Política

ENTREVISTA. “Sartori tem que ter uma prioridade: pagar o salário dos servidores em dia”, diz Jairo Jorge

Jairo Jorge (PDT) afirma que, hoje, o Estado é uma máquina feita para não fazer. Ele defende uma reestruturação, porém mantendo sob controle do governo empresas essenciais, como é o caso da CEEE e do Banrisul. Foto Maiquel Rosauro

Por Maiquel Rosauro

O jornalista e ex-prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PDT), tem uma meta: visitar todos os municípios gaúchos até o fim do ano. Já marcou presença em 250 cidades, passando por Santa Maria na semana passada.

Jorge é a única liderança do partido que indicou seu nome para concorrer ao governo do Estado, em 2018. Em 5 de outubro, em convenção em Porto Alegre, o ex-petista terá sua pré-candidatura ao Piratini homologada.

Para entender suas intenções, o posicionamento do partido e esclarecer alguns apontamentos da Justiça, o site conversou com Jorge na manhã de sexta-feira (15), no Hotel São Rafael Executivo. Pontual, recebeu o site exatamente no horário combinado e fez questão de frisar que não possui soluções fáceis para os problemas que o Rio Grande do Sul enfrenta.

O pedetista aponta que as soluções para o Estado são complexas, sendo preciso inovar e dialogar com servidores e com a sociedade. Confira:

Site – Assisti no mês passado uma live do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), no qual ele se colocava como o candidato ideal da esquerda para concorrer à presidência da República em 2018. O senhor também se posiciona desta forma em relação ao Estado?
Jairo Jorge – Sou um homem de esquerda, de centro-esquerda, é a minha posição. Estamos vivendo um tempo em que é preciso ter posições. As pessoas estão muito desencantadas com a política e têm todos os motivos para isso devido a tudo que está acontecendo. O que as pessoas esperam de quem, hoje, eventualmente, busca a esfera pública é que tenham atitude e posição. Nós não podemos ter vacilações em relação a isso. Tenho história como homem de esquerda desde muito cedo, mas, ao mesmo tempo, com uma visão heterodoxa. A esquerda sempre marcou sua trajetória, desde a Revolução Francesa, pela inovação. E vejo que não podemos hoje ter uma visão estagnada. Não podemos abandonar esta bandeira, a esquerda tem que ter a capacidade de ser inventiva e criativa. Temos agora os conservadores, e direita sempre foi conservadora. Não podemos agora inverter os polos.

 

Nós, PDT, participamos dos governos porque entendemos que deveríamos colaborar

 

Site – Iniciei a entrevista questionado sobre a esquerda porque tenho dificuldade para entender o posicionamento do partido em nível estadual e municipal. No Estado, o PDT saiu há pouco do governo Sartori e, em âmbito local, a presidência do partido afirma que a sigla tem uma posição independente. Porém, na prática, eu observo o PDT na base do governo Pozzobom, sobretudo, no Legislativo. Como o partido se posiciona?
Jorge – O PDT se colocou em Santa Maria como oposição. Mas não somos uma oposição destrutiva, do quanto pior melhor e nem somos uma oposição que não colabora. Naquilo que for correto, apoiaremos o governo Pozzobom. E no que não for correto, seremos contrários. Essa é a posição do PDT e isso vale para o governo Sartori. Questões positivas, apoiaremos como sempre fizemos. Teve medidas na previdência complementar que foram importantes, assim como a Lei de Responsabilidade Fiscal que não tivemos nenhuma discordância. Reestruturar o Estado é uma necessidade, mas não como o Sartori está fazendo, o que nos leva a uma série de discordâncias. Não é justo querer colocar a sociedade contra os servidores públicos. Respeito o Sartori, mas hoje ele assumiu uma posição no campo ideológico da direita e centro-direita. Ao invés de atirar pedra no Golias, atira no Davi, que são os professores, brigadianos e policiais civis. Sartori tenta, de todas as formas, colocar a opinião pública contra os servidores.

Site – Qual a saída para a crise?
Jorge – Não existe saída sem pactuação, não existe solução sem diálogo. Todo mundo sabe que a crise é grave. Mas temos que dividir essa crise entre todos. Não podemos dividir a crise com aqueles que nada têm e possuem muito pouco para contribuir. Sartori tem que ter uma prioridade: pagar o salário dos servidores em dia. Isso dará certa tranquilidade para os funcionários organizarem suas vidas. É importante que a sociedade entenda que não existe educação sem professor e professora, e não existe segurança sem brigadiano e policial civil. Nós, PDT, participamos dos governos porque entendemos que deveríamos colaborar. Somos um partido de centro-esquerda, mas somos responsáveis pelo Estado. Contribuímos e nos orgulhamos com o que fizemos na saúde no governo Tarso, com a segurança enquanto estivemos no governo Yeda e com a educação no governo Rigotto. Optamos por sair do governo Sartori, em 10 de abril, por dois motivos: discordância de como ele trata questões de Estado e como trata os servidores, e o seu projeto incompatível com o Estado. Queremos um projeto próprio e não queremos mais ser satélite de PT e PMDB.

