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Viver ou funcionar? – por Orlando Fonseca

Em algum momento no futuro, vamos nos deparar com o conflito: viver ou funcionar? Avançam com muita rapidez tecnologias que potencializam nossas capacidades, e em breve os humanos terão ao seu alcance, implantes, próteses ou aplicativos que aumentarão qualidades como memória, raciocínio, força, disposição. Virtudes humanas terão se transformado em funcionalidades. Ao mesmo tempo, é preciso considerar que essa corrida pelo melhor equipamento é desigual.

Daqui a poucas décadas, as máquinas e os seres humanos estarão disputando a hegemonia, e nós estaremos perdendo feio, porque teremos levado anos aprimorando o desempenho daquelas, e aumentado a nossa dependência de sua performance. Elas serão mais rápidas, mais fortes e mais numerosas. E não terão pudores, constrangimentos ou qualquer condescendência conosco.

Os robôs terão mais capacidade de processamento inteligente, as máquinas serão mais robustas, terão muito mais força e uma capacidade de reação infinitamente mais rápida do que podemos imaginar. Num piscar de olhos, estaremos presos nas pinças de um monstrengo de aço, ou teremos perdido completamente a memória e a capacidade mais simples de fazer contas. Estaremos ferrados, prontos para o descarte.

Não se trata de uma distopia, de um enredo de cyberpunk, de uma narrativa ficcional delirante. Stephen Hawkins é quem nos dá o toque. Há poucas semanas, em uma conferência sobre tecnologia em Lisboa, o físico britânico declarou que o potencial de aprendizado da Inteligência Artificial é infinito e poderia facilmente atingir e superar os limites do cérebro humano. A profecia – sem misticismo – de Hawking é um alerta: “a inteligência artificial poderá ser o maior evento na história da nossa civilização, ou o pior”.

O que a maioria de nós não percebe é a dimensão que isso pode atingir em nossas vidas. Por enquanto estamos satisfeitos com nossos smartphones, tablets e as facilidades das redes sociais. Já podemos administrar quase todas as nossas tarefas e compromissos cotidianos através de um computador doméstico, e a internet das coisas em breve será uma realidade em casas inteligentes, em carros inteligentes. Temos, por enquanto, apenas vislumbres do que os potentes computadores estão fazendo, desde as moderníssimas UTIs até as pesquisas espaciais.

Tudo o que era feito pelo esforço braçal, pelas habilidades manuais – nosso evoluído dedo opositor -, pelos nossos neurônios, agora é feito por processadores potentes. E aí é que reside a grande ameaça: a máquina substituindo o humano anula o nosso protagonismo. Ao mesmo tempo, quanto mais dependemos de equipamentos, implantados ou conectados, mais aumenta a nossa desumanização.

O deus da modernidade, o deus mercado é que, cada vez mais, exige desempenho melhor. A visão de um mundo gerido pelo capital é que nos impõe a necessidade de sermos “úteis” – aí se colocando a necessidade de produzir, de trabalhar, gerar riqueza – para quê? O que nos significa, como humanos, é funcionar? Essa necessidade da fome pelo dinheiro é que vai fazendo da máquina a substituta ideal do humano: já foram os animais de carga, já foram os escravos, tração a vapor, motores a combustão e o computador. Só que a escravidão, no caso, pode se inverter: as máquinas vão superar a gente ao nos tornar seus periféricos, aplicativos, seus acessórios, dispositivos sujeitos ao descarte, supérfluo: a obsolescência do humano.

Hawkins nos incita a tomar consciência – as máquinas poderão um dia fazer isso? Quando forem a maioria, as máquinas não estarão interessadas em ganhar dinheiro: a disputa será por poder, pela supremacia funcional. No futuro, só haverá criptomoedas, e as máquinas criarão mineradoras esgotando todas as bitcoins, ou equivalentes. Então, pelados, nus com a mão no bolso, a humanidade vai reclamar o tratamento desumano que estará recebendo. Nesse momento fará uso do equipamento insubstituível, sem emulação mecânica ou cibernética: a consciência. Poderá ser tarde, por isso, é melhor começar a colocá-la em operação já.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é reprodução da internet.

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