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Os dois Brasis de 2021 – por Leonardo da Rocha Botega

As duas imagens que encerram “o ano três da Era dos Absurdos” neste país

2021 chega ao seu fim. O ano três da Era dos Absurdos finalmente termina. Termina com duas imagens que podem perfeitamente resumir o que o Brasil vivenciou ao longo desde e dos últimos anos. A primeira imagem é de um mutirão de ajuda aos desabrigados pelas chuvas na Bahia. A segunda, é a de um senhor de meia idade despreocupado, curtindo suas férias no litoral dançando uma música de debocha daqueles que não concordam com sua visão de mundo.

Uma imagem que pode ser naturalizada em um país em que boa parte de seus cidadãos vive, como escreveu Marcelo Yuka, “de frente por mar, mas de costas para o mundo”. Porém, um detalhe faz dessa imagem um retrato da ausência de humanismo: o senhor de meia idade nada mais é do que o presidente da República. Aquele que, assim como fizeram outros presidentes, diante de outras catástrofes, deveria estar à frente das medidas de defesa do seu próprio povo.

Ao longo de 2021 assistimos mais uma vez o Brasil profundamente dividido. Desde pelo menos 2014, vários intelectuais e órgãos de imprensa têm falado em polarização. Alguns “jornalões” chegaram a falar inclusive em “escolha difícil” no segundo turno das eleições de 2018, onde a disputa se dava entre um democrata e um protofascista. Os mesmos que hoje anseiam por uma Terceira Via que siga os passos do programa econômico antipovo, mas que (no jargão popular) “coma de garfo”.

A polarização existe obviamente. Mas não é a polarização de dois lados de uma mesma moeda chamada projeto de poder. É polarização que trouxe à tona, diante da pior pandemia mundial desde 1918, dois “Brasis” que sempre existiram: o Brasil da solidariedade e o Brasil do desprezo.

Um Brasil que sempre esteve presente de forma aberta no nosso cotidiano e outro que saiu das entranhas da nossa velada hipocrisia histórica para demonstrar à luz do dia o ódio que normalmente transparecia após a terceira ou quarta cerveja.

O primeiro Brasil, o da solidariedade, esteve presente nos Postos de Saúde e nos espaços improvisados de uma vacinação desde o dia 17 de janeiro de 2021, o Domingo da Esperança. O domingo da emoção em ver a enfermeira Mônica Calazans ser a primeira brasileira vacinada contra a Covid 19 no país.

O segundo Brasil, o do desprezo, esteve presente na intensa rede de fake news, oficiais e não-oficiais, disseminada com o objetivo de fazer com que o povo brasileiro não se vacinasse diante de um cenário onde o país, apesar de possuir 2,7% da população mundial, representava 17% dos óbitos mundiais pela Covid-19.

Esse mesmo Brasil do desprezo teve suas vísceras expostas por uma CPI que revelou que, por trás das propagandas governamentais de que remédios de vermes curravam um dos piores vírus que apareceram nos últimos 500 anos, havia um grande experimento de extermínio e lucro.

Genocídio! Sim! Não há outra palavra! Não há como amenizar a transformação de centenas de pacientes em cobaias na máquina de morte criada por alguns hospitais e planos de saúde privados com o incentivo do próprio governo.

Mas, apesar do Estado de Choque diante da barbárie, o Brasil da solidariedade não ficou estático. Saiu às ruas (com os devidos cuidados de si e do outro) e gritou por Vacina, Pão, Saúde e Educação. Organizou mutirões de arrecadação e distribuição de alimentos, olhando para milhões de brasileiros e brasileiras que vivem em situação de insegurança alimentar em um país que, segundo a FAO/ONU, havia saído do mapa da fome em 2014. Somente até julho, o MST havia distribuído 1 milhão de marmitas e 5 mil toneladas de alimentos.

Enquanto isso, o Brasil do desprezo saia às ruas para atacar a democracia e apoiar os devaneios golpistas, em um 7 de setembro onde o presidente dormiu pensando que era Mussolini e acordou como uma versão piorada de Odorico Paraguaçu.

A realidade bateu a porta, trazendo novamente à tona o verdadeiro despachante da elite antipovo e uma “carta-desculpa” que tem tudo para ser um dos mais ridículos documentos públicos da História do Brasil.

Quem sonhava com um golpe viu os altos-escalões do autointitulado “poder moderador” da República se locupletar com picanha, whisky, salmão, filé-mignon e bacalhau, pagos com verbas do combate à Pandemia.

Enquanto isso, filas do osso e 19 milhões de brasileiros e brasileiras passando fome. 13 milhões de desempregados e desempregadas! Mas o que são esses números para quem não se indigna com a retirada dos direitos da população a partir de um esquema nefasto chamado Orçamento Secreto? O que são esses números para quem despreza à vida?

Este embate entre o Brasil da solidariedade e o Brasil do desprezo não terminará com o findar do ano. Seguirá por muitos e muitos anos ainda. É muito difícil fazer a mesquinharia, a falta de empatia e o ódio voltarem para as cavernas em um país onde as desigualdades sociais e a Necropolítica são tão naturalizadas como o nosso.

2022 será um ano decisivo para mostrar que a solidariedade é maior que o desprezo! Para mostrar que o povo brasileiro merece algo melhor do que a estupidez! Que tenhamos um 2022 cheio de Esperanças!         

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

Nota do Editor. As duas fotos (da cheias na Bahia e do recesso de fim de ano do Presidente Bolsonaro) que ilustram este artigo são reproduções obtidas na internet.

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2 Comentários

  1. Pais nenhum ‘sai do mapa da fome’. Maximo que acontece é o mapa apresentar uma situação melhor. Segunda cascata, a fonte original é a FAO/ONU, a segunda é o MST, totalmente ‘confiável’ e ‘verificavel’. Devaneios ‘golpistas’ são mais uma ‘narrativa’. ‘Solidariedade’ e ‘desprezo’, adjetivos de costume. Mesquinharia, empatia, ódio (tragam os meus sais! chilique!). 2022 vai ter vermelhinhos fingindo que não são vermelhinhos, falando as mesmas m. de sempre. Ou seja, risadas não faltarão! Kuakuakuakua!

  2. Kuakuakuakua! Senhor de meia idade já sabe que não se reelege. Quanto a Bahia, antro petista, não há o que faturar politicamente por lá. Só mandar dinheiro. Cuja maior parte vai parar não se sabe onde, menos onde deveria ir. Vide Argentina. Ofereceu o envio de 10 pessoas para ‘auxiliar’. Gesto ‘simbolico’, coisa de cabeça de bagre. Governo de lá não consegue entabular um pedido de penico ao FMI e quer ‘ajudar simbolicamente’. ‘Intelectuais’ (obviamente de esquerda) e orgãos de esquerda (jornalistas, esquerda, desacreditados): somando o QI de todo mundo não dá 80. Simples assim. ‘Solidariedade’ é uma palavra bonita, rendeu um porto para Cuba, metrôs na Venezuela e muitas obras mundo afora. Por fora também deve ter voltado a ‘comissão’.

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