Site – Esta polarização PT e PMDB é praticamente um Gre-Nal. Como o senhor pretende se diferenciar na campanha?
Jorge – A população não quer mais esse Gre-Nal e se deu conta que é uma soma zero. A polarização não leva a lugar algum, faremos uma campanha propositiva sem ataques aos ex-governadores. Hoje, sou o único nome no PDT inscrito como pré-candidato ao governo do Estado para a convenção de 5 de outubro, quando vamos homologar a pré-candidatura. Vou apresentar um novo modelo de elaboração de programas, eu vou ouvir a sociedade. Vou a todos os 497 municípios para ouvir as pessoas. Já fui em 250 cidades desde o dia 2 de fevereiro.

 

Sartori, Tarso, Yeda, Rigotto, Britto e Simon concluíram suas jornadas

 

Site – Nestas andanças, qual a principal reivindicação dos gaúchos?
Jorge – Segurança. A violência chegou às pequenas cidades. Nunca tinha visto isso. As pessoas estão acuadas, não tem brigadianos. Algumas cidades não possuem sequer um único policial militar. Segurança é a grande questão hoje no Rio Grande do Sul. Agrego que segurança tem haver com educação. Se tivéssemos investido há 30 anos em escolas, educação de qualidade e aulas em tempo integral, teríamos outra realidade.

Site – Caso eleito, como o senhor planeja enfrentar a crise econômica que o Estado atravessa?
Jorge – Primeiro, eu vou defender medidas na campanha. Não podemos repetir o que aconteceu em 2014, quando a população de um cheque em branco para o governador Sartori. A atual geração de políticos se esgotou. Sartori, Tarso, Yeda, Rigotto, Britto e Simon concluíram suas jornadas. Agora temos uma mudança geracional e precisamos reestruturar o Estado. Hoje, é uma máquina feita para não fazer. A atual estrutura de secretarias não funciona, são estruturas verticais que não conversam entre si. Ao mesmo tempo, precisamos reduzir os níveis hierárquicos. Proponho apenas três níveis: o que concebe, o que desenvolve e o que executa. Isso suprimiria muitas estruturas desnecessárias. É preciso um enxugamento, dar funcionalidade.

Site – Reestruturar é uma palavra que causa apreensão em muitos servidores. O que poderia ser vendido?
Jorge – Defendemos um estado necessário, defendemos CEEE e Banrisul. O que não for mais estratégico, pode, eventualmente, não ficar sob controle do Estado. E, na minha opinião, quem define isso é a sociedade. Somos favoráveis ao plebiscito, pois é a sociedade que deve dizer qual é o tamanho do Estado. Todos os recursos que captarmos, vamos investir em educação. Vamos criar um fundo para modernizar a educação. Para isso, precisamos de recursos que devem vir de duas fontes: melhoria da lucratividade das empresas públicas e venda de ativos (terrenos e prédios). O que a sociedade pensar diferente, vou respeitar.

 

O CPERS sabe que vivemos hoje o pior momento da educação no Rio Grande do Sul

 

Site – O que senhor pensa sobre a extinção das fundações?
Jorge – É um erro, eu faria um sistema diferente. Criaria uma agência de inovação e faria uma estrutura mais leve e delgada. O que Sartori fez foi inócuo. Eu preservaria a FEE (Fundação de Economia e Estatística) e a Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional) para criar uma agência para pensar o futuro do Rio Grande do Sul. Acho que o caminho que ele fez não vai resultar em nada. As ações judiciais estão trancando e ele perdeu toda a receita que tinha nessas empresas. Então, está gastando mais do que gastava antes. Vai gerar problemas enormes. No afã de ter um projeto, apresentou qualquer coisa que chegou a ele através de um grupo de empresários. Nós vamos construir um projeto de Estado coletivamente com a sociedade.

