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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas, parentes que vêm do acaso e amigos escolhidos. Ah, e a ‘família do Jair’

Escolhas

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Os meus três ou quatro leitores habituais já devem ter percebido o quanto gosto de buscar minhas memórias como referências para escrever. Hoje não será diferente.

Algumas pessoas talvez lembrem dos canecos de porcelana que existiam antigamente, geralmente alusivos a um baile do chope ou a um evento semelhante.

Havia alguns deles na casa dos meus pais; uns mais elaborados, outros mais simples. Entre eles, um era especial para mim, pois tinha uma frase que, sabe-se lá o porquê, me impressionava muito. Acho que, na minha cabeça de criança, ela tinha uma aura de ensinamento, de sabedoria, ao ponto de eu lembrar da frase mas não fazer a mínima ideia de qual era o “baile do chopp” que a ela estava associado.

Nesse tal caneco estava escrito que “o acaso faz os parentes e a escolha, os amigos”. Ou seja, dos eventos aleatórios nasceriam nossos laços de sangue, mas as nossas amizades resultariam das nossas opções. Por exemplo, eu chamo o Beto São Pedro de tio porque um dia minha mãe pegou um trem para lecionar na Estação do Pinhal, lugar onde nunca havia pisado antes, e lá encontrou o meu pai. Já o Beto Cassol é meu amigo porque, depois de conhecê-lo, percebi quanta afinidade havia entre a gente e “permiti” que nos tornássemos camaradas.

Na prática, sabemos que não é bem assim e as coisas se misturam ou se modificam com o andar da carroça. O Beto São Pedro é tão meu amigo quanto o Beto Cassol é meu “irmão”. Assim como meu irmão de sangue, o Leandro, também é meu amigo, apenas para citar três exemplos entre muitos outros possíveis.

Mas o fato é que, embora possamos escolher com quais parentes queremos conviver (com alguns inclusive gostaríamos de conviver mais, mas a vida não permite), não podemos deixar de tê-los como parentes. Sobretudo se são filhos e filhas, pois em qualquer situação é impossível não nos sentirmos responsáveis por eles e elas.

O que me traz à “familícia” que ocupa a presidência da República. Flávio, Eduardo e Carlos têm se mostrado calos gigantescos a incomodar o seu Jair da casa 58. Em onze meses de governo já fizeram dez vezes mais barbaridades (reais) do que todas as fakenews atribuídas aos filhos do Lula. Da rachadinha às suspeitas de envolvimento com os milicianos que assassinaram Marielle Franco, há um “júnior” com o nome envolvido e a todos eles o papai estendeu o braço protetor.

Seria “bonito” se tudo fosse restrito às vidas e negócios privados, o que evidentemente não é o caso. Não falamos “apenas” da pessoa que, sabe-se lá como, conseguiu chegar ao mais alto posto da nação, mas de uma família que vive há mais de 30 anos às custas do Estado, empregando amigos e parentes, alguns com status de fantasmas no serviço público, segundo diversas notícias.

Não creio que tudo isso seja obra do acaso. Para mim, são escolhas feitas com muita racionalidade, embaladas pelo desprezo pelos mais elementares princípios republicanos e, em muitos casos, valores humanos mesmo.

Essa imitação da política que os Bolsonaro praticam, com a conivência de Sérgio Moro e de outros “heróis” populares, está custando muito caro ao povo brasileiro. Provavelmente, custará mais ainda. A absoluta maioria da população pagará o preço, incluindo aqueles que, aqui na província, se sentem “elite”, mas não sentariam nem na terceira fila dos jantares dos grandes banqueiros ou dos especuladores que mandam no Paulo Guedes.

A boa notícia é que a mudança é uma escolha possível. Mas ela não se dará por acaso.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR:  A foto é  jovens na Pedra do Arpoador, no Rio de Janeiro.

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