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Santa Maria

CRÔNICA. Orlando Fonseca e o fim da Casa Macedo

Não é brinquedo

Por Orlando Fonseca*

Na segunda metade dos anos 60, século passado, crise braba no país, dificuldades financeiras de toda ordem, uma das poucas felicidades para uma criança como eu, era subir – eu morava na Vila Carolina, e o povo falava assim – até o Centro da cidade, às vésperas do Natal. Especialmente a Primeira Quadra, onde meus irmãos e eu nos deliciávamos com as novidades nas vitrines da Casa Macedo. Era uma ilusão, pois sabíamos não haver dinheiro para comprar aquelas maravilhas. Quando consegui o primeiro emprego, ainda adolescente, com a primeira grana que ganhei, ao final do ano, fui direto na Macedo comprar uns brinquedinhos para meus dois irmãos menores. Mas o prazer, na verdade, era meu, de poder entrar ali e escolher algo que pudesse pagar.

Agora fico sabendo, pelo jornal, que a loja vai fechar. É a crise de novo. Não é brinquedo. Muita gente votou no atual governo para espantá-la. No pós-64 também experimentamos, como filhos de trabalhadores assalariados, uma crise de enormes proporções, pelo alto desemprego e pela inflação galopante. Isso que a tal revolução teria acontecido para frear o avanço da “terrível ameaça” do comunismo, que ia empobrecer o povo e atrasar o Brasil. Agora as vitrines da Macedo anunciam descontos de 25 a 30%, em uma tentativa de esvaziar o estoque, e fechar as portas até o final do mês. Faltando menos de 60 dias para o Natal, será um espaço a menos para visitas de olhinhos e expectativas infantis.

Para alguns comerciantes, não se trata apenas da crise econômica. A concorrência, nos últimos anos, com as lojas virtuais tem modificado o modelo de negócios e padrão de comportamento dos consumidores. Comprar pela internet entrou na rotina doméstica do brasileiro, que já perdeu aquela fobia digital, diante das novidades do mundo cibernético. Mas nem tudo são flores neste comércio. Há muita pilantragem neste universo, e ainda é comum nos depararmos com reportagens de golpes eletrônicos, gente caindo em pirâmides financeiras, produtos que não são entregues no prazo ou jamais chegam, sem que os compradores tenham para quem apelar.

Ano passado passei por uma situação angustiante com uma compra que fiz. Tratava-se de um site confiável. A questão é que, quando me decidi pela compra antecipada de um presente de Natal para minha filha, já estava em cima da Black Friday. Mesmo faltando mais de 24 horas para o início da tal promoção, a nota acabou sendo emitida na sexta fatídica. Isso significa que o prazo para entrega seria relativizado, em face do volume de compras, podendo se estender até janeiro do ano seguinte. Foi um sufoco, mas aconteceu um verdadeiro milagre. Como o Natal cairia na terça, eu precisaria receber o pacote até na segunda. Acompanhei ansioso o rastreamento do produto, que deu ingresso na sexta em Santa Maria. No sábado, o entregador do Sedex tocou no interfone. Desci para buscar a encomenda e ele me disse que fez uma entrega a duas quadras do meu prédio e que, por já ter passado do meio dia, iria voltar só na segunda para aquela região. Mas que pensou melhor e resolveu fazer assim mesmo. Eu disse a ele que só podia ser um milagre natalino.

Às vésperas de mais um período de festejos, o horizonte não apresenta sinais de bonança. Pelo contrário. Os números do desemprego, da falta de produção e de poder aquisitivo estão aí para corroborar a impressão de que a crise não vai arrefecer. São muitas as lojas, em Santa Maria, com as portas fechando. E isso não é tudo, a julgar pelo noticiário político, mais desgraças podem estar a caminho. Não é o Apocalipse, mas as pragas parecem indicar que o Papai Noel vai ter dificuldades para trazer alguma alegria.

* ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃO: Fotos Polvo.Club.

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3 Comentários

  1. Ou como qualquer empresário,igrou para atividades mais lucrativas…. Hoje, existem outras opções na cidade, antigamente não. E como foi citado, as compras pela internet vieram para ficar, a questão nestes casos é se programar e antecipar as compras!

  2. Que triste, a minha lembrança é bem sensorial, me recordo de meu pai com seu estiloso bigode anos 70, entrando na loja comigo pela mão para comprarmos o meu sonho de consumo, uma Barbie. Olha que tive que me esforçar para passar de ano, o que não era fácil, tinha que enfrentar uma banca com professora, coordenação, diretora e ler um texto, passado no mimiografo, cheirando a álcool, kkkkk. Voltando, sinto até hoje o cheiro de brinquedo novo. Misto de borracha com talco. Muitas, muitas lembranças. Tenho até hoje a boneca.

  3. Esse é o retrato do que restou ao novo Presidente administrar e o tempo transcorrido para recuperar a Economia Nacional não é suficiente para tentar o país do caos deixado por governos. É uma péssima notícia para quem conhece, conheceu a Família Macedo e a atenção prestada a todos seus clientes e computadores de todas as idades!

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