Site – Se eleito, como será seu relacionamento com o CPERS, hoje principal opositor do governo Sartori?
Jorge – O grande caminho é o diálogo. Temos que gastar a saliva antes de gastar gás lacrimogênio e spray de pimenta. Se for eleito, farei o diálogo com o CPERS, que é uma entidade séria. É um sindicato que sempre vai olhar os direitos da categoria, temos que entender isso. Nem sempre tudo o que o CPERS está colocando é a posição de um governo, pois o governo olha para todos e não só para uma categoria. Não é ilegítimo, é natural, assim como também não é ilegítimo a posição do Estado em defender o interesse coletivo. Temos que entender que são legítimas as duas posições, embora, às vezes, diferentes. O CPERS sabe que vivemos hoje o pior momento da educação no Rio Grande do Sul. Se eleito, pretendo criar a Lei de Responsabilidade Geracional, assumindo uma responsabilidade com a geração futura. Hoje, na política, a cada quatro anos zera tudo. Não dá para ser assim. Defendo que essa lei projete 21 anos para a frente e pense como queremos chegar até lá, com avaliações tri-anuais e perseguindo metas. Para criar uma educação pública de qualidade precisamos focar no aluno. Neste ciclo, o elemento central da educação é o professor, pois ele motiva o aluno.

 

A Secretaria de Saúde está asfixiando hospitais pequenos e médios

 

Site – Em agosto, a juíza Adriana Rosa Morozini, da 2ª Vara Cível de Canoas, bloqueou seus bens devido ao apontamento de irregularidades, pelo Ministério Público, na contratação de uma empresa para providenciar os serviços de merenda e limpeza escolar em escolas de Canoas, entre 2014 e 2015. O que aconteceu?
Jorge – Tínhamos duas empresas que prestavam mão-de-obra e contratavam funcionários para isso. Em 2003, elas tiveram problemas e não pagaram os funcionários, a tal ponto que a Prefeitura teve que buscar na Justiça do Trabalho o pagamento direto aos trabalhadores. Em razão disso, os contratos foram concluídos. Fizemos uma nova licitação em processo emergencial, o que é normal. Não existe nada mais emergencial do que garantir a merenda para 33 mil alunos. Ganhou a empresa com menor preço e processo foi judicializado. A oposição entrou com várias ações, mas o Tribunal de Contas considerou válido o processo. Depois de um ano e dois meses, a licitação foi concluída devido à judicialização e, então, contratamos a empresa pelo menor preço. Todos os processos licitatórios que ocorreram (três emergenciais e um por licitação) a vencedora foi por menor preço e, em todas, foi a mesma empresa. A crítica é a rapidez do processo emergencial. Se eu deixasse 33 mil crianças sem merenda por um ano e dois meses, estaria correto? A empresa prestou serviços de merenda e cozinha. Após três ações, a oposição vai ao MP, entra de novo com a mesma medida, e a promotora, obviamente, entrou com uma ação, que é legítima. A juíza, sem me ouvir e sem olhar as considerações do Tribunal de Contas, tomou uma decisão, em caráter de liminar, que estou recorrendo. A promotora quer que eu devolva todos os salários pagos para todas as 450 pessoas que trabalharam por um ano e dois meses. Mas qual seria o erro? O que está irregular? Não tem absolutamente nada. Tenho convicção, seja em primeira ou segunda instância, que iremos reverter esta decisão.

Site – O ex-diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar, disse que o senhor recebeu R$ 50 mil proveniente de caixa 2 para a campanha de 2008. Isso procede?
Jorge – Isso é alguma confusão deles para tentar apresentar fatos que podem ter maquiado a realidade. Recebi contribuições oficiais pelo diretório nacional do PT, R$ 475 mil na eleição de 2012 e R$ 60 mil na eleição de 2008. Também recebi da Gerdau, Zaffari, grandes grupos que sempre me enxergaram como uma pessoa correta. A Odebrecht não fez nenhuma obra na minha cidade. Estou tranquilo e muito sereno, são contribuições legais que vieram do diretório nacional.

Site – Santa Maria sofre com os repasses do governo do Estado na saúde, com um Hospital Regional que nunca abre e com a Casa de Saúde ameaçada de suspender serviços. Os problemas no setor resume-se a falta de verbas?
Jorge – O problema não é só dinheiro, é gestão. Temos que ter uma regionalização da saúde. O Estado precisa se organizar a partir dos Coredes. Minha ideia é que os Coredes sejam retomados e valorizados, com estruturas administrativas em cada região. Regionalização é a chave. A Secretaria de Saúde está asfixiando hospitais pequenos e médios. É uma política equivocada de concentração, no qual acreditam que a escala vai resolver os problemas, o que não é verdade. Sartori deveria ter mais solidariedade com os prefeitos.

