As portas abertas de Moana – por Bianca Zasso
Que atire a primeira boneca a mulher na faixa dos 30 anos que, em alguma fase de sua infância, não se identificou com uma princesa criada pelos estúdios Disney. Só que basta chegar à vida adulta para nos darmos conta que a identificação não era assim tão grande. Afinal, quantas meninas loiras, magras e que sonham com um homem em um cavalo branco para salvá-las deste mundo cheio de perigos? Esta humilde colunista espera que sejam poucas ou nenhuma.
Aurora, Ariel, Jasmine, Bela e Cinderela moram em nossas memórias, mas já não podem ser o exemplo para a geração que está chegando, bem mais esperta que a nossa. Ainda bem que 2017, mesmo com Trump e Temer no poder, nos deu de presente uma líder com alma libertária e força física e emocional.
Moana – Um mar de aventuras chegou aos cinemas carregando o título de primeira “princesa sem príncipe” da Disney. Vamos esclarecer: Moana não é uma princesa (isso está presente nos diálogos, inclusive), mas a filha do líder de uma comunidade da Polinésia que, ao chegar à adolescência, se prepara para assumir o posto do pai. Esqueça a história do filho homem criado para ser rei. Ninguém questiona o fato de Moana ser menina para assumir a responsabilidade de liderança.
Mas vamos ao conflito da nossa guerreira: mesmo feliz em comandar seu povo, Moana sente uma atração forte pelo oceano, em conhecer o que é além dos recifes, lugar proibido para os habitantes da ilha, o que gera conflitos da garota com seu pai. Mal sabe ela que o próprio oceano a escolheu para realizar uma tarefa que vai mudar sua vida.
Ela precisa encontrar o semideus Mauí para que ele devolva o coração da deusa Te Fiti e faça a vida brotar novamente na comunidade, assolada pela falta de frutas e peixes. Depois de um período de dúvidas típico da idade (Moana tem 16 anos, segundo a sinopse oficial), a garota, apoiada pela mãe e a avó, sai pelo oceano Pacífico atrás de respostas. Começa a aventura. E das boas.
Não bastasse a protagonista inovadora, Moana – Um mar de aventuras também surpreende nas questões técnicas e de construção de roteiro. A qualidade técnica do longa-metragem de animação é inquestionável, com destaque para a textura da pele e dos cabelos dos personagens, além da paisagem paradisíaca.
As canções, sempre presentes nas produções Disney, ajudam a construir a imagem do personagem diante do público, como acontece na primeira aparição de Mauí, explorando a autoestima elevada do semideus. O alívio cômico é inteligente, com o galo Hey e as tatuagens interativas de Mauí, fugindo do “bichinho bonitinho e engraçado”, já que o galinho parece ter um distúrbio de comportamento e as marcas no corpo sabem bem dos defeitos de seu dono.
Aliás, as tatuagens são um ponto importante para o povo de Moana, algo que é apresentado de maneira natural, já que estamos numa cultura onde os desenhos corporais não são apenas adorno, mas algo importante e que visa proteção para guerreiros.
Moana é a filha do chefe e sua base é a família e o seu povo. Sua autonomia não está apenas em tomar decisões, mas em comandar canoas, nadar, pular de um lado para o outro, empurrar pedras, quebrar barreiras. Ela sua a camiseta e prende o coque, já que seu cabelo é rebelde, como o de qualquer menina feliz. Quando pede ajuda, não é para ser carregada nos braços, mas para dar nós e içar velas.
Moana – um mar de aventura não veio apenas para ser mais um sucesso de bilheteria da Disney, mas para abrir portas, por ondem saem as princesas e entram as heroínas. Nossas meninas não vão deixar de brincar de boneca ou dançar com seus vestidos rodados. Apenas vão trocar o sonho do príncipe por algo que realmente importa: a liberdade.
Moana – Um mar de aventuras (Moana)
Ano:2017
Direção: Ron Clements e Don Hall
Em cartaz nos cinemas
O que Trump e Temer têm a ver com esse assunto?