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Máscaras que se beijam – por Bianca Zasso

Sobre o primeiro longa de Fábio Leal: “Seguindo Todos os Protocolos”

Quem acompanha os festivais de cinema brasileiros sabe que, para a tristeza da cinefilia nacional, poucas das obras apresentadas nestes locais ganharão as telas dos cinemas comerciais. Com orçamentos