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Qual é a jogada de Luciano Hang, das lojas Havan, no governo Bolsonaro? – por Carlos Wagner

O que fará o empresário que é comprometido totalmente com o bolsonarismo

O empresário Luciano Hang, um dos donos das lojas Havan, vai até o fim com o presidente Jair Bolsonaro? (Foto Reprodução)

Há um hábito entre os velhos jornalistas que cobrem assuntos econômicos de consultar os empresários que trabalham com o varejo quando querem saber como anda o prestígio do governo federal junto aos consumidores. Por quê? Por ser no balcão da loja que chegam as primeiras reclamações ou elogios ao governante.

Essa informação é aproveitada pelos donos dos estabelecimentos para organizar o futuro do negócio, sejam eles grandes, médios e pequenos empresários ou um simples vendedor de bugigangas nas esquinas.

Sempre penso nisso quando ouço ou vejo os exageros do empresário Luciano Hang, 58 anos, um dos donos das Lojas Havan, com 161 filiais espalhadas por 16 Estados e mais de 20 mil funcionários. Hoje (setembro/2021), o perfil de Hang é o de homem provocativo, cínico e cruel, que ocupa a proa do bolsonarismo.

Foi essa imagem que ele mostrou durante o seu depoimento na quarta-feira (29/09), na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 do Senado, a CPI da Covid. Tentou esculachar os senadores e pregar o negacionismo do governo em relação ao poder de contágio e letalidade da Covid, que já matou 590 mil brasileiros.

As piruetas de Hang não mudarão o relatório final da CPI, que deverá estar concluído em novembro. A investigação dos senadores feita nos últimos cinco meses sobre a responsabilidade do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), reuniu provas suficientes para acusá-lo, entre outros crimes, de genocídio perante os tribunais internacionais e na Justiça do Brasil.

Hang sabe que o relatório da CPI vai indiciá-lo por financiador de fake news e por ter sido cúmplice em tornar o negacionismo de Bolsonaro em política de governo. Sabe também que o carimbo de genocida vai colar ao natural nas Lojas Havan e que isso não só afastará a freguesia como também será um empecilho caso resolva colocar ações da empresa no mercado.

Ele sabe disso há um bom tempo. Qual é a jogada que Hang está armando? Ele vai afundar junto com o governo? Para responder a essa pergunta ao leitor precisamos recuar no tempo. Até agora o empresário surfou na onda bolsonarista. Ele é o cara que passou a ditar as normas para os seus fornecedores por ser amigo do presidente.

Na briga entre Bolsonaro e a Rede Globo, em sinal de apoio ao presidente da República ele retirou os anúncios das lojas na emissora. Publiquei em 12 de novembro de 2019 o post “Luciano Hang deu um golpe abaixo da cintura na Rede Globo”.

Há um fato que me chamou a atenção durante o depoimento do empresário na CPI da Covid. O presidente da CPI, Osmar Aziz (PSD-AM), perguntou a Hang quanto faturam as suas lojas. Ele respondeu: “R$ 30 milhões ao dia”.

O número ficou solto no ar porque não veio junto com a explicação se era lucro líquido ou faturamento bruto, ou seja, sem descontar as despesas. E por ficar solto no ar, a ideia que passa para o grande público é de que os negócios Hang vão de vento em popa. Não vão.

Segundo a revista Forbes do Brasil, de 2020 a 2021 o empresário viu diminuir o seu patrimônio em R$ 5 bilhões – eram R$ 20,2 bilhões, baixou para R$ 15,1 bilhões. Para um simples mortal, um patrimônio de R$ 15,1 bilhões é dinheiro que não acaba mais. Mas não para um grande empresário, principalmente do setor varejista, que é o primeiro a ter prejuízos quando o vento muda de lado na economia.

Os prejuízos econômicos do Hang aconteceram por que ele aderiu ao bolsonarismo? Não, ele já vinha tendo problemas para enfrentar a concorrência, que no setor varejista é cruel. Viu na ascensão do bolsonarismo uma oportunidade de negócios e mergulhou de corpo e alma.

A sua intenção, segundo conversas que tive com colegas, era navegar na onda de prestígio do presidente e ter condições de assumir o lugar do senador Espiridião Amim (PP-SC), também bolsonarista. Mas Amin é um político de prestígio no Brasil, inclusive entre os seus adversários.

Hang tem dinheiro. Mas nunca teve prestígio político junto à elite de Santa Catarina. Amim não precisa de Bolsonaro para sobreviver politicamente. Hang precisa.

Frente a esse contexto, qual é a jogada que Hang está armando? Ele vai botar parte das suas fichas na reeleição de Bolsonaro. E outra parte na sua sobrevivência política, caso o presidente não seja reeleito. Inclusive pode concorrer a um cargo na Câmara dos Deputados.

Aqui é o seguinte. Existe entre os seguidores do presidente da República a convicção de que o bolsonarismo não será extinto se não ocorrer a reeleição de Bolsonaro. Eles acreditam com muito ardor que o movimento veio para ficar. A exemplo do que aconteceu com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano).

É um raciocínio lógico. Mas tem uma coisa. Trump não enfrentou uma CPI da Covid. Inclusive a seu favor há o fato de que comprou as vacinas na hora certa. Os bolsonaristas terão que conviver por muito tempo com as acusações feitas pelo relatório da CPI da Covid. E não é pouca coisa.

Lembro que outro empresário, Carlos Wizard, paranaense, fundador de escola de idiomas, aderiu ao bolsonarismo e foi depor na CPI da Covid, acusado de ser comandante de um Ministério da Saúde alternativo. Ele enfiou a suas convicções políticas no saco no momento que o negacionismo do governo começou a afetar os seus negócios.

Hang já foi longe demais para ter essa opção. Esqueceu um ensinamento que o dono de loja aprende no balcão atendendo o seu cliente. “O bom balconista não mistura os seus negócios com assuntos de futebol e política porque o cliente tem sempre razão”.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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