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Lambendo nossas feridas – por Pylla Kroth

Eu e meu cachorro, ele e eu, sempre.

Dias atrás, alguém distante fez um comentário em um post na rede social onde eu era mencionado, dizendo assim: “esses dias eu estava em um tradicional bar em Santa Maria, e dali a pouco entrou o Magrão, com aquele seu jeitão extravagante e, junto com ele, um cachorrinho, rsrsrs foi a melhor cena que já vi lá, nos mais de 20 anos que frequento o Bar. Pede pro Pylla explicar.” E eu expliquei, lógico!

E confesso que ele é sem dúvida alguma, meu melhor amigo! Lembro-me com carinho de todos cachorros que tive. Já escrevi a respeito por aqui.

E quem não teve ou tem um cachorro amigo não sabe da vida e do amor verdadeiro que existe na relação “Homem-Animal”.

Conheci tempos atrás uma senhora, velhinha já, sobrevivente de um campo de concentração nazista da segunda grande guerra. Estava ela sentada em uma varanda da casa dos netos, que a cuidaram nos últimos anos de vida. Curioso, eu queria lhe fazer algumas perguntas, mas ao manifestar minha vontade os seus netos, que eram também meus amigos, me alertaram: “ela fala muito pouco, e não acha que ela está braba, mas ela somente sorri quando nós largamos nosso cachorro no pátio e ele vem direto aos braços dela. Parece que só o cachorro entende ela e vice versa”. E então um deles me contou de flagras incríveis dela sozinha com seu cão.

Disse-me que em certa ocasião estava um dia ensolarado e a vó nada de abrir um sorriso, e ele largou o cão e fez de conta que entrou de volta na casa, quando na verdade ficou espiando aquela cena. Com o cachorro parece que ela abria seu coração, falava em alemão com ele. Quando ela achou que estava sozinha com o cachorro, nesta ocasião, começou a chorar, logo o cão subiu em seu colo e começou lamber suas lágrimas. Ela então tirou a manga da sua camisa como se fosse mostrar algo ao dog e mostrou-lhe o braço. Era a sua tatuagem numérica de prisioneira nos campos de Auschwith. O cachorro começou a gemer e lamber com rapidez impressionante sua tatuagem, e ela com ar de alivio.

Essa comovente história me fez lembrar de quando eu era menino e tive um vizinho que tinha um cachorro de porte grande e que frequentemente alguém aparecia por lá com feridas expostas para o cachorro lamber. Quando menino eu não entendia muito bem, mas hoje entendo, pois há pouco tempo um amigo meu tinha um cachorro e periodicamente aparecia um amigo nosso por lá para o cachorro fazer a limpeza em suas feridas, pois ele era diabético e quando se acidentava dizia que a única coisa que cicatrizava seu ferimento eram as lambidas do cusco.

Além de toda essa parte espiritual existente nesses animais, através das lambidas é que eles expressam todo seu apreço pelas pessoas. O lamber é o equivalente a uma carícia. Definitivamente o cão é solidário à dor humana. Ele nos conhece pelo cheiro e cada um de nós possui seu cheiro próprio. Sendo assim estou convicto de nossa pequenês diante dos cachorros. Eu aprendo todos dias com o meu.

E ultimamente meu cachorro tem me lambido dos pés a cabeça. Sinal de que ando meio doente e com feridas em minha alma. Não estou suportando tanta mediocridade e desigualdade social. Nosso país figura entre os mais desiguais do mundo socialmente e podem ter certeza que não é uma força da natureza que produz essa miséria. Minhas dores são causadas por esse mundo injusto de pessoas que admitem o povo vivendo em condições tão desiguais. Não estão vendo o abandono dos nossos bichinhos e nem da nossa gente. E o quadro tende a piorar.

Minha esperança é que nesta próxima eleição sejamos capazes de escolher melhor, pois se isso não acontecer vão faltar cachorros pra lamber tantas pessoas feridas. Pensem nisso. Falta pouco para votar certo. Muito pouco. Alguém mais me entende? Meu cachorro aqui ao lado acaba de latir afirmativamente. E que nunca nos falte a esperança em dias melhores.

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Um Comentário

  1. Os animais, todos eles, são anjos, em minha humilde opinião. Os domesticados, mais ainda. E cachorros e cavalos, os que mais significam para mim! Têm olhos que atravessam o coração de quem lhes acaricia, e “vêem/sentem” na hora, se não gostamos deles. E mesmo assim, se mostram dispostos a nos conquistar com a alma pura do amor incondicional! Parabéns Magro, mais uma vez!

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