Anita e Francesco – por Bianca Zasso

O ano de 2014 foi pesado para os cinéfilos. Isso porque foram muitos os diretores, atores e técnicos que partiram. Entre os pedidos de ano novo dos amantes de cinema, com certeza, estava um ano com menos perdas e mais novidades empolgantes. Mas 2015 apenas começou e já nos levou dois grandes nomes.

O diretor italiano Francesco Rosi faleceu no último sábado, dia 10 de janeiro, em Roma. Um dos grandes nomes do cinema político da Itália, Rosi foi responsável por obras-primas como As mãos sobre a cidade, um dos melhores retratos da corrupção já vistos na tela grande, além da belíssima adaptação a ópera de Bizet, Carmem, lançado nos anos 80 e estrelada por Plácido Domingo. Aos 92 anos, Francesco Rosi não produzia desde os anos 90, mas continuava um dos grandes nomes de sua geração, principalmente por conseguir unir denúncia e poesia em seus filmes.

A outra perda era um furacão. Isso porque era impossível ficar imune ao charme e a beleza de Anita Ekberg. A loira sueca passou de miss à estrela de cinema graças a suas formas generosas e, mais do que tudo, o poder de sedução de seus gestos. Mulheres bonitas o cinema tem de sobra, mas com o brilho hipnótico de Anita são poucas. Por mais que tenha atuado em várias produções, como sua participação no épico Guerra e Paz, de King Vidor, o mundo vai sempre se lembrar dela como a moça embriagada que se banha na Fontana Di Trevi na noite romana. A cena do filme A doce vida, de Federico Fellini tornou-se uma das mais famosas do cinema italiano. Fellini merece créditos, mas sem Anita o clima não seria o mesmo.

Em semana de entrega do Globo de Ouro e suspeitas de suborno dos produtores, é de se pensar o fato de que mesmo produções ousadas e independentes estão apelando para terem em seus cartazes algumas estrelinhas e prêmios, enquanto ícones como Anita e Francesco viveram seus últimos momentos afastados dos holofotes. Caso do longa Boyhood, do cineasta Richard Linklater vem chamando a atenção nas premiações mais por ter levado 12 anos para ser finalizado do que pelo enredo que, na humilde opinião desta colunista, é fraco e esquecível. Que voltem os bons tempos e as boas histórias.