Coluna

Set de guerra – por Bianca Zasso

Centenas de jovens se alistaram para lutar pelos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Mas o que os movia? Nacionalismo? Sede de aventura? Agradar a família? São muitas as respostas e apenas uma certeza: grande parte deles optou pelo front por causa do cinema. Afinal, Hollywood fez da guerra um tema e de seus galãs heróis audaciosos e sempre com visual impecável. Até a sujeira em seus uniformes agregava charme.

Que a valentia não passa de mera ficção, todos sabemos, porém não se pode negar que a semente da jornada heroica foi plantada por vários filmes nas jovens mentes. E o caminho inverso? Deixar os grandes estúdios, os sets repletos de refletores e focar a câmera em conflitos verdadeiros, sem efeitos especiais? A plataforma streaming Netflix apostou na trajetória de cinco cineastas que levaram ao pé da letra a metáfora dita pelo colega Samuel Fuller de que o cinema é um campo de batalha.

Five come back, série documental de três episódios, apresenta o panorama vivido por William Wyler, John Ford, George Stevens, Frank Capra durante o conflito que mudou o mundo e também a vida destes artistas. Inspirada no livro homônimo de Mark Harris e dirigida por Laurent Bouzereau, o projeto merece atenção pela escolha de outros cinco cineastas para serem os comentadores das jornadas dos mestres da Sétima Arte.

Guillermo Del Toro, Paul Greengrass, Laurence Kasdan e Steven Spielberg, que também é produtor executivo da série, não escondem a admiração pelos personagens, mas a maturidade parece ter o seu lugar, em especial quando o assunto é preconceito racial, já que é conhecido o racismo daqueles tempos.

E nisso percebe-se a grandeza de filmes como The negro soldier, produzido por Capra e roteirizado por Carlton Moss, uma das poucas produções do período a retratar os negros com dignidade. Capra fazia jus aos seus filmes repletos de esperança e encarava o trabalho de registrar a guerra com um humor peculiar, mostrando Hitler e Mussolini como figuras bizarras, quase palhaços com poderes de persuasão.

Sem dúvidas, o mais controverso da turma era John Ford. Não apenas por sua figura caricata, de tapa-olho e cachimbo, mas por ter feito da oportunidade de fazer cinema na trincheira um exercício de experimentos. O homem que filmava como ninguém as grandes pradarias do oeste americano agora jogava nas quatro linhas, editando, escrevendo roteiros e dirigindo desde trabalhos próprios como colaborando com outros realizadores presentes no conflito.

Como Wyler, Ford manteve seu estilo nos documentários, sem deixar de obedecer certas ordens. Sim, nem tudo eram flores e negativos naqueles anos e a burocracia para imprimir suas marcas (e opiniões) sobre certos assuntos dificultava a vida dos criadores. E ainda tinham as mortes, que para Huston, Stevens e até o durão Ford deixaram cicatrizes que iriam se fazer presentes em seus trabalhos daqueles dias em diante.

Uma maratona de Five came back é o aperitivo para algo maior e revelador. Em conjunto com o lançamento da série, a Netflix disponibilizou os 13 filmes realizados durante o conflito pelos diretores abordados. Aliás, o estilo tradicional de documentário não é à toa na produção. Deixa-se a inovação de lado para que Five came back sirva de convite para todas as gerações desfrutarem dos filmes comentados.

Em tempos sombrios como os que vivemos, onde só políticos mentirosos e sonhadores compulsivos não percebem que um novo conflito pode acontecer, é uma aula. Não podemos esquecer que câmeras estão por toda parte e até o menos cinéfilo dos soldados pode registrar um momento chave. Para o bem e para o mal.

Five came back

Ano: 2017

Direção: Laurent Bouzereau

Disponível na plataforma Netflix

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo