O dia seguinte
Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)
O que estamos vivendo não tem precedentes na história humana. Mesmo fenômenos globais ocorridos anteriormente – como as duas guerras mundiais, a gripe espanhola e a crise de 1929 – não tinham características tão agudas e abrangentes como as que a pandemia do coronavírus trouxe consigo.
Nas guerras, para dar um exemplo, tanto havia destruição em massa nos “palcos” dos conflitos quanto fomento à atividade econômica em outros lugares. Foi delas que os Estados Unidos emergiram como superpotência, sobretudo entre 1939 e 1945, mesmo período em que o Brasil viu nascer a siderurgia. E, mesmo com os milhões de mortos da gripe de 1918 (fala-se de 50 a 100 milhões de vítimas), o mundo não foi posto em quarentena de maneira quase simultânea, além de não haver os meios para transmitir de forma tão instantânea e dramática tantas informações.
Mas é assim, isolados socialmente, restritos aos nossos espaços privados e completamente inseguros do que nos aguarda, que nos encontramos no primeiro dia de outono no hemisfério sul.
Nesse 20 de março, tudo indica que o coronavírus abriu as portas para uma crise social e econômica sem igual, onde milhões de pessoas estão condenadas às consequências da informalidade. Sem salário, sem proteção trabalhista e sem espaços para seguirem “se virando”, o que será de quem foi golpeado pela retórica e pelos atos cruéis dos bandidos neoliberais?
Brasileiros e brasileiras viram Temer, Guedes, Bolsonaro, Mourão, Onyx, Aécio, Moro, Witzel, Huck, Hang, Dória, Rodrigo Maia, Eduardo Leite, Pozzobon, Cechin, Harrison, Edir, Maneco, Malafaia e uma infinidade de outros defensores dos interesses dos especuladores, dos banqueiros e do que existe de mais mesquinho na humanidade arrancarem meia dúzia de direitos que ainda tinham. Chamados de “novos empreendedores”, milhões de trabalhadores e de trabalhadoras passaram a viver de bicos, gourmetizados ou não pelo “charme” de um plicativo. Aliás, muitas pessoas que caíram nesse conto do vigário talvez agora aprendam de que lado da moeda realmente estão, gostando ou não disso.
Para piorar, vivemos em um país com um governante incapaz de dar respostas racionais e de apontar os caminhos para que a dura travessia, recém-iniciada, seja menos dolorosa. Na verdade, esse mesmo governante quase completou a destruição do SUS, instituição que é quem irá, ao que tudo indica, servir como última barreira à desagregação social e à morte.
Por tudo isso, temo o futuro imediato, mas também o “dia seguinte” à pandemia, quando a vida estiver tentando voltar ao normal. Com esse bando de lunáticos, incompetentes, mercenários e fundamentalistas do mercado no poder, a recuperação será pura retórica. Ou pior, tentarão usar a dura realidade para penalizar novamente as pessoas comuns e concentrar ainda mais riqueza nas mãos de meia dúzia.
Somente a nossa solidariedade, o nosso espírito comunitário e a nossa disposição para enfrentar a pandemia, os malucos e os oportunistas que estão no poder é que poderão produzir uma saída.
Que o dia seguinte a tudo isso tenha ares de primavera, até mesmo se acontecer no pior inverno.
(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.
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Observação do editor: A foto é da bandeira da Itália tremulando em frente ao Il Vittorino (Monumento Nazionale a Vittorio Emanuele II), em Roma. Foi escolhida pelo autor para homenagear a coragem e a resiliência dos italianos nesse momento tão difícil de sua história.
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