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7 Comentários

  1. Torço muito para que um vermelhinho ganhe a eleição em 2018, qualquer um. Só para ver o caos. Mas precisa ganhar nessas mesmas condições de hoje. Com os paquidermes deficitários, com bilhões em precatórios para pagar e a Justiça cobrando, pois as pessoas estão morrendo de velhice e não estão recebendo, com todos os salários parcelados e bem atrasados. Veríamos a fuga de grandes empresas e do capital intelectual, a tentativa de aumento do ICMS para tapar o rombo, a tentativa de estatizar mais estradas, a perda de concessão da CEEE por incompetência financeira e de qualidade, que maravilha!!! Torço para que aconteça uma grande lição definitiva, tanto para quem vota, como para quem acha que vai melhorar alguma coisa ou dinheiro vai cair do céu sem reformas, sem mudar nada.

  2. Aliás, é visto que não é bom para os partidos de oposição que a Assembleia vote favoravelmente as reformas para que o governo acerte as contas públicas e daí, finalmente, os salários possam ser pagos em dia. Por quê? O gringo se reelegeria. Até o pessoal do CPERS votaria nele. . k k k … Então os partidos de oposição pensando em 2018 vão votar contra as reformas. Como a situação sem as reformas vai piorar, aumentam as chances de partidos da oposição voltarem ao governo.

    Vi uma entrevista com o Jobim na Globonews nesse final de semana. Todo o tempo praticamente falou na importância da política para o diálogo e daí consertar o país. Isso não existe. O poder sempre foi a tônica da política, não a sociedade.

  3. corrigindo…

    * que é fazer ações que diz que NÃO vai fazer, ou seja, mais um vendendo um mundo de fantasia.

    Praticamente o mesmo discurso do PT (o soft).

  4. 3. Quer modernizar o Estado mantendo o mesmo corpo funciona, a CEEE falida e o Banrisul que é um banco menos eficiente que os outros? São estratégicos? Para jogar a penca de comissionados lá?

    4. “O problema não é só dinheiro”. Mas ele quer atender a reivindicação das pessoas de mais segurança, melhorar a educação, manter a CEEE, o Banrisul, etc… k k k .. E vai conseguir isso sem dinheiro? È só problema de gestão? Fala sério. Em nenhum momento fala do mais importante: como vai criar realmente condições para que as contas sejam consertadas para se ter mais segurança, saúde, educação de qualidade, etc.. que é fazer ações que diz que vai fazer, ou seja, mais um vendendo um mundo de fantasia.

    Cansei. Se o seu Jorge é candidato, a coisa está feia.

  5. 1. Desde quando a esquerda é inovadora? Manter paquidermes inúteis, passivos gigantescos, ineficiência, estabilidade no serviço público, é ser inovador? Onde? O único país que tem uma esquerda que inova é a China.

    2. Diálogo? O que precisamos é fazer a coisa certa, doa a quem doer. Isso está acima de qualquer ideologia. Todo mundo sabe porque a “rescisão do contrato” com o gringo, porque as eleições estão chegando e ficaria muito chato fazer uma reestruturação profunda e responsável no Estado para ajeitar as contas, fato que faria com que o eleitor alvo do PDT, conservador, não gosta. Perderiam votos. Para ajeitar as contas não dá para ser conservador.

  6. Outra piada. Três níveis: um concebe, um desenvolve, outra executa. Mas não deveriam extinguir nem a Metroplan e nem a FEE. E criaria uma agência de inovação “enxuta”. CPERS? Ficaria quietinho num governo de “esquerda”. Regionalização da saúde é outra balela, SUS é estruturado a partir de Brasília, não de POA. Não fala em políticas de Estado e políticas de governo. Quer, sovieticamente, passar uma lei para condicionar os governos dos próximos 21 anos a um plano elaborado pelo governo dele.
    Não dá para dizer que é um graxaim com um pelego nas costas. Para não ofender os graxains.

  7. Para começo de conversa, não existe ex-petista. Segue. A esquerda da Revolução Francesa não tem nada a ver com esta que esta aí, nada além da terminologia. É tentativa de associação com algo “positivo”. Gringo tem que ter “prioridade”, outra conversa para boi dormir. Não falta dinheiro só para os salários, falta para a saúde também, vide Casa de Saúde. Contribuição para a segurança no governo Yeda foi o falastrão populista Enio Bacci que acabou demitido. Contribuição no setor de saúde do governo Tarso foi tão boa que o Gringo recebeu “tudo funcionando” (é piada).

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