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Quando tentarem te calar – por João Luiz Vargas

O episódio em que o prefeito teve sua palavra cassada por um burocrata

Prefeito João Luiz Vargas tenta colocar democraticamente sua posição, mas foi impedido pelo presidente da Corsan (foto Divulgação)

Vem de longe a tentativa de calar aqueles que fazem da voz a única arma. Nesse ambiente de polarização, o Brasil virou a arena dos que gritam para a sua plateia, como se a divergência de opinião não fosse a base da democracia. Pois nesta sexta-feira, tenho muito a dizer.

Em ritmo de férias e na iminência do período momesco, embalado pelas marchinhas de carnaval que minha neta selecionou para o pendrive que estou escutando no rádio de uns dias para cá, acompanhei um grupo de prefeitos lá em Porto Alegre, na sede da Corsan, para conhecer o presidente da companhia. Montamos uma comissão de gestores que está tentando entender o que quer dizer o Governo do Estado com o tal “aditivo” que estamos sendo pressionados a assinar, para que a Corsan seja vendida nas próximas semanas.

Éramos mil palhaços em um salão mal ventilado, no alto de um prédio sofisticado e antigo da Rua Caldas Júnior, ouvindo um banqueiro paulista, assessorado por brilhantes advogados, dizendo que as cifras da Bolsa de São Paulo é que vão irrigar um Rio Grande próspero nos próximos anos.

Vendendo por baixo, menos que a FIPE das empresas de saneamento, já dá para tirar a vaca do brejo e – principalmente – do colo da CORSAN a responsabilidade de espichar redes de água e de esgoto pelos distantes rincões em que vivem, sedentos, gaúchos que amarguram a maior estiagem da história.

Nossas dúvidas eram costuradas por argumentos serenos dos prefeitos Paulinho Salerno, de Restinga Seca, Beto Turchiello, de Jaguari, o Xiru de Formigueiro, o Matione de São João do Polêsine e o Ivorizinho, filho do meu grande amigo Ivori, lá de Nova Esperança do Sul. Aliás, que geração de políticos bons. Um prefeito melhor que outro. Serenos e convictos de que qualquer decisão tem que ser bem conversada, porque impacta no futuro das comunidades.

Foi aí que eu tentei falar para o presidente da Corsan das minhas angústias. Talvez pela emoção de ser moço antigo, dos que não foram talhados pelo brilho das bolsas financeiras, nem seduzido pelo aspecto fino dos cristais, versejei inquietudes de um prefeito simplório, mas que sabe que os problemas das cidades depende de investimento público e que na mão da iniciativa privada não há caridade, não há meio termo, e o rico e o pobre caem na mesma vala comum, sendo que só um deles tem condições de sair do atoleiro sozinho. Ao invés de me acolher, ele pediu para que eu calasse, pois a pauta da reunião não era aquela.

Aprendi com o velho pracinha Basileu, meu pai, que o silêncio é a melhor arma na guerra em que os poderosos esperam que tu perca. Foi assim que fiz. Em respeito a serenidade e maturidade dos jovens prefeitos da região, que têm sido obstinados em buscar a melhor alternativa para seus municípios.

Quando tentarem te calar, dê ao teus algozes aquilo que eles acham que conseguem te tomar. O silêncio de uma sala pomposa, no alto de um edifício fino da capital, nada tem a ver com a luta que permanece viva nas pequenas cidades desfavorecidas do Rio Grande do Sul. Nunca será um despolido jogador de mesas de apostas da bolsa de valores de São Paulo que vai conseguir abafar a nossa voz.

(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve no site às sextas-feiras.

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Um Comentário

  1. Belo texto do Prefeito João Luiz Vargas, só comprova sua grande sabedoria. Inteligência emocional é tudo nos momentos das difíceis relações. Se você tenta bater num toco é provável que só se machuque, agora se puder corta-lo é certo que se livrará dele definitivamente. Nunca você conseguirá construir uma agenda positiva com um ser desonesto. O Prefeito Vargas sabia disso e compareceu em Porto Alegre apenas para desmascarar um pouco mais aquele que já se tornou uma piada de mau gosto pelo Rio Grande afora.

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