Coluna

Aposta alta – Bianca Zasso

THE BIG SHORTFazer um filme que tenha comédia, seja baseado em fatos reais e complexos, juntar um bom elenco e ainda romper a quarta parede, sem esquecer das referências pop. Tem cara de exagero de produtor, mas parece que foi isso que aconteceu nos preparatórios de um filme que chegou aos cinemas carregando o peso de ser um dos favoritos ao Oscar, com seis indicações. Acabou levando para casa a única que merecia, a de Melhor Roteiro Adaptado.  A grande aposta, meus caros, vale milhões, mas apostou usando um baralho viciado.

Com direção de Adam McKay, que já havia mostrado seu feeling para comédia nos longas O Âncora e Quase Irmãos, A grande aposta poderia ter feito seu público rir do início ao fim do filme, não fosse a base de sua trama. Inspirado no livro escrito por Michael Lewis, a história do pouco ortodoxo empresário Michael Burry, interpretado com segurança por Christian Bale, que arrisca investimentos ao perceber que o sistema imobiliário dos Estados Unidos irá quebrar em breve, tem seus momentos cômicos baseados na desgraça alheia, a começar pelo protagonista.

Longe do estereótipo de investidor de terno e gravata, Burry faz seus cálculos de bermuda, camiseta e ouvindo heavy metal no volume máximo. Os coadjuvantes, que não interagem diretamente com Burry, mas sofrem as consequências de suas apostas e informações, também estão em períodos nada agradáveis de suas vidas. As atuações de Steve Carrell, Ryan Gosling e até a breve participação de Brad Pitt (que também é produtor do longa) merecem a atenção do espectador. O problema é que a diversão para por aí.

bianca-bDas piadas dispensáveis em alguns diálogos até a presença de Selena Gomez no papel de si mesma para  falar de uma questão financeira, A grande aposta torna-se um bom filme que quer ser uma boa comédia a qualquer custo. O artifício de romper a quarta parede e colocar os personagens explicando como funciona o complicado modelo imobiliário norte-americano diverte, mas acaba tornando as cenas que deveriam ser mais humanas, onde conheceríamos os homens por trás dos investidores, rasas e incompletas. Óbvio que a coragem de escancarar na tela uma das maiores crises financeiras já vividas pelos Estados Unidos merece aplausos, mas A grande aposta poderia ter se deixado levar pelo talento para o nonsense de McKay ou então assumir um tom mais sério com convicção (mas sem provas, como alguns fazer por aqui, na terra brasilis).

No fim das contas, A grande aposta é um bom filme e um bom registro de uma época, mas que poderia ter se tornado um clássico se tivesse encontrado seu norte e sido fiel à ele. Não estou dizendo que não é possível realizar uma boa história se valendo de misturas de gêneros ou técnicas, mas no caso específico de A grande aposta, traçar um caminho e segui-lo sem atalhos, é necessário. Talvez tudo isto que esta colunista escreveu seja apenas uma pilha de bobagens e, daqui algum tempo, ela reveja o filme e se arrependa de cada linha. Podem crer que terei prazer em me redimir ou continuar firme com a minha opinião atual. Afinal, viver é apostar alto e pagar o preço nem sempre justo.

A grande aposta (The big short)

Ano: 2015

Direção: Adam McKay

Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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