Sua primeira experiência é ao lado de Sir Laurence Olivier, um dos maiores atores ingleses, que vai dirigir e atuar na comédia O príncipe encantado dividindo a cena com a grande estrela Marilyn Monroe. A escolha não foi pensada apenas para atrair o público, mas também porque Olivier, como o resto dos homens da terra naqueles tempos, tinha uma paixão pela atriz. E ela chega para as filmagens cheia de exigências, acompanhada de sua professora de interpretação Paula Strasberg e do novo marido, o dramaturgo Arthur Miller.
O que se segue são atrasos, crises que surgem no meio da realização das cenas e desespero geral do diretor. Colin Clark, que estava quieto no seu canto, ganha os holofotes ao conquistar a confiança de Marilyn e tornar as coisas um pouco mais fáceis no set. Digo um pouco porque logo o apoio torna-se romance. Os sete dias aos quais se refere o título não estavam presentes na edição original do livro de Clark. Décadas depois de seu falecimento, a semana idílica e reveladora foi apresentada ao público, em uma nova versão do livro.
Sete dias com Marilyn tem como atrativo principal a presença cativante da atriz Michelle Williams no papel da musa. Além da semelhança física obtida pela equipe de maquiagem e figurino, Michelle mostra ter mergulhado no estudo de personagem e encontrado o ponto certo para reproduzir gestos icônicos sem ser caricata. No entanto, ela brilha mesmo ao interpretar a Marilyn que não se apresentava em frente às câmeras: solitária, carente e infeliz no casamento e com sua performance.
Os desabafos feitos ao novo amante são intensos e fazem pensar sobre como pesava sobre os ombros de Norma Jean a persona Marilyn Monroe. Eddie Redmayne, apesar de conduzir a história, surge coadjuvante ao olhar do espectador. Passa boa parte da trama aparentando ser mais um rapaz apaixonado por Marilyn para no final demonstrar um sentimento mais profundo quase como um passe de mágica. Talvez seja implicância desta colunista ou apenas a força da dedicação de Michelle Williams falando mais alto, já que consegue também a proeza de fazer sombra ao ótimo Kenneth Branagh, que dá vida a um engraçado Laurence Olivier.
Impossível saber até que ponto os dias de carinho entre Clark e Monroe foram da forma como estão descritos no livro. A construção do roteiro é tradicional, mais preocupada em contar os fatos que se aprofundar nas amarguras de seus participantes, em especial a protagonista. Sete dias com Marilyn poderia ser um bom especial para a TV; a tela grande parece pretensão demais para um filme com boas atuações que vão até a página dois. A sensação que fica é que a cena foi cortada no seu auge e que a próxima está ali para quebrar o clima triste que muitos não querem associar a uma das mais sedutoras mulheres do cinema.
O diário pode até ser do senhor Clark, mas o filme podia se tornar grande se investisse mais nos momentos em que Marilyn se mostra inteira, chorando na escada após ler as anotações de seu marido escritor ou triste por todos admirarem suas curvas e não seu talento. A Marilyn humana, a que se esconde dentro do belo corpo e rosto que a vida lhe deu e que parecia sempre chegar antes que ela a qualquer lugar.
Sete dias com Marilyn (My Week with Marilyn)
Ano: 2011
Direção: Simon Curtis
Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix
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