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CULTURA. “Para quem tem o livro como negócio, a conjuntura é péssima”, explica presidente da Cesma

Até o dia 2 de setembro, apenas associados podiam adquirir livros na Cesma. Foto Maiquel Rosauro / Arquivo

Por Maiquel Rosauro

O site divulgou domingo (3), em primeira mão, a nova política da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma), que permite a venda de produtos para não associados. A novidade pegou a todos de surpresa, recebendo elogios e também algumas críticas nas redes sociais.

Para esclarecer melhor o tema, o site pediu ao presidente da cooperativa, o bancário Athos Miralha da Cunha, para escrever um artigo explicando as razões que levaram a Cesma a mudar a forma como realiza seus negócios. No texto, ele relata a perspectiva de trabalhar com cultura e, sobretudo, com livros nos dias atuais.

Cunha também fala sobre a dificuldade de explicar os fundamentos do cooperativismo para atual geração e, deixa claro, que a histórica decisão vai muito além da expansão dos clientes. Confira:

“Abertura dos portos às nações amigas”

Athos Ronaldo Miralha da Cunha, presidente da Cesma

A Cesma foi fundada em 16.06.1978 pelos alunos das ciências rurais da UFSM. Uma data importante para os universitários e estudantes da cidade, que se beneficiaram de um projeto genuinamente cooperativista.

Posteriormente a Cooperativa foi para a Casinha Azul da Astrogildo – como ficou conhecida – a sede na rua Dr. Astrogildo de Azevedo. Em 16.11.2005 foi inaugurada a sede atual, o Centro Cultural Cesma na rua Professor Braga. Uma sede construída com o esforço de todos os associados desde o longínquo ano de 1978. Então, chegamos num outro dia também importante: sem grande alarde, numa reunião do conselho, foi estendida ao não associado a possibilidade de aquisição de livros e materiais escolares. O dia 02.09.2017 torna-se importante no histórico da Cesma. Metaforicamente, em tom de brincadeira na reunião, nós fizemos a nossa “Abertura dos portos às nações amigas”.

Nesses 40 anos o mundo mudou e mudou várias vezes. Nós mudamos – já não nos banhamos nas mesmas águas. [Heráclito] – e precisamos estar atentos aos novos desafios.

A conjuntura econômica e política é de incerteza. E para quem trabalha com cultura as perspectivas não são boas. E para quem tem o livro como negócio, a conjuntura é péssima.

Particularmente penso que a cooperação tem dado lugar ao individualismo. Há quarenta anos tínhamos um horizonte utópico para sonhar. Éramos dialéticos e praticávamos o cooperativismo em sua essência. Atualmente temos dificuldades para explicar os fundamentos de uma cooperativa. E o porquê de ser associado e construir um ideal de solidariedade e preço justo.

O não associado poderá adquirir livros e material escolar e nós continuaremos com as nossas demandas culturais e associativas a todos os cidadãos de Santa Maria.

Essa decisão vai muito além de uma expansão dos clientes da cooperativa, a intenção é de alargar nosso horizonte e inserção cada vez mais na economia solidária que praticamos. Talvez a gente consiga.

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6 Comentários

  1. O fato curioso é que a CESMA foi praticamente um monopólio por décadas nessa cidade, como uma Globo, eficiente em “detonar” concorrentes pelo bom preço e qualidade do serviço, mas a tendência é perder a “serventia”. Porque a necessidade das pessoas (mercado) muda.

  2. Usei como exemplo o jornal pois é um paralelo semelhante ao que acontece no mercado de livros tradicionais, que tende a desaparecer. O que atrapalha o negócio, o contexto citado, não é só a grande crise econômica causada pelos vermelhinhos, é uma mudança de necessidade na forma de ter posse ou ler livros. Muitos avaliam hoje: “para que ter a posse e ler um livro pesado que ocupa espaço nos nossos lares se agora vários portais oferecem assinatura mensal com ótimo preço que dá acesso a dezenas de milhares de livros, sem limite de leitura?” Não há missão ideológica que “salve” o mercado de outrora (a necessidade das pessoas de outrora), nem em formato cooperativa. Em algumas situações um gestor eficiente acompanha a mudança, em outras, não tem como. O jornal em papel vai desaparecer.

  3. O que as pessoas querem ou precisam é um processo contínuo de mudanças, pois as necessidades das pessoas mudam todo o tempo. Elas vão crescendo em capacitação, mudando de empregos, alterando seu patrimônio, mudando seus salários, vão aparecendo novos produtos, mudam a forma de ofertar as mesmas necessidades. E daí, aos poucos, uma massa deixa de ler jornal em papel para lê-lo em formato digital ou até deixam de ler o que sempre liam em troca de outos, por vários motivos. Isso são pessoas mudando naturalmente a necessidade delas de ler jornal. Hoje é mais barato e valoroso em termos de conteúdo ler um jornal nacional do centro do país em forma digital do que um jornal local em papel.

  4. O mercado – que não é um bicho papão como os vermelhinhos dizem, é apenas grupos de pessoas com necessidades querendo ser atendidas por outras – não existe individualismo, existe segmentação e posicionamento. Isso se chama marketing. Todo gestor deveria saber como isso funciona para se posicionar com produtos ou serviços frente ao seu público-alvo e poder sobreviver.

  5. Curioso é que quando um vermelho assume a gestão de algo de forma prática e precisa mostrar resultados financeiros e de negócio, a “dialética idealista” vai para o ralo. Isso se chama realidade. Ideologia não salva ninguém, nem negócios.

    Aliás, apontem nesse país para cinco nomes de cooperativas que tiveram vida longa. Praticamente 99,99999999% delas quebraram, por variados motivos. Cooperativas não existem para atender anseios ideológicos, cooperativas existem para trazer ganhos financeiros para os associados (que são sócios). Só sobrevive se isso acontecer. E é um mero negócio como qualquer outro. Precisa ter lucro. Precisa ter clientes e dar retorno.

  6. Se não me engano, alteração precisa de aprovação de assembléia porque é necessário mudar o estatuto. Nada que seja impossível de acontecer.
    Questão aqui não é esta. O busílis é que tentaram vender a mudança como se fosse algo altamente positivo e depois veio “a conjuntura é péssima”. O resto é mimimi, o que Heráclito tem a ver com a Cesma?
    Cooperação? Maioria das pessoas que conheço virou sócio porque era possível encomendar livros e existia (passado) desconto de até 20% em relação a outras livrarias. O resto é auto-engano de militantes de esquerda.

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