Primárias Democratas, disputa política e luta social no coração do império
Por ROBERTO GARCIA (*)
Terça-feira, 03 de março, foi uma grande noite para o ‘establishment’ do Partido Democrata e seu DNC, o Diretório Nacional do partido. A força de Bernie Sanders era conhecida desde a campanha de 2015/2016. O desafio era encontrar uma estratégia eficaz para neutralizá-la. A primeira ideia foi o lançamento de diversas candidaturas para “ampliar o campo” da disputa. A estratégia foi a de “poluir” o espaço de centro-esquerda para tentar diluir a potência da candidatura de Sanders, que desde sempre constituiu-se na maior ameaça à estabilidade do arranjo político-institucional democrata e norte-americano. Esta ideia esteve próxima do sucesso em novembro do ano passado, quando Sanders foi vítima de um problema coronariano.
Durante seu retiro forçado Elizabeth Warren projetou-se, e por algumas poucas semanas parecia capaz de ocupar grande parte do espaço político à esquerda de Joe Biden. Ocorreu, contudo, uma rápida recuperação médica e política do senador por Vermont, o que frustrou os planos da senadora de Massachusetts. Ao longo de dezembro, faltou oxigênio também para a senadora pela Califórnia, Kamala Harris, e teve início a grande aventura socialista democrática de Bernie Sanders e sua ‘Political Revolution’, aglutinando em torno de si diversas organizações políticas e sociais do campo ‘liberal’ estadunidense.
Sua defesa de um ‘Medicare for all’ (versão americana do SUS), de ensino público e gratuito e anistia às dívidas estudantis com colégios e universidades privadas, de um Green New Deal – um ambicioso plano de combate às mudanças climáticas baseado na reestruturação da matriz energética e da infraestrutura do país – empolgou a juventude e a população de menor renda que ocupa as posições de trabalho mais precárias e de remuneração mais baixa. Seguidos recordes de organização, mobilização popular e arrecadação financeira foram batidos, assustando as elites do Partido Democrata, lideradas por Hillary Clinton. Remanesciam, contudo, quase dez candidatos na corrida pela vaga democrata quando teve início a primeira disputa.
Nas maratonas é conhecida a estratégia da utilização de ‘coelhos’, corredores que largam na frente em grande velocidade, mas que todos sabem, são incapazes de manter o ritmo ao longo da corrida. De todos os ‘coelhos’ dispostos na linha de partida da disputa democrata o mais ousado foi o prefeito de lugar algum, Pete Buttigieg. Ele fez de tudo, até ‘comprar’ um aplicativo para ‘apurar’ os votos no ‘caucus’ de Iowa. O ‘sistema’ produziu uma série de ‘inconsistências’ na apuração, que terminaram por lhe atribuir mais delegados, mesmo que ele tenha feito menos votos que Bernie Sanders. Conseguiu também reduzir o ímpeto inicial de Sanders, o que não impediu, contudo, que em New Hampshire, e principalmente em Nevada, Sanders ‘triturasse’ seus adversários. A pulverização de candidaturas começou a mostrar-se contraproducente.
O próprio Joe Biden ficou sem nenhum delegado em New Hampshire porque não ultrapassou a barreira dos 15% de votos necessários. Antes do ‘caucus’ de Nevada, Mike Bloomberg, esperança de parte das elites que despejara milhões de sua fortuna pessoal em anúncios publicitários na TV, naufragava na sua estreia em um debate transmitido para todo o país. Crescia a consciência no DNC democrata de que as coisas não estavam funcionando. Pesquisa atrás pesquisa derrubavam os últimos argumentos contra Sanders. Os números mostravam seu potencial competitivo contra Trump, tal qual havia demonstrado em 2016. O que fazer?
O DNC começou a redefinir a estratégia antes da primária da Carolina do Sul. Eles precisavam parar de brincar com fogo. Resolveram suas diferenças internas em torno da única alternativa que lhes restara, o cavalo cansado do ex-Vice Presidente de Obama, Joe Biden. O eleitorado democrata da Carolina do Sul tem o maior percentual de eleitores negros de todo o país. James Clyburn, um respeitado político democrata negro, com uma carreira tão longeva quanto a de Pedro Simon, deu seu ‘endorsement’ a Biden dois ou três dias antes da disputa. Boa parte do eleitorado afrodescendente dos EUA vê com desconfiança os apelos de Sanders aos hispânicos.
Os lutadores da batalha pelos direitos sociais dos 60’s não são a vanguarda da luta por mais direitos no século 21. Sanders talvez tenha cometido um erro tático aqui. Ele vislumbrou que uma vitória decisiva na Califórnia poderia inflexionar a corrida pela indicação a seu favor de forma irreversível. Constituiu 18 comitês no ‘Golden State’, mais do que ele somente o bilionário Bloomberg, com 20. Provavelmente negligenciou os 110 delegados do velho sul, em favor dos 415 do oeste dourado. O DNC viu na Carolina uma das suas últimas oportunidades de barrar Sanders. Eles precisavam de uma grande vitória para entrar na Super Terça com uma outra narrativa.
A vitória consistente de Sanders em Nevada foi soterrada pela grande vitória de Biden na Carolina do Sul. A promessa de Sanders de incorporar milhões de hispânicos foi vendida como uma ameaça de exclusão de amplos setores da comunidade afrodescendente. A partir daí, o resto foi política pura. A combinação da renúncia dos “coelhos” com uma torrente de ‘endorsements’ nos dias que antecederam a Super Terça criaram a imagem de uma avalanche, aquilo que os norte-americanos costumam denominar de ‘landslide’ em favor de Joe Biden.
Do dia 25 de fevereiro até a terça 3 de março, nada menos do que 45 membros do establishment democrata (senadores, governadores, os até ontem candidatos Pete Buttigieg e Amy Klobuchar) despejaram seu apoio a Biden. O site ‘FiveThirtyEight’, que mede a influência destes apoios, contabilizou 420 pontos para Biden contra 70 para Sanders. No dia seguinte, o próprio Bloomberg retirou sua candidatura em favor de Biden. Então, uma grande ameaça foi enfrentada com uma grande estratégia. Quando a multiplicidade de candidaturas mostrou-se incapaz de barrar o avanço de Sanders, o DNC retirou-os do caminho, convertendo um fracasso potencial em parte da avalanche que catapultou a até então moribunda candidatura de Biden. E agora?
(*) ROBERTO GARCIA é Analista de Opinião Pública da Studio Pesquisas.
NOTA DO EDITOR: a foto que ilustra este artigo (Bernie Sanders discursando em Los Angeles, na Califórnia) é uma reprodução de internet.
Kamala Harris era promotora. Num debate ‘levou um couro’ de Tulsi Gabbard (que criticou os Clinton e se deu mal). As posições dela enquanto promotora eram conservadoras, fim da história. É cotada para vice de Biden (o candidato do sistema). Tulsi esta processando Hillary, pede 50 milhões de dólares. Esta ultima insinuou que a congressista era candidata dos russos.
Mike Bloomberg foi para um debate e ficou parecendo um pateta. Governo dele em NY tem muito marketing. Já dançou.
Buttigieg ficou sem dinheiro (como Tulsi). Fim de festa.
Tudo isto, entretanto, não tem a mínima importância. Eleição não resolve problemas (é um jogo sujo que apavora os mais fracos). Escolhe as pessoas que irão tentar resolver os mesmos. Resultados incertos. Sociedade americana está muito dividida. Também não tem santo em lugar nenhum. Antifas fazem os Black Blocks parecer um grupo escoteiro. Andar com um boné do Trump em certos lugares é pedir para apanhar. Alás, o mundo anda nervoso, na India (dizem na mídia) grupos de hindus catam muçulmanos para no mínimo dar uma coça.
Resumo da ópera: negócio é esperar.
É, porém detalhes importantes não circulam por aí. Alerta: não é defesa de Trump, é analise dos democratas. Até porque o Laranja é sintoma, não o problema.
Sanders está mais para os desenvolvimentistas do PDT do que para o socialista que dizem que ele é.
Biden quando vice-presidente teria pressionado pela substituição de um promotor que investigava uma empresa da qual seu filho era membro do conselho. Desculpas sempre se arrumam. Não é o único problema do partido. Os Clintons tem muitos esqueletos no armário e já acabaram com a vida politica de muita gente, coisas que orgulhariam qualquer Capo. Palestras super-remuneradas da mulher. Clinton não só traçou a estagiária, arrumou um emprego para ela no Pentágono e telefonou para influenciar o depoimento da mesma num processo judicial. A fundação deles é para Instituto Molusco nenhum botar defeito.
Elizabeth Warren veio do direito, era professora universitária e republicana. Inventou de afirmar que tinha ascendência indígena. Resultou que teve que fazer exame de DNA. Positivo, tem um milésimo de sangue nativo americano.