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Diz que é cria, mas… – por Pylla Kroth

O menino era o primeiro a levantar da cama quando o sol ainda não havia nascido. Único homem da família. O pai trabalhava fora e só visitava a família ao final do mês, e era portanto o menino incumbido de várias tarefas na casa onde morava com suas cinco irmãs mulheres: limpava o pátio, cuidava da horta, às vezes ia até o padeiro “cedito” pegar o pão quentinho, dentre outras coisas.

Sua tarefa primeira, logo ao despertar, era abrir as arruelas da chapa do fogão a lenha e fazer um “chiqueirinho” com gravetos que ele mesmo tratava de juntar pelo pátio ou lascar com o facão em pequenos pedacinhos para iniciar o fogo e, com as chapas do fogão abertas, entalava uma leiteira pra que já com os gravetos ir apurando a fervura do leite para o restante da tropa que logo, logo começava levantar para ir a escola.

Em seguida, quando o fogo já tinha se alastrado enfiava um pau de lenha, tirava a leiteira atentamente, recolocava as arruelas do fogão, para aí sim levar a outra panela, esta agora com o feijão que cozinharia no canto da chapa por cerca de quatro horas. Ele ia à escola à tarde, mas não escapava da tarefa matutina. Essa lida com o fogo e o fogão é uma longa história de aprendizado que agora passo a lhes contar.

O fogo é realmente um elemento transformador e este ajudou aquela família vencer as dificuldades diárias assim como fez com toda humanidade; os primitivos que o digam. O guri ficava às vezes por horas observando as chamas se alastrarem e isso acendeu a curiosidade dele e essa foi a mola propulsora de seu progresso como pessoa. Homo Sapiens.

Toda aquela atenção com as toras de lenhas que mais tarde eram partidas em lascas e armazenadas em um galpão para em braçadas diárias ir pra caixa ao lado do fogão. Para esta tarefa era acionado o lenhador. Seu nome era Tonico, “o lenhador”, logo que a mãe do menino adquiria uma carga era chamado o Tonico.  E lá vinha o seu Tonico bem cedo apenas com seu machado nas costas e a lima, para de quando em quando dar uma afiada no instrumento de seu trabalho.

E assim ficava o menino a observá-lo, longe do monte de lenhas e do machado, pois o lenhador alertara que poderia voar uma lasca e atingir alguém que estivesse perto. Aquela habilidade incrível e pacienciosa do lenhador lhe causava inveja. Tinha a hora do lanche e o menino ia levar as fatias de pão ao velho, que com calma largava o machado, lavava as mãos e sentava a sombra para saborear sua merenda com um café preto frio e sem açúcar como ele gostava. Não era muito de conversa, um caboclo analfabeto que não podia ver uma revista com imagens que ia logo pedindo para dar uma olhada. Se havia fotos então, brilhavam seus olhos!

Foi numa dessas que o menino, esperto, lhe fez a proposta de lhe dar em troca algumas revistas com imagens para que ele o ensinasse cortar lenha. Feito o trato, logo o menino arrumou várias revistas O Cruzeiro para o lenhador, que passou a lhe ensinar usar o machado como ninguém. Seu Tonico e o garoto agora já eram amigos. Foi quando o moleque observou que seu Tonico depois do lanche enrolava seu palheiro e sumia ou virava-se de costas para acender o mesmo. E isso levava infindáveis segundos. O motivo o menino veio descobrir mais tarde: é que o velho tinha um isqueiro raro. Sim, um isqueiro de pederneira muito antigo.

Na onda dessa brincadeira bonita e saudosa que contaminou as redes sociais nos últimos dias, deixo aqui a minha frase: diz que foi cria de Tapera, mas não conheceu o isqueiro a pedra do Seu Tonico?

Confesso que conheci o garoto e conheci o Tonico. E isso me faz voltar no tempo com muito carinho. Aliás, várias pessoas que entraram na brincadeira foram tocadas por centenas de boas lembranças, e essas são essenciais para desvendar nosso verdadeiro “Eu” e para cultivar relações mais saudáveis, são lembranças que traçam quem somos hoje, são nossas raízes.

Sou Cria e hei de morrer cria! Daqui de lá e acolá. E, como diz um celebre amigo meu….PONTO.

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