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Bolsonaro usou o truque dos turistas argentinos de camuflar a placa do veículo – por Carlos Wagner

O articulista e a ação “esconde placa” do presidente em manifestação pública

Por que o presidente Bolsonaro escondeu a placa da moto na manifestação do último domingo em São Paulo? (Foto Reprodução)

Sábado, 12 de junho, dia típico do fim do outono gaúcho, frio e com um vento gelado soprado do Oeste varrendo as ruas de Porto Alegre. Acantonado perto do calor do fogão a lenha, tomando chimarrão, assistia ao noticiário sobre a “Motociata” que reuniu em São Paulo dezenas de motoqueiros pela reeleição do presidente da República, Jair Bolsonaro.

O evento tem acontecido quase todas as semanas em diversos cantos do país. A diferença do paulista em relação aos outros e que mereceu atenção dos colegas repórteres: o presidente e vários dos seus seguidores cobriram as placas das motos. A história das placas cresceu no noticiário. Não podia ser diferente. Afinal de contas, o presidente do Brasil pilotava uma moto com a placa coberta.

Por quê? Um truque publicitário para atrair mais atenção da imprensa? Por um motivo desconhecido, o dono da moto não quis ter seu nome relacionado com o do presidente? Ou foi apenas mais uma afronta de Bolsonaro à lei?

Por não estar mais trabalhando na correria da redação, principalmente nos massacrantes plantões de fim de semana, posso gastar tempo mexendo as lembranças, que são abundantes na cabeça de um velho repórter estradeiro. A placa coberta da moto de Bolsonaro me lembrou os truques que os turistas argentinos usavam durante o verão para escapar das multas de trânsito nas cidades e estradas do Sul do Brasil. Uma história que testemunhei e sobre a qual fiz muitas reportagens.

Antes de começar a conversa. Estou citando os turistas argentinos por serem eles a grande maioria entre os castelhanos que fazem turismo no verão no Brasil. E também estou me referindo a uma minoria dos argentinos que se envolveram com a ilegalidade de camuflar as placas dos veículos.

Voltando à matéria. A história começa no final da década de 80. O então presidente da Argentina, Carlos Menen, implantou a paridade do peso argentino com o dólar americano e a venda de várias empresas estatais para acabar com a inflação que na época chegava a mais de 3.000% anuais. O Brasil também estava mergulhado na hiperinflação.

Nos verões do início dos anos 90, os argentinos, com dólares no bolso, invadiram as praias gaúchas, catarinenses e paranaenses comprando imóveis, negócios e tudo que viam pela frente. Nos anos seguintes a paridade da moeda argentina com o dólar caiu e o país mergulhou em uma profunda crise econômica.

No Brasil, o Plano Real acabou com a inflação e a economia decolou. O país se tornou caro para os argentinos. Mas mesmo assim eles continuaram e continuam vindo em um número considerável passar o verão nas praias brasileiras. Uma das heranças dos tempos de Menen (falecido em fevereiro de 2021) foi a “vista grossa” das autoridades de trânsito brasileiras para as infrações cometidas pelos motoristas argentinos. Incluindo o não pagamento das multas quando voltavam para o seu país.

Nos anos 2000, a imprensa brasileira, especialmente a do Rio Grande do Sul, começou a chutar as portas das autoridades (pressionar) exigindo que disciplinassem o comportamento dos turistas argentinos no trânsito e para que as multas fossem cobradas na fronteira, na hora em que deixassem o país.

Depois de uma ampla campanha publicitária feita no Brasil e nos países vizinhos a respeito das multas, em especial na Argentina, por ser o lugar de onde procedia a grande maioria dos turistas, começou-se a cobrança das infrações nos postos da fronteira e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

No primeiro e no segundo ano de cobrança das multas dos turistas deu muito rolo. Mas aos poucos as coisas foram se acalmando e a maioria deles se enquadrou nas leis de trânsito brasileiras. Claro que restou uma minoria de “espertos”.

Um domingo, eu estava de plantão na redação quando um turista argentino foi detido na BR-290, no trecho entre Porto Alegre e Uruguaiana, por usar um sistema ilegal de placas rotativa. Ele apertava um botão e as placas trocavam. Outro foi pego com um estoque de placas dentro do carro. Ele tinha placas que só usava na praia, outra quando estava na estrada rumando para o litoral e um terceiro par que utilizava quando voltava para a fronteira.

Outro truque era sujar as placas com barro. Os policiais rodoviários que trabalharam nas estradas que dão acesso aos litorais gaúcho, catarinense e paranaense sabem muitas histórias dos “truques dos argentinos para esconder as placas do carro”.

Portanto, seja lá qual for o verdadeiro motivo que levou o presidente Bolsonaro e alguns dos seus seguidores a esconderem as placas das motos, eles não foram originais: “copiaram os argentinos”. Claro, sem a originalidade dos castelhanos. Por quê? Cobrir placa com pano ou seja lá com qual for o material é “coisa de bandido cabeça fraca”, descreveu um amigo policial rodoviário federal. Já que o fato da placa estar coberta atrai a atenção da polícia.

Seja qual for o motivo que levou o presidente da República a pilotar uma moto com a placa coberta, o certo é que virou assunto graúdo na imprensa. Justamente o objetivo de quem organizou o evento. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicanos), herói de Bolsonaro, agia assim: com um pé na legalidade e outro na ilegalidade.

O presidente do Brasil faz isso há muito tempo. Todos nós jornalistas e a maioria dos leitores sabemos que o trânsito brasileiro mata mais do que muitas guerras. Portanto, o que o presidente do Brasil fez foi como brincar de “roleta-russa”. Claro, os bolsonaristas não dão bola para esse detalhe. Mas que é importante e que sempre terá um jornalista por perto para denunciar. É assim que as coisas funcionam.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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