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Crianças – por Marcelo Arigony

E aí, perto da meia noite, a “batatinha” pula na cabeça do cronista

São 23h54 de segunda, quase terça-feira. Eu sentado ao lado da cama numa poltroninha companheira que comprei pelo mercado livre. Tentando me concentrar para escrever algo minimamente palatável.

Aqui, pulando em cima da minha cabeça, uma batatinha de ano e meio que dormiu à tarde, e agora não tem sono. Achou um papel de chocolate na cômoda, tá lambendo e me puxa pela mão: – ati, ati, bamo, bamo pai. Quer ir à cozinha, onde ela sabe que tem sobra da páscoa. E a cabrita buzina comigo porque a guria tá lambendo o chocolate.

A outra pequena, uma lagartixa gadelhuda de quase sete anos, agitou com a bagunça e também não quer saber de sono. Quero ver acordar pra aula amanhã de madrugadinha… e eu também!

Aí me mandou essa:

– Pai, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? (Isso é coisa que se pergunte à meia-noite?)

– Bah… acho que um dinossauro gabiru botou um ovo metamorfoseado. Deve ter nascido um pinto mutante, algo tipo um X-Men dos pintos. E isso pode inclusive ser a origem do homo sapiens. Se procurar bem nos rascunhos do Darwin acha, ou no livro do Yuval Harari. Pede pra professora…

– Pai… tô sem sono, comi demais. Por que a gente perde o sono quando come demais à noite e fica com sono quando come ao meio dia?

– Não sei Isabela! Vai pro teu quarto dormer, criatura!

A essa alturas a batatinha se acalmou. Tá me cuidando de canto, enquanto mama num têto (sic), agarrada no outro, pra garantir que eu não vá pegar.

Essas crianças acabam com a vida da gente… com a vida antiga. Tudo o que a gente faz é pensando nelas. O carro que a gente compra, a casa, a comida, o orçamento, a agenda é toda organizada pensando nelas. Minha vida é uma odisseia semanal, um videogame pitfall. Mas elas nos trazem alegrias que dinheiro nenhum pode comprar. Fazem coisas que deixam a gente pensando… e aprendendo com elas a cada dia.

E o sorriso (!) quando nos enxergam ao final do dia, ou quando a gente chega para buscar no colégio. Os filhos são o milagre da vida. Todos deveriam ter filhos, sejam biológicos, adotados, emprestados, filho-sobrinho, filho-avô, filho-irmão… Tenham filhos! O abraço carinhoso e despretensioso de uma criança libera a endorfina do big bang. Inefável. Não há vida plena sem essas pequenas criaturas incomodando em volta.

Bom, vou parar por aqui. A batatinha dormiu e a cabrita me piscou. Tinha sentido uma nota daquele creme com macadâmia no ar… acho que sobrou um têto (sic) pra mim…

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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