Duelo de titãs – por Bibiano Girard

No livro “Senhor dos Anéis – A sociedade do anel”, por volta do ano 3019, leitores e personagens da famosa Terra Média são trazidos ao encontro das Argonath. Também conhecidas em língua comum como Portão dos Reis, as duas estátuas lado a lado são um dos monumentos mais emblemáticos de todo livro, e cabe ao leitor, junto a Aragorn, descendente de Elendil, segurar a emoção quando cruzamos, de barco, o meio das estátuas, pelo rio-caminho que serpenteia as duas monstruosidades de pedra.

Eu, quando criança, no entanto, antes mesmo de conhecer a Terra Média, tinha o prazer infantil de pedir a meu pai que cruzasse “o buraco do Calçadão” de carro. Ali eu viajava entre semoventes apressados, naquele rápido instante de escuridão e surpresa. Do outro lado, erguiam-se duas colunas imponentes, como se tivessem sido construídas para duelar a eternidade. Uma de frente para a outra, tesas, ambas cheias de gente.

De peito inflado, aqueles dois edifícios me davam certa emoção pueril. Eu, guri do interior, achava o máximo. Depois de crescido, já morador de Santa Maria, acabei conhecendo o Edifício Taperinha (e seu vão central com vista para toda cidade) e o Edifício Província, que carrega por seus corredores toda a imponência de épocas de grandes construções.

Estão ali, enfrentando-se no mais pacífico dos duelos, dando ao Centro o seu portal de entrada ou de saída. Para todos aqueles que cruzam o “buraco do Calçadão”, seja de ônibus, de carro, de moto ou de carroça, resta a pequena emoção do dia: dar de cara com dois titãs à espera do tempo.