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CRÔNICA. E então o Pylla Kroth vai ao cinema. E não houve chance alguma de dormir. Mas as lembranças…

A Sétima Arte

Por PYLLA KROTH (*)

Às vezes fico aqui “esmiuçando” meu cérebro, indo longe nas minhas lembranças, de um tempo que sei que não voltará. E o engraçado é que isso me acontece frequentemente quando sento aqui diante deste computador para escrever minhas crônicas. Tenho para mim que tudo que vivi de bom no passado gostaria de contar-lhes.

Ocorreu que num destes momentos bateu à minha porta um sujeito para que eu o acompanhasse em uma vistoria nas salas do antigo Cinema Glória e anexo Glorinha, no prédio do qual sou administrador e faço parte do quadro de moradores.

Tempos antes o condomínio já havia recebido de seus herdeiros algumas peças daquele antigo complexo cultural da cidade e que guardo com carinho, sendo que dentre estes regalos ganhamos a antiga máquina de projeção dos filmes, uma jóia fabricada na frança com peças germânicas, dentre outros objetos de causar inveja aos aficionados pela arte do cinema. Fato é que bastou-me entrar lá que a nostalgia me acometeu de múltiplas sensações e alegrias.

A primeira vez em que fui ao cinema foi lá por 1970, ainda na minha pacata cidade. O filme em cartaz? “Ali babá e os quarenta ladrões”! (risos) Eu, menino, acostumado assistir em um televisor “Artel” em preto e branco às simples programações da TV, como Topo Gigio, Rim-tim-tim, O guarda Rodoviário, Nacional Kid, Robô Gigante, quando me abriu aquele imenso mundo colorido de 10x5m imaginem o tamanho da minha perplexidade infantil!

Agora, passados cinqüenta anos estava eu novamente maravilhado com o reencontro com uma sala de cinema, muito embora com apenas um quadro branco em minha frente. Caminhei em direção ao andar superior, onde situava se o Glorinha, pois foi ali que quando cheguei em Santa Maria no inicio dos 80 fui ver meu primeiro filme na cidade, e começou passar um filme em minha cabeça.

Lembrei-me carinhosamente do vendedor do bilhetes que podíamos ver somente o rosto na janelinha, do “baleiro”, e principalmente do “lanterninha”, aquele cara bem uniformizado e educado que mantinha a ordem e o silêncio na sala, mas sobretudo importante para mostrar o caminho das poltronas e lugares aos que sempre chegavam atrasados, como eu, no cinema. Hoje o lanterninha não faria o menor sentido. Pois as luzinhas de led colorido ao rés do chão indicam o trajeto e cada um se comporta de acordo com sua educação.

Ou seja, às vezes é um show de bla, bla, bla e até celulares ligados tocando que me tiram a vontade de ir mais seguido ao cinema, preferindo ver meus filmes no conforto da minha casa, como e quando bem entendo, pois com o tempo comecei ter sono nos filmes e quase sempre acabo tirando um cochilo nas confortáveis poltronas, o que com o preço dos ingressos atualmente vem a ser desperdício de dinheiro.

Mas enfim, voltando a minha excursão pelo cinema desativado… Que alegria senhores, que alegria. Sentei-me na cadeira e fechei os olhos por instantes. Uma doce sensação. Em menos de 30 segundos acabei dormindo e acordei com os amigos me perguntando se estava boa a dormidinha. (risos)

Mas confesso que gostei de voltar no cinema mesmo estando desativado. Mexeu fundo nas minhas lembranças e eu, saudosista que sou, gostei de voltar mesmo sabendo que, na real, estava hoje em um templo de pastores e evangélicos. Confesso que sai dali abençoado. Não tenho a certeza de que foi algum santo que me fez companhia. Pois logo na saída me deparei com uma multa do fiscal da vistoria. Talvez foi o preço de minhas entradas sem ingressos de furão no passado que agora me foi cobrado.

Seria o preço das minhas lembranças do meu tempo de prestar culto à  sétima arte em seus templos, as salas de cinema, estarem confinadas a lembranças e pura nostalgia e ao abandono de meu hábito? Quem sabe, quem sabe… Talvez na próxima mudança de cartaz eu deva ir em alguma estréia em algum dos templos que fortuitamente ainda resistem na cidade em tempos atuais e prestar minha humilde reverência.

Afinal, é aquela coisa, no dia em que só restarem mesmo lembranças, aí não adianta reclamar nem ficar suspirando “ah como era bom aquele tempo em que ainda havia cinema”, igual se faz acrescentando à mesma frase “cinema de rua”, o qual foi morrendo lentamente por falta de freqüentadores que nem pra dormir nas poltronas não se davam ao trabalho de irem mais!

(*) PYLLA KROTH é considerado dinossauro do Rock de Santa Maria e um ícone local do gênero no qual está há mais de 35anos, desde a Banda Thanos, que foi a primeira do gênero heavy metal na cidade, no início dos anos 80. O grande marco da carreira de Pylla foi sua atuação como vocalista da Banda Fuga, de 1987 a 1996. Atualmente, sua banda é a Pylla C14. Pylla Kroth escreve às quartas feiras no site.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: As fotos que ilustram esta crônica são de Arquivo Pessoal.

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Um Comentário

  1. Que loucura até eu viajei no tempo. Também não vou mais ao cinema. Mas o que me enchia de encanto era o tal canal 100.Abraco amigo

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