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Anotações na pandemia – por Orlando Fonseca

País da piada pronta, o Brasil lança uma anedota por semana. Quem ri por último está, simplesmente, desinformado. Quem dorme na rede, está perdendo a síntese da conjuntura. E não tem mimimi, o que sobra é meme na internet. Mais do que coronavírus, cada fala do Presidente vira gozação digital.

A anedota viral da semana é o dinheiro encontrado nas nádegas do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo Bolsonaro no Senado. Ao ser abordado pela Polícia Federal, o indigitado escondeu R$ 30 mil na região glútea e suas, digamos, reentrâncias. Vai daí que, poucos dias após o anúncio do fim da corrupção no país, verbas públicas voltam a, digamos, regar a malversação das ditas (ou desditas).

– Governo anuncia que acabou com corrupção, mas ao contrário, ela abunda.

– Criou a nota de 200 pilas para dar a impressão de que está diminuindo, ao menos em termos de volume, pelo número menor de notas.

– Já que o modelito continua o mesmo, agora não é necessária uma cueca samba-canção, uma slip mesmo dá conta de acobertar os saques.

– O presidente anunciou o fim da Lava-Jato, mas já mandou a PF iniciar a operação Lava-Bunda.

– E é bom a polícia ir a fundo, porque tem novidade no transporte dos valores surrupiados.

– Antigamente se dizia que o sujeito que enriquece está sentado na grana. Agora, a julgar pelo caso do Chico Rodrigues, enriquecimento ilícito também pode dar na mesma.

– Segundo as más-línguas, esse tipo de transação já tem até nome. Enquanto no Rio, um dos filhos do presidente está envolvido na chamada rachadinha, agora, como se vê, o vice-líder do governo no Senado está emplacando a rachadona.

– E a verba desviada dos trilhos para o rego, era para a saúde, se desculpa o parlamentar pego com as cuecas na mão. Procurasse um proctologista que seria melhor.

– E o senador pego em flagrante tergiversa, dizendo que não quer manchar o seu “currico”.

– Aliás, se a moda pega, a Polícia Federal vai ter de carregar um especialista encarregado, justamente, de fazer perícias nessas áreas.

– Dinheiro legal é bufunfa; para o Chico Rodrigues, dinheiro da corrupa é bufunda.

– Dindin no bumbum seria a marchinha do carnaval, mas nem isso vai ter. Corrupção sim, presidente, não acabou.

– Parlamentares corrompidos não vão ganhar uma comissão por fora, mas uma comichão por dentro.

– Lavagem de dinheiro, no governo atual, passa necessariamente pela lavagem de roupa suja, ao menos as roupas de baixo.

– Uma coisa é certa: como ilustrou um dos muitos cartunistas que desenharam a situação do Chico Rodrigues, esta operação da PF já está nos anais do Congresso, e na longa história de piadas-prontas do nosso amado e, cada vez mais, hilário Brasil.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Observação do editor: sem autoria determinada, a imagem que ilustra esta crônica é um dos muitos “memes” produzidos pela internet brasileira ao longo da última semana.

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2 Comentários

  1. Deixando as anedotas de lado, o pior não está a vista. Políticos com redes de compra e venda de carros usados (ou seja, maquina de lavar dinheiro). Políticos cujas vacas dão 16 terneiros por ano. Muita ‘sorte’ nas loterias.
    O que leva a outros assuntos. Pipoqueiro da esquina não tem motivo e nem meios para descobrir de onde vem o dinheiro com que lhe pagam. Problema é que ninguém compra 200 milhões em pipoca. Já nas profissões onde o aspecto ‘intelectual’ (ou seja, imaterial) representa uma parcela considerável da remuneração o tempo fica nublado. Publicidade, Marketeiros. O que justifica os valores cobrados por um e outro? ‘Resultado’? Fama? E no jurídico? Milhões pagos para ex-ministros do supremo (com ‘s’ minúsculo) por umas 60 páginas de ‘parecer’ e 15 minutos de sustentação oral. Obviamente não é só isto, um lobbiezinho frente aos ex-colegas também está incluído. Escritórios de advocacia empregando familiares de ministros. Governador comprando equipamentos de empresa que contrata o escritório de advocacia da esposa do mandatário. Alás, dois ministros que tiveram uma rusga recentemente tem muito em comum, ambos tem filhas que viraram precocemente desembargadoras via vaga do quinto constitucional da Ordem.
    Resumo da ópera, senador (que é agrônomo, batateiro no jargão universitario) das piadas não atentou para o que é evidente. Falcatrua legalizada, comum no Brasil, não é crime. É tudo ‘normal’. ‘É assim mesmo’.

  2. Por partes. Trata-se de caso evidente de homofobia. Senador mete o dinheiro onde bem lhe aprouver.
    Cavalão afirmou, debochando obviamente, que acabou com Lava a Jato porque governo não teria mais corrupção. O que gerou celeuma entre os imbecis, ficaram debatendo se o senador faria ou não parte do governo.
    Rachadinha segundo alguns obviamente aconteceu. Só é bom não esquecer que o campeão é um deputado petista. Segundo colocado é um deputado pedetista. Alás, estatuto do PT, ‘Art. 184.Filiados e filiadas ocupantes de cargos comissionados, eletivos, dirigentes partidários ou parlamentares deverão efetuar uma contribuição mensal ao Partido, correspondente a um percentual do total líquido da respectiva remuneração mensal, conforme tabela […]’.
    Nesta hora aparece algum imbecil e larga um ‘reaça caiu na provocação e se queimou’. Verdade é que se objetivo era fazer graça não funcionou. Pessoal mais antigo teima em torturar os outros, acha que com o tempo aprendeu algo que nunca soube, contar piadas. Para piorar Marx era alemão, povo conhecido por muitas coisas, não pela capacidade humorística.

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