MINISTÉRIO. Versões de Serra e Padilha para deixar cargos abalam governo Termer, numa semana quente
Por HYLDA CAVALCANTI (Rede Brasil Atual), publicada na noite de sexta, 24, no jornal eletrônico Sul21
As notícias de demissão do ministro das Relações Exteriores, o senador José Serra (PSDB-SP), por problemas na coluna, na noite de quarta-feira (22), e de licença do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, hoje (sexta, 24) para fazer uma cirurgia na próstata, repercutiram amplamente nos três poderes. Principalmente, pelas versões desencontradas que envolvem estas informações e mostram mais uma grave crise no Executivo federal.
Padilha, que já teve problemas anteriores de pressão e estafa, anunciou a cirurgia na noite de ontem, pouco depois de ter tido seu nome envolvido em denúncias feitas pelo advogado José Yunes. A acusação de Yunes, feita na Procuradoria-Geral da República (PGR), é que Padilha teria lhe pedido, em 2014, que recebesse um pacote de documentos no seu escritório, em São Paulo. Esse pacote, suspeito de ter dinheiro para pagamento de propinas, teria sido entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, que, conforme o advogado, “teria sido usado como mula” pelo atual ministro da Casa Civil.
No Palácio do Planalto, foram feitas tentativas de afastar, ao máximo, o trânsito de repórteres pelos gabinetes – o que, aliás, foi determinado oficialmente, dias atrás. Perdura, também, preocupação por parte de servidores de nada comentar e evitar vazamentos sobre agenda do ministro da Casa Civil prevista dias atrás para esta sexta-feira (devidamente cancelada), bem como decisões tomadas por Padilha em reuniões das últimas semanas.
Mas são duas as versões que circulam em relação à situação de Eliseu Padilha, segundo parlamentares e assessores próximos. A primeira é que, embora tenha feito exames na próstata na última segunda-feira (20), o ministro não tinha falado em cirurgia até poucos minutos da divulgação das declarações de Yunes.
Outra é que é grande a possibilidade de ele não retornar mais ao cargo, diante da metralhadora giratória disparada em sua direção. E a cirurgia, que não seria um procedimento de emergência e poderia aguardar mais alguns meses, terminou se tornando uma alternativa providencial.
Por outro lado, a declaração de Yunes é computada como uma espécie de vingança em relação a Padilha. E, ainda, de inabilidade política por parte do próprio ministro e do presidente Michel Temer. Isto porque, segundo políticos ligados ao titular da Casa Civil, a avaliação feita esta manhã foi de que quando pediu para deixar o cargo, em meio a denúncias contra o seu nome, Yunes – que até bem pouco tempo era assessor no Planalto e é considerado grande amigo de Temer – esperava que Padilha fizesse o mesmo. Ou, ao menos, que passasse a adotar uma postura mais reservada na Casa Civil, o que não aconteceu.
Oficialmente, Padilha será hospitalizado amanhã em Brasília. E retorna da licença médica no próximo dia 6 de março. Mas ninguém dá esta previsão como certa e há quem fale na continuidade da licença, diante da intensidade das denúncias de delatores contra ele na Operação Lava Jato – prestes a terem o sigilo judicial quebrado.
Sem comunicado prévio
Já por parte do ministro José Serra, o dia também foi marcado por surpresas. Serra tem problemas de saúde, fez uma cirurgia na coluna em dezembro passado e se queixa há tempos de dores durante as viagens internacionais que o exercício do cargo lhe impõe. Mas a surpresa neste caso se dá, principalmente, pelo fato de ele não ter comunicado a decisão aos companheiros do PSDB com certa antecedência.
E também por ter se apressado, ontem mesmo, a assinar o termo que o reintegrou ao cargo de senador no Congresso Nacional, em vez de ficar licenciado do Senado para fazer um tratamento extenso de fisioterapia que duraria cerca de quatro meses, conforme afirmou a Temer que procederia ao pedir demissão.
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