O texto abaixo foi feito a pedido deste editor, após o autor ter enviado material a respeito para o programa “Sala de Debate”, na Rádio Antena 1. Lá, por uma questão de tempo, foi tudo muito resumido. Aqui, um artigo mais elaborado, ainda que, obviamente, apenas lançando algumas questões:
Sobre o conceito de fascismo – por ANDRÉ FERTIG (*)
Uma ciência humana como a história utiliza conceitos para caracterizar e explicar um fenômeno humano no tempo. Mesmo que haja variações conforme o tempo e o espaço em que o fenômeno se manifesta, cada conceito, usualmente, possui um núcleo comum de características que precisam estar presentes para que possamos nominá-lo como tal. Vamos exemplificar com o conceito de fascismo. Saliento que, como não se trata de uma sistematização do conceito, pois estou “a pensar em voz alta”, vou listar somente alguns elementos que caracterizam o fenômeno, mas que considero importantes para sua definição:
– Aliança entre política e violência, com intolerância a quem se posiciona politicamente diferente, causando, inclusive, limites a expressão e medo em quem não adere ao fascismo.
– Militares como protagonistas da política.
– O fascista se coloca como um antipolitico, critica a democracia liberal, até porque ele quer impor sua fala, não tem capacidade, nem vontade, de diálogo e debate.
– Criação de um inimigo comum: no nazismo, o antissemita; no Brasil atual, o antipetismo.
– Discurso nacionalista que mascara uma sociedade complexa, heterogênea e desigual.
– Defesa de uma política econômica em favor de grandes empresas e mercado financeiro.
– A religião e o nome de Deus como bandeira política.
– Veiculação de boatos e mentiras sobre seus adversários políticos pelos meios de comunicação de massa (rádio, TV, jornal, redes sociais).
– Preconceito e perseguição a minorias (seja por orientação sexual, ideológica, religiosa, etc).
– Uso político das instituições do Estado como, por exemplo, forças armadas, Justiça, Polícia, entre outras.
– Por razões óbvias, se observarmos a maioria das características acima, o fascismo é um fenômeno político e social de direita. Mas em tempos obscuros como o atual, não custa lembrar disso.
Devo ter esquecido outros elementos, mas para não me alongar concluo: se houver qualquer coincidência das características acima com a realidade atual da política brasileira podemos considerar que tal fenômeno, o fascismo, infelizmente, está presente.
1ª Observação: sou professor de história e historiador, todavia, não tive a pretensão de “dar aula”. Saliento ainda que não sou pesquisador ou especialista em fascismo, pois leciono e pesquiso Teoria da História e História do Brasil Imperial, mas meu objetivo é incentivar a reflexão e alertar para o que está acontecendo no Brasil. Para leituras a respeito ver, por exemplo, obras de Eric Hobsbawm, Nicos Poulantzas, Trevor-Hope, Paulo Vizentini, entre tantos outros.
(*) André Fertig é Doutor em História, pela UFRGS, e Professor do Departamento de História, na UFSM.
Leituras citadas vão confirmar em grande parte a opinião do autor, óbvio, as que discordam ficaram de fora.
Conclusão é óbvia, um artigo encomendado para fazer um determinado candidato ‘caber’ no conceito de fascista. Infantil.
Deixaram característica de fora por conveniência. Culto a personalidade. Utilização de símbolos do partido ao invés dos nacionais, suástica na Alemanha e fasces na Itália.
Uso político das instituições de Estado. Tipo instituições federais de ensino superior? Tipo Lei Rouanet? Tipo desembargador dando Habeas Corpus Mandrake em final de semana?
Veiculação de boatos todos usam e não é de hoje. Numa ruína romana encontram uma pichação: ‘Júlio Cesar é marido de todas as mulheres e mulher de todos os marido’. Revolução francesa correu toda em cima de boatos e notícias falsas. Veículo naquela época era o jornal ou panfletos. Aquela história da Maria Antonieta ‘se não tiver pão que comam brioches’ era Fake News. Uma personagem de um livro de Rousseau. Não existe prova de que ela teria repetido a frase. Alás, ela manjava muito mais de politica do que o bocó do marido.
Religião. Nome de Deus. Não, óbvio. Na Itália Mussolini evitou comprar briga com a Igreja Católica. Foi batizado, mas era ateu. Franco era católico. Hitler deu um jeito de criar a própria religião que não era monoteísta. Ou seja, não procede.
Política econômica dos fascistas é difícil de classificar porque tem características variadas. Na Alemanha existia uma intervenção estatal absurda na economia, inclusive com colocação de mão de obra escrava nas empresas. Na Itália, além da intervenção, havia muita ênfase nos sindicatos e nas corporações.
Politica em favor de grandes empresas e do mercado financeiro não conheço. O liberalismo é contra a intervenção estatal, coisa diferente.
No Brasil tivemos a cleptocracia, vide Lava a Jato.
Discurso dos fascistas é ultranacionalista. Ou seja, defende que a nação deles é melhor do que as outras e merece coisas melhores. Sim, lembra algo amarelo. Para quem não entendeu a diferença, ‘o petróleo é nosso’ não é fascista e nem exclusivo da direita.
O inimigo comum do nazismo era o semita. E os comunistas. E os maçons. E os ciganos. Ou seja, o argumento não fecha. Se morreram 11 milhões nos campos de concentração e 6 milhões eram judeus, os outros morreram por outros motivos.
Fascista não se coloca como anti-politico, o que existe é a defesa da preponderância de um só partido no caso alemão(alguém já viu isto em algum lugar?). No caso italiano Mussolini era primeiro ministro. Foi deposto a primeira vez (e preso) através do voto.
Existe a crítica a democracia liberal, mas isto os comunistas também fazem e os motivos são os mesmos que foram citados.
Não militares como protagonistas da política. Hitler era cabo. Mussolini também (depois virou jornalista, editor). O correto é ‘estruturas militares ligadas ao partido’. Hitler tinha as SA e depois a SS, ambas dentro do partido. Depois criou um exército paralelo para contrabalançar o convencional, as Waffen SS. Mussolini tinha os camisas negras, no Brasil havia os camisas verdes.
No Brasil qualquer camiseta de qualquer cor serve. Mas na Venezuela existe a Mílicia Nacional Bolivariana da Venezuela.
Aliança entre politica e violência não é só dos fascistas. Alguém já ouviu da Guarda Antifacista Jovem? Exército Vermelho do Ruhr? Liga dos Combatentes da Frente Vermelha? Eram grupos paramilitares na República de Weimar alemã, pré-nazismo. Algum professor de história falou nisto para alguém? Ou só falam que o nazimo é ruim e não tinha o tio Stálin do outro lado?
Esta é mais uma daquelas. Academia utilizando ‘autoridade’ pela causa. Não teria problema se não esgarçasse os conceitos e as palavras, não tornasse quem houve insensível ao impacto delas depois.