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Ciro Gomes não quer engolir o “sapo barbudo” – por Michael Almeida Di Giacomo

O que pensaria Brizola da estratégia do neopedetista candidato ao Planalto?

O carazinhense Leonel Brizola, como o próprio gostava de dizer, “vinha de longe”. O “caudilho”, como também era conhecido, considerado herdeiro político de Getúlio Vargas e João Goulart – não tenho dúvida – é o brasileiro de maior expressão política do seu tempo.

Aquinhoado com uma oratória singular, em tom bucólico, desde o início de sua militância, na vice-presidência do Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos – do qual foi um dos fundadores – era também reconhecido por sua capacidade de criar apelidos para outros políticos.

Um dos apelidos a ficar mais conhecido no meio foi dado a Lula, em 1989.

Brizola, após não ter obtido êxito, por mais de uma vez, na corrida eleitoral à presidência da república, ao anunciar apoio a Lula – como uma provocação às “elites” – foi enfático ao dizer: “A política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante agora a elite brasileira engolir o Lula, este sapo barbudo”.

Brizola faleceu em 2004, um ano e meio após Lula assumir seu primeiro mandato na presidência, em 2003. Logo a seguir, sem a presença física do seu maior líder, o PDT lançou mão de neófitos na sigla para disputas no âmbito nacional.

Primeiro foi com o ex-petista Cristovam Buarque, em 2006.  Após a derrota, o partido de Brizola decidiu participar da coalizão que dava sustentação política a Lula, então reeleito. Adiante, também não demorou muito para que o rompimento entre os principais partidos da esquerda colocasse o PDT, digamos, longe do poder.

Após anos sem conseguir forjar um líder de expressão nacional, o partido recebeu a filiação de Ciro Gomes. Político radicado em Sobral, no Ceará, o ex-prefeito de Fortaleza e ex-governador do estado, não se cansa de usar as políticas públicas implantadas no estado como exemplo de que é um gestor confiável e habilitado para resolver os problemas do Brasil.

O discurso de Ciro Gomes, há tempos, se encaixa no campo da centro-esquerda, numa linha mais, digamos, ortodoxa, sem “costear o alambrado” – como falava Brizola – ao se referir aqueles aliados que iam se distanciando de um determinado grupo político. A sua forma de atuar lembra muito os velhos caudilhos latino-americanos, pois trabalha na lógica do enfrentamento a um determinado “inimigo”. O seu “modus operandi” só tem sustentação se ele encontra um “alvo”. 

Hoje, na tentativa de romper a polarização no cenário nacional, posta entre Bolsonaro e Lula, Ciro mira o último como “alvo”.  E, em simetria às elites brasileiras, não aceita engolir o “sapo barbudo”. 

Ao se colocar como um candidato do campo da esquerda, e tentar desconstruir a imagem do petista, Ciro Gomes usa a mesma estratégia bolsonarista, ou seja, busca conquistar o voto anti-petista e, quem, sabe chegar ao segundo turno.

É difícil, após longa passagem do tempo, mensurar o que o “velho” Brizola diria a respeito da estratégia de Ciro. O primeiro resultado, a meu ver, é que o debate entre os principais nomes no pleito, foge do que realmente importa, no caso, encontrar caminhos e consensos para resolver os problemas da nação.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a foto (de Divulgação) de Leonel de Moura Brizola em comício, que ilustra este artigo, foi retirada do site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Você a encontra AQUI.

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2 Comentários

  1. Brizola está morto. É bom lembrar, o que ele acharia ou deixaria de achar é ficção. Obviamente para afirmar que ele deveria apoiar Molusco com L., o honesto. Outro aspecto, o candidato dos ‘defensores da democracia’ comprava o Congresso no Mensalão, no Petrolão e agora ofereceu Minas e Pernambuco para Kassab. Sabe-se lá o que ofereceu para Ciro da Massa. Que tem um monte de problemas e teve o tapete puxado para favorecer a candidatura de Dilma, a humilde e capaz, pelo menos uma vez. Pode repetir na campanha o que fez com Marina, uma campanha suja, com até anuncio de comida sumindo na mesa. Observando o cenario de forma mais ampla uma desistencia de Ciro da Massa (para uma ‘vitoria petista no primeiro turno’) seria o golpe de morte no trabalhismo tupiniquim. O ultimo de uma serie que o Molusquismo aplicou. Pais não vai ter azar para sempre. Molusco com L., o honesto, esta prestes a completar 77 anos. Em breve deve se encontrar com Brizola. Num lugar onde não falta agua quente para o mate.

  2. Se por “principais nomes” entende-se os 2 primeiros colocados nas pesquisas, é justo afirmar que eles não apresentaram caminhos e consensos claros. Mas se aí é pretendido colocar o nome de Ciro, é injusto. Ele é o candidato que mais tem apresentado propostas, escreveu um livro sobre isso, diz o que é como precisa ser feito e não se furta à crítica e outras proposições.
    Quanto ao memento dos que nos precederam, é difícil negar que o caminho de Ciro não seja o mesmo forjado pelo Engenheiro Leonel: um país e um povo soberano, criança na escola e trabalho digno.

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