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A geração de políticos pós-ditaduras na América Latina – por Michael Almeida Di Giacomo

Demandas diferentes de quem está há pouco na lida. Chileno Boric é um caso

A troca geracional de políticos no continente é uma realidade que está a ocorrer de forma gradual e constante. E não é algo simples de ser administrado, pois a burocracia interna dos partidos – em muitos casos – ainda é avessa à abertura de espaços a lideranças jovens.

Um fato determinante do que podemos esperar sobre a primeira parte do presente século, é que parte desses novos líderes tiveram o início de sua militância política ou nasceram, sob um ambiente democrático – ou seja, tem demandas diversas dos que lhes antecederam.

O exemplo mais recente é Gabriel Boric, eleito presidente do Chile.

Nascido no ano de 1986 – 4 anos antes do final da ditadura Pinochet, é o primeiro líder progressista a vencer uma eleição nacional que não pertence a “Concertación por La Democracia”, depois “Nueva Mayoria” – formada por políticos que lutaram contra o regime, que vigeu de 1973 a 1990.

A sua liderança tomou forma a partir da atuação destacada que teve no movimento estudantil e nas manifestações ocorridas em 2011. No ano de 2013, de forma independente, sem participar de uma coalização política, foi eleito membro da Câmara dos deputados. 

Na eleição presidencial, Boric se aproximou de políticos do campo social-democrata, o que lhe deu uma margem maior de votos na disputa que se mostrava polarizada.

Há outros tantos exemplos na América Latina, como Andrés Aruz, no Equador. No Brasil, curiosamente, são os partidos considerados de centro que buscam consolidar a atuação de novos quadros políticos no cenário nacional.

O PSDB, após a liderança eleitoral exercida por Fernando Henrique Cardoso e José Serra – políticos exilados durante a ditadura militar – colocou em evidência o nome de João Dória e Eduardo Leite.

O primeiro – nascido antes de 1964, ingressou na vida pública no ano de 1983, na gestão de Mário Covas. A primeira disputa eleitoral de Dória somente ocorreu em 2016, ao ser eleito prefeito de São Paulo. 

Eduardo Leite, por sua vez, nasceu em 1985, três anos antes da promulgação da Constituição Cidadã, que marca o reencontro do país com o ambiente democrático. Atual governador gaúcho, antes vereador e prefeito de Pelotas, é considerado desde sua primeira disputa eleitoral – 2004 – como uma das lideranças a representar a renovação do partido.

No PMDB, atual MDB, a pré-candidatura da Senadora Simone Tebet – desde que o deputado federal Baleia Rossi assumiu o comando nacional do partido – marca uma série de renovações internas na agremiação política.

A primeira vitória de Tebet nas urnas ocorreu no ano de 2002, ao ser eleita deputada estadual. Foi ainda prefeita e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. O próprio Baleia Rossi, que tem 49 anos, elegeu-se vereador de Ribeirão Preto, em 1992, com vinte anos de idade.

Esta é uma realidade que às vezes é pouco percebida –  a renovação de gerações – mas que traz elementos importantes para que consigamos antever um pouco sobre o que o futuro próximo poderá nos ofertar.

Por fim, tenho plena convicção de que a importância capital da renovação não deve ser vista exclusivamente pelo viés geracional, pois de nada servirá se a prática política também não for contemporânea. Esse foi um dos motivos pelo qual não citei nenhum nome do Partido Novo, por exemplo.

Sem desmerecer a experiência de muitos – que obviamente tem seu grau de importância -, acredito que a geração que entende o nosso século – uma sociedade conectada e digitalizada –  tem muito a oferecer para que possamos resolver as demandas sociais que nos desafiam.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Nota do Editor: a foto (sem autoria determinada) que ilustra este artigo (com o presidente do MDB, Baleia Rossi, e a senadora Simone Tebet, do mesmo partido) é uma reprodução do portal Radio Hora (AQUI).

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3 Comentários

  1. Simone Tebet é mais uma do juridico. Filha de politico. Perdeu o pai em 2006, talvez por isto fique precipitando certas situações como diz o outro. E o resumo da ópera é bastante óbvio, mudança de nomes, mudança generacional, mas só. Nada novo. Pai de Dudu, o impostor, tentou a prefeitura de Pelotas. Doria é filho de deputado federal. Alás, vi um critico gastronomico comentar num podcast que o Novo, o partido, é um filet mignon, caro e totalmente sem gosto. O busilis é: enquanto ‘Os Donos do Poder’ continuar uma descrição do que se vê não há que se falar em ‘renovação’. Há que se observar as praticas, não o discurso ou o marketing.

  2. Efeagá e patota são ultrapassados, anacronicos. Como velhos que são querem valorizar a ‘experiencia’ que já não serve para mais nada. Cabeças grisalhas que não gostarem podem falar o que sabem sobre Industria 4.0, inteligencia artificial, papel global da China, decadencia do Imperio Americano, etc. Historiadores franzirão o cenho, geralmente supervalorizam o que aconteceu no passado, querem aplicar receitas antigas em contextos diferentes. Doria é puro marketing, tem gente por tras que não aparece, óbvio. Como os encontros Molusco com L. e Picolé de Chuchu, Kassab fica de papagaio de pirata. Tudo ‘gente boa’. Dudu, o impostor, é cria de servidores publicos. Filhinho da mamãe, causidico, conhece o mundo pelos livros e por visitas ocasionais. Não é o que o marketeiro dele diz que é. Nisto não difere muito de dória.

  3. Gabriel Boric vem da classe media alta. Filho de engenheiro, estudou em escola bilingue e tem um curso de direito incompleto. Esquerda se aproxima do discurso social-democrata. Praticas a ver. De qualquer modo, Venezuela termina o ano com PIB per capita, a verificar, inferior ao do Haiti. Argentina continua na espiral descendente, negaceia um acordo com o FMI. Não está facil por conta dos calotes anteriores e por promessas que não têm como ser cumpridas. Mundo mudou horrores e a America Latina (como a Central) divide-se em ‘failed states’ e paises que estão parados. Ou seja, estão na fila para equipararem-se aos primeiros.

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