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Há 167 anos, o “Coração do Rio Grande” é um Coração de Mãe – por Valdeci Oliveira

“...Acolhedora, hospitaleira, que sonha e luta como mãe a defender seus filhos”

Toda vez que Santa Maria, o Coração do Nosso Rio Grande, comemora aniversário, um grande álbum de imagens instantâneo e diverso toma conta dos meus pensamentos. E elas, as imagens, são de lugares em que vivi, por onde andei, lugares em que fiz amizades e por onde fui em busca dos sonhos moldados pela inquietude da juventude.

De alguns locais lembro até hoje a sensação que tive ao vê-los pela primeira vez, como de certos edifícios da área central, com sua arquitetura outrora moderna, mas bela até hoje. Para quem vinha do interior do interior de Santa Maria, aquilo tudo parecia ser quase irreal, tamanha a magnitude daqueles seres de concreto que enchiam os olhos.

Às vezes, até parecia que faltavam “vistas” para dar conta de tanta novidade. Fosse no excesso de informação visual, no esforço para decorar os nomes das ruas, no aprender os caminhos mais curtos e ter na memória as linhas dos ônibus, tudo encantava ao mesmo tempo que amedrontava.

Em tempos que o efêmero dita as regras e o instantâneo digital é marca registrada do cotidiano, sei que muitos vão dizer que álbum de fotografia é coisa do passado. Prefiro pensar com a sensibilidade do grande poeta gaúcho Mário Quintana, para quem “um álbum de fotografia é um diário em silêncio”.

E esse supercaderno de imagens que me vem à mente traz inúmeros momentos que vivenciei na Vila São João, na Tancredo Neves e na emblemática Nova Santa Marta, que, além de ser um símbolo de luta, é uma das vistas mais especiais da nossa terra abençoada.

Me vejo caminhando e conversando com o povo do Parque Pinheiro, da Renascença, do Residencial Lopes e da Ecologia. Me vejo percorrendo o grande bairro Salgado Filho, a Chácara das Flores e a porção ferroviária da cidade, ou seja, a Vila Belga, o Itararé e o Campestre.

Por mais que a memória às vezes nos pregue peças ou adeque nossos desejos aos fatos realmente vividos, ela também me leva à Grande Camobi, sede de um dos maiores orgulhos santa-marienses, a UFSM; à Urlândia, à Santos, à Lorenzi, à Tomazetti, ao Boi Morto e a tantos outros caminhos especiais daquela região que faz limite com a vizinha São Sepé.

De ponta a ponta, no campo e na cidade, no centro e na periferia, da janela de casa ou do carro em movimento, vejo uma Santa Maria acolhedora, hospitaleira, que sonha e luta como uma mãe a defender seus filhos. E quanto mais perto ficamos dos seus morros, mais nos encantamos com esse território repleto de calor, especialmente de calor humano.

A cada aniversário que presencio, tenho mais certeza: Santa Maria é um território onde se cultiva sonhos e sonhos não envelhecem, como diz a música do gigante Milton Nascimento. Santa Maria é tudo e pode ser muito mais. Se a comparo com um filme, ela poderia ter as cores quentes, que manifestam em nós as mais variadas emoções. Ou os tons do preto e branco, a mostrar um clássico elegante. Se livro fosse, encontraríamos em suas páginas a mais bela história de amor, alguma trajetória de superação que nos envolve ou uma narrativa no estilo ‘realismo fantástico”, que nos leva a ir além dos limites terrenos.

Santa Maria podia ser uma tela a óleo retratando uma obra-prima, uma escultura feita no mais branco dos mármores ou uma sinfonia a acariciar nos ouvidos. Ela pode ter todas as cores da diversidade, todos os ritmos e gêneros. Como já escrevi em outra ocasião, o Coração do Rio Grande é como coração de mãe, sempre cabe mais um filho ou uma filha.

Não vou negar meu bairrismo nem o meu hábito de sempre defender e colocar Santa Maria na prateleira mais elevada, na vitrine mais bem montada. Mas isso não me impede de ver também suas contradições, com alguns tendo acesso a tudo e muitos sequer aos direitos básicos. Vejo pessoas morando em coberturas luxuosas assim como vejo seres dormindo na rua, crianças trocando a infância pelo papel de pedinte e mulheres sendo subjugadas pelo machismo que mata.

Tratam-se de desafios que precisam ser superados, especialmente a partir da força do coletivo, do respeito mútuo e da valorização daqueles e daquelas que são – e sempre foram – a locomotiva para o desenvolvimento dessa cidade: os trabalhadores e trabalhadoras das mais diversas áreas, sejam eles e elas professores, servidores públicos ou empreendedores.

Nos 167 anos do Coração Gaúcho, nós reafirmamos os nossos compromissos de nunca soltar a mão dos irmãos e irmãs santa-marienses, de jamais abandonar à Terra da Mãe Medianeira e de sempre bater no peito e afirmar em alto e bom som: Santa Maria, é muito bom viver aqui. 

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria

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Um Comentário

  1. Texto é tão generico que poderia ter sido publicado ano passado. Ou nos proximos 10 anos. Ninguém notaria a diferença.

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