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AMAZÔNIA. Professora da UFSM diz que a soberania se concretiza através de conservação e da preservação

Queimadas na Amazônia seguem o rastro do desmatamento. E o Brasil, em termos de monitoramento, “tem níveis de excelência”

Por FRITZ R. NUNES (com fotos da Rede Brasil Atual e de Arquivo Pessoal), da Assessoria da Sedufsm

O interesse de nações estrangeiras em relação à preservação da Amazônia brasileira é legítimo e não afeta a soberania nacional. É um erro afirmar que essa preocupação com a região significaria a internacionalização da floresta, tendo em vista que os serviços ecossistêmicos prestados pela Amazônia repercutem em todo o planeta. A avaliação é da professora Ana Paula Rovedder, do departamento de Ciências Florestais da UFSM, integrante do programa de pós-graduação em ciências florestais e do programa de pós em engenharia agrícola, em entrevista concedida à assessoria de imprensa da Sedufsm.

Para ela, o caminho mais eficiente para se manter a soberania nacional na região amazônica é justamente o fortalecimento de políticas e programas de conservação, o fortalecimento do modo de vida dos povos da floresta e a prevenção às queimadas e ao desmatamento. Ana Paula, que também é membro da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), comenta ainda que “outra pauta que deveria ser foco do atual governo é o combate ao crime organizado na região, que entre 2017 e 2018 voltou aos elevados níveis de 1980”. Para a pesquisadora, atuar nesse sentido é responsabilidade governamental em prol da soberania nacional.

Com esse tipo de atuação, diz a docente, o Brasil poderia “manter a respeitabilidade adquirida, principalmente, porque o país é signatário de diversos acordos internacionais na área ambiental”. No entanto, argumenta Ana Paula, o atual governo tem feito uma rota oposta, fechando postos do Ibama na Amazônia, cortando milhões de reais do orçamento da fiscalização ambiental e comprando brigas diplomáticas com os países financiadores do ‘Fundo Amazônia’.

Ana Paula e dados alarmantes em 2019: aumento de cerca de 70% na perda da cobertura natural nos primeiros oito meses e o triplo de foco de queimadas

Níveis de excelência em monitoramento

Questionada sobre o fato de o presidente Jair Bolsonaro e membros de seu governo tentarem minimizar os dados sobre queimadas e desmatamento na Amazônia, desqualificando dados científicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ana Paula Rovedder considerou que, em termos de monitoramento da Amazônia, o “Brasil tem níveis de excelência”.

Segundo a professora, a estrutura técnico-científica existente no INPE embasou políticas e programas para a região nas últimas décadas. Ela explica que os resultados foram positivos, tanto que de 2001 a 2015 a Amazônia apresentou resultados promissores entre redução de desmatamento e também aumento da cobertura florestal.

De 2016 a 2018, no entanto, os resultados do INPE apontam aumento de perda da floresta, principalmente, devido a queimadas. Em 2019, ressalta Ana Paula, os dados são alarmantes: um aumento de cerca de 70% na perda da cobertura natural nos primeiros oito meses do ano e o triplo de foco de queimadas, considerando a comparação para o mês de agosto.

Para a pesquisadora é importante entender que, quando o governo federal despreza os dados do INPE, na verdade, está desprezando 29 anos de série histórica de dados, além da evolução tecnológica de imagens orbitais e a expertise de pesquisadores altamente capacitados.

Negação científica e crimes ambientais

A docente de Ciências Florestais afirma também que “mesmo sendo legítima a tentativa de se quantificar o desmatamento por outros métodos e algoritmos que não os do INPE, e mesmo que considerássemos plausível a contestação dos sistemas como ‘DETER’ e ‘PRODES’, o discurso governamental, ainda assim, cai por terra. Isso porque pesquisas feitas com imagens orbitais de diferentes sensores, com resolução mais detalhada, com outros algoritmos e por pesquisadores independentes acabam de demonstrar que o desmatamento é ainda maior do que o apresentado pelo INPE. Portanto, diz ela, “a negação de dados científicos deve ser entendida dentro de um contexto de permissividade para crimes ambientais”.

Acompanhe a seguir a íntegra da entrevista com a professora Ana Paula Rovedder, que além de todas as responsabilidades citadas no início desta matéria, também coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Áreas Degradadas da UFSM (Neprade), fundado em 2011 e vinculado ao departamento de Ciências Florestais.

Pergunta– Para contestar que esteja aumentando o desmatamento na Amazônia, o governo Bolsonaro fala que há uma tentativa de novo “colonialismo” em relação ao Brasil. Na condição de docente da área de ciências florestais, como a sra. vê esses argumentos governamentais?

Resposta– Em se tratando da abordagem de soberania nacional, é um erro dizer que o interesse internacional na Amazônia se dá com objetivo de se internacionalizar a região. Os serviços ecossistêmicos prestados pela Amazônia repercutem em todo o planeta. A Amazônia é um grande regulador de correntes de ar, correntes marítimas, rios voadores, massas de umidade que adentram a América do Sul e também chegam à Europa. Isso sem falar do capital natural em forma de biodiversidade, sequestro de carbono, regulagem de recursos pesqueiros, etc. Os países europeus têm conhecimento dessa interdependência, principalmente em um contexto de mudanças climáticas globais e eventos climáticos extremos. Falar em perda da soberania nacional a partir de ajuda ao combate ao fogo, por exemplo, soa como retórica populista ainda mais em que pese que as queimadas parecem estar ligadas, em grande parte, à especulação imobiliária…”

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3 Comentários

  1. A professora se formou e atua nos biomas Pampa e Mata Atlântica.
    Tem tempo de palpitar na Amazônia.
    Conviveu bem com avanço da soja aqui no RS. Não tem queimadas mas conversão diária.
    O que ela faz de estudo de prevenção, sei currículo é de recomposição.
    Depende da agressão para apresentar solução.

  2. Dando risada. Famoso ad verecundiam. Escolhem o entrevistado convenientemente. Estabelecem as credenciais. Única ‘opção’ é concordar com o mesmo, caso contrário é ‘terraplanismo’, coisa de gente que discorda da ‘ciência’.
    Professora tem graduação em engenharia florestal, mestrado em ciências do solo na agronomia e doutorado em ciências do solo na agronomia. Todos os cursos na UFSM. Pois bem, a entrevista trata de relações internacionais, politica e sensoriamento remoto.

    1. A análise quando critica compara UM ano ou UM mês frente ao anterior.
      Quando se quer mascarar o que ocorreu pior em outro anos se usa um período de gestão, se cita de 2001 a 2015.
      Quiça este ano seja um pico “perdoável”, como estão sendo os anteriores.
      Que estão derrubando e queimando não há duvidas
      Para “pegar” fogo, quanto tempo as árvores derrubadas precisam secar?
      O que está queimando hoje foi derrubado quando?

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