Naqueles dezembros – por Célia Maria Albino Maciel

O que recordo de dezembro não é a falta dos presentes sob a árvore, nem a não-existência da árvore. Não é do oratório no quarto da vó, ou da missa do galo na Matriz. O que recordo não são as coisas poucas sobre a mesa. Refresco. Salada de frutas. Uma cuca recém-saída do forno do fogão à lenha.
O que recordo deste mês não é nem o prenúncio das pêras que comeríamos em janeiro e fevereiro e que de certa forma seriam bem-vindas porque matariam um pouco a nossa fome. O que recordo também não é o início do verão e o fato de ganharmos, eu e minha irmã, na entrada da estação, dois cortes de tecidos de algodão. Um para uma saia e o outro para uma blusa. Feitas pelas mãos da mãe, para fins de economia.
O que lembro, não são as cigarras e as pombinhas-rolas alvoroçadas nas tardes que antecipavam o Natal. Também não é o alívio dos tempos de aula porque teríamos um longo, longo tempo de não fazer nada que, para nós, significava tomar banho no rio Jacuí, ler tardes inteiras até o escurecer, brincar nas praças da cidade que naqueles dezembros existiam, e no próprio quintal da nossa casa.
O que lembro de dezembro não é ainda o irmão que foi embora, sem ter dado abraço em ninguém. E o calor daqueles dias tristes. No entanto, sem dúvida, a lembrança definitiva deste mês é a da mãe, de banho tomado, depois de passar a noite fazendo doces por encomenda, sentada numa cadeira na sala, usando um vestidinho simples de pano floreado. Pois, o que lembro era do cheirinho da mãe. E do seu frescor, presente de véspera.
A crônica
Naqueles dezembros, de Célia Maria Albino Maciel, de Porto Alegre, conquistou 2º lugar na categoria Crônica no 29º Concurso Literário Felippe D’Oliveira, em 2006. A publicação foi autorizada pela Secretaria Municipal de Cultura de Santa Maria. Crédito da imagem que abre a página: Svetlanabar / Pixabay.
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