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Mortos de cansaço – por Pylla Kroth

Correndo o risco de escrever um texto que soe deprimente ou pelo menos cansativo, hoje eu falo sobre o cansaço do mundo moderno, porém conto com a empatia de quem esteja lendo e que possivelmente já tenha passado por ou sentido os efeitos, mesmo que por um pequeno período de tempo, desta curiosa situação.

Noutro dia, li um interessante artigo na internet sobre certa condição denominada por especialistas da área como “burnout”, que descreve um distúrbio psíquico de caráter depressivo ligado ao contexto ocupacional e que é muito mais comum do que se possa imaginar, acometendo inúmeras pessoas na atualidade que sequer tem noção que sofrem desta disfunção.

Há um livro que li certa vez que onde aprendi uma expressão um tanto dramática: “o apavorante fardo da existência”. Esta expressão retornou à minha memória imediatamente ao ler aquele artigo. Pensei cá comigo: esta é seguramente a doença do apavorante fardo da existência, agora eu entendo o significado!

Um dos argumentos colocados a respeito da “burnout” no texto era que o cérebro humano simplesmente não está preparado para lidar com o ambiente moderno, o qual evoluiu muito rapidamente, em matéria de tecnologia e inovações científicas, as quais propiciaram uma enxurrada exponencial de informações e conhecimentos a serem obrigatoriamente absorvidos e aprendidos, e geraram uma necessidade crescente de se produzir mais e mais, desenfreadamente, e se mostrar competente por meio do trabalho a qualquer custo.

Esta condição seria responsável diretamente por manter as pessoas em um estado permanente de “bater ou correr” e com isso gerar uma fadiga profunda, física e mental. E não se restringe apenas ao ambiente de trabalho. Vai mais longe: vai para dentro dos lares das pessoas, pois as nossas cidades e dispositivos eletrônicos permanecem pulsando 24 horas, numa doentia e viciosa cultura “sempre online”, que dificulta o ato de repousar, descansar  a qualquer hora do dia ou da noite, não dando chances ao corpo e à mente de “recarregar”, obrigando-os a funcionar como autômatos com baterias sempre em níveis perigosamente baixos! E este seria o motivo por que todo mundo vive sempre tão cansado. Todos sempre mortos de cansaço!

Quem nunca se sentiu extremamente cansado, de um cansaço que parece acometer até a alma, mesmo num dia que eventualmente não foi assim lá tão cheio de tarefas esgotantes? Eu confesso que já senti isso, e não podia entender por quê. Nos últimos dias, por exemplo, não tem uma noite em que não vou para a cama com a cabeça cheia de preocupações que parecem tão urgentes e importantes e necessárias de serem resolvidas imediatamente.

Então, lendo este texto, parei para analisar cuidadosamente e me dei conta que estas preocupações não são realmente minhas preocupações individuais, pessoais, imediatas e diretas! Não, pelo contrário, são preocupações derivadas de situações que não fazem parte do meu aqui e agora. São tipos de preocupações que meus avós e bisavós provavelmente não tiveram, imagino.

Pois elas se originaram de situações distantes da minha realidade imediata, a respeito das quais eu só estou informado e avisado porque o mundo moderno, contemporâneo, veio para dentro das nossas casas na forma de televisores, computadores, internet, dispositivos móveis, etc! São preocupações geradas por excesso de informações obtidas durante o dia, informações estas que nem sempre são relevantes às nossas necessidades imediatas, mas que abraçamos de maneira muito pessoal, quase íntima: é a situação na guerra civil daquele país, a fome e a miséria daquele outro, o sofrimento das famílias dos tripulantes daquele avião que caiu lá naquele continente, o furacão ou a tsunami que varreu aquele outro, é o aquecimento global, é o suprimento mundial de água potável acabando, é o derretimento das calotas polares, é a eminência do apocalipse,  é… socorro! É tanta informação, é tanto acontecimento, é tão imediato e sufocante que não existe como dar conta!

Mas será que realmente precisamos dar conta? Quem nos disse que devemos abraçar o mundo com as pernas? Sabemos muito bem que isso é impossível.

Não quero dizer em momento algum que não devemos sentir empatia ou não nos solidarizarmos com as mazelas globais, ou sermos absolutamente pragmáticos. Porém, se não estabelecemos limites, nosso cérebro é um animal eternamente faminto, irá devorar tudo aquilo que lhe for jogado que pareça ser algum alimento. E é assim que nos fadigamos e percebemos que apavorante que é o fardo de existir.

Há outra coisa terrível que este cansaço, esta fadiga, gerada pela percepção de que somos incapazes, pequenos ou incompetentes para resolver “nossos problemas” gera em nós: o desânimo, a morte lenta da esperança.

Mas como combater essa epidemia da exaustão? Existirá algum tipo de terapia para tratarmos o cansaço do mundo, tal como existem terapias, exercícios, medicamentos que combatem as moléstias do corpo e da mente?

Achei interessantes as colocações dos especialistas sobre o distúrbio que citei do artigo que li, quando dizem que a cura para aquele cansaço é muito individual, que depende de cada pessoa que sofre do problema: “você tem que saber ou tratar de descobrir o que lhe tira e o que lhe dá energia e delimitar as fronteiras entre ambos, para proteger tais fronteiras quando sob ameaça”.

Para mim parece uma receita eficiente para este caso também: proteger nossas fronteiras contra o desespero que ameaça a nos matar no cansaço, selecionando nossas prioridades, aquilo que deixamos entrar em nossa vida e nossa mente, a fim de manter a energia que alimente esperança tão necessária a continuar existindo sem pavores!

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