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Vampiresco – por Orlando Fonseca

Foto: Murillo Constantino

Um simples mortal jamais esquece que está vivo, pelo motivo óbvio de que, estando morto não há mais o que lembrar – nem como. Não sei exatamente como pensar a respeito de mortos-vivos, que os há, ainda que a ficção tenha lá os seus exageros com zumbis. Há uma categoria de indivíduo que não sabe que está morto, ou morreu e esqueceram de enterrar, como afirma a sabedoria popular. E há os que se fazem de morto para não serem percebidos, incluindo aí a fiscalização. Mas, como eu dizia, qualquer mortal que tenha requerido a sua mais do que merecida aposentadoria e que a esteja gozando em pleno exercício vital, tem como critério de sobrevivência dar “prova de vida” junto ao banco onde recebe o salário relativo. Como se sabe, no entanto, na Transilvânia não é assim.

Primeiro, porque lá não existe sistema previdenciário como conhecemos no Brasil. Se bem que, de certo modo, por lá o trabalhador continua trabalhando depois de morto, que é o que pode vir a acontecer por aqui. Pois bem, vampiros continuam vivos depois de mortos, por óbvio, Previdência pra quê? Aliás, previdente é o sujeito que, ainda não sendo vampiro e querendo adiar este status, usa alho, amuletos, cruz. Ninguém se aposenta por lá, mesmo os trabalhadores não-vampiros. Vão continuar na ativa, mesmo quando também chegarão à condição daqueles cujo expediente só é noturno. Diferente da Transilvânia, por aqui os trabalhadores não-vampiros são sugados a vida toda, mas não têm nenhum benefício post-mortem.

Vai daí que, não me causa nenhum estranhamento que este presidente que tem dado plantão em Brasília, cujos ancestrais são daquela região do planeta, não tenha dado “prova de vida” e tenha deixado de receber a sua aposentadoria por dois meses. É apenas uma comprovação pública de que ele não tem nenhum apreço pela vida. A nossa, a dos trabalhadores, a dos brasileiros em geral, a gente já tinha percebido que não tem mesmo, mas agora sabemos que, com o DNA de vampiro, o que menos lhe importa é a própria vida. Tá nem aí para esta preocupação vulgar de se manter vivo. E ainda informou que não foi providenciar “por falta de tempo”. Ora, todos sabemos que seres do tipo dele não contam isso. Aliás, vai daí a sua completa desconsideração com o trabalhador com a tal da Reforma da Previdência, na qual pretende inserir um quesito de “tempo” que, praticamente, iguala os aposentados brasileiros aos seus conterrâneos da Transilvânia. E olha que ele se aposentou aos 58 anos, como procurador do Estado de São Paulo.

O mundo é dos vivos. Mas esta categoria é de um nível superior, cujo topo abriga 1% da população com uma riqueza igual à da metade dos restantes. Os restantes somos nós, que temos sangue abundante para a voracidade desta turma. No Brasil, a proporção é mais perversa ainda: apenas 6 grandes ricos detêm 50% da riqueza da metade da população. O Brasil não é para amadores, como diria Tom Jobim. O Brasil também é dos vivos. Isso pode parecer um paradoxo neste país, no qual apesar da propaganda oficial, está tudo pela hora da morte.

Ocorre-me agora, dando uma geral na conjuntura: nesses novos tempos de jurisprudências curitibanas e pós-verdade, o INSS não deveria exigir “prova de vida”, mas “convicção de vida”. Ia facilitar as coisas, pelo jeito que alguns processos têm sido acelerados nos tribunais da Lava-Jato.

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