BrasilHistóriaPolítica

CONJUNTURA. Professor identifica aprofundamento do autoritarismo, mas não seria “ditadura disfarçada”

Historiador Gilvan Dockhorn, professor na UFSM: crise do país visibilizou a face de estratos da sociedade que pensam como Bolsonaro

Por FRITZ R. NUNES (com foto de Arquivo), da Assessoria de Imprensa da Sedufsm

Vivemos sob uma ditadura disfarçada no governo Bolsonaro? A essa pergunta, o historiador lotado no departamento de Turismo da UFSM, Gilvan Veiga Dockhorn, responde de forma convicta que não. Para o docente – que pesquisa há 25 anos temas como o golpe de 1964, o regime civil-militar, a transição no pós-ditadura -, a forma como o governo conduz as tensões, conflitos típicos de uma democracia, bem como o tratamento dispensado aos meios de comunicação, especialmente aqueles que tecem críticas, somado a aspectos como o incentivo a manifestações por quebras democráticas, indicam um aprofundamento do projeto autoritário do governo, o que não significa que já vivemos sob um regime de exceção.

Nesse contexto, um outro tema relevante são as constantes ameaças, seja do presidente Jair Bolsonaro, ou de pessoas próximas, como o filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de intervir nos demais poderes, especialmente no Supremo Tribunal Federal (STF), com o apoio dos militares, o que significaria um golpe de Estado, tema, aliás, citado na campanha de 2018, quando vazou um vídeo em que o outro filho parlamentar, Flávio Bolsonaro, falava na facilidade de fechar o Supremo, bastando apenas um cabo e um soldado.

Na avaliação do historiador, o modo de operar do governo é através da criação contínua de crises, daí as constantes declarações que atacam os pilares da democracia, que acabam por criar uma percepção de que as instituições estão em colapso. Todavia, assinala Gilvan Dockhorn, possivelmente não sejam as Forças Armadas, como instituição, os apoiadores do projeto autoritário em curso, mas sim, e tão preocupante quanto, as Polícias militares, principalmente dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Talvez o foco de análise e de cuidado tenha que ser redirecionado para esta corporação, seu histórico de atuação e suas condutas atuais”, pondera o professor da UFSM.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de um retrocesso democrático, Dockhorn afirma que, certa forma, já ocorre um retrocesso democrático no país, na medida em que o presidente, e seus filhos, que foram alçados à condição de membros do governo, na condição de avalizado (Jair Bolsonaro) por mais de 57 milhões de votos, não abandonou as atitudes que caracterizaram sua vida parlamentar. Nos quase 30 anos de mandatos, Bolsonaro se destacou em pelas posturas laudatórias ao regime militar, como bem exemplifica o discurso na sessão que votava o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em abril de 2016, quando saudou um ícone da ditadura civil-militar, acusado de crime de tortura, coronel Carlos Brilhante Ustra.
Contudo, na avaliação do historiador, Bolsonaro, que tem uma visão autoritária de mundo, chegou ao governo pela via eleitoral justamente pelo fato de haver na sociedade, e não seria um fato surgido exclusivamente nas jornadas de 2013, ou no movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff, estratos sociais que se identificam com essas posturas retrógradas. “A crise institucional do país permitiu explicitar uma face da sociedade brasileira, que abandonou o silêncio, unindo ricos e pobres, centrais e periféricos, e que não nega o autoritarismo e o acolhe quando lhe é conveniente; que critica os aspectos mais básicos da modernidade; que desconfia da liberdade ampla e dos direitos universais e que, por fim, está sempre à espera de um messias, agora, literalmente”, ressalta Dockhorn. Para o docente, “não foi Bolsonaro quem criou esses setores da sociedade. Bolsonaro é produto destes e os está representando adequadamente…”

PARA LER A ÍNTEGRA, CLIQUE AQUI.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Não existe crise nenhuma. Nada acima do nível pátio de escolinha de primeiro grau.
    Trump declarou que utilizaria tropas federais para acabar com a anarquia. Gerou uma ‘reação noticiosa’ medonha. Qual era a intenção?
    Trump ameaçou intervir em Seattle, ‘manifestantes’ invadiram (no mínimo) um quarteirão (números variam), inclusive uma delegacia (os policiais receberam ordens para se retirar). Qual a intenção? Sim, porque crise nas manchetes não necessariamente é crise no mundo real. O resto é mimimi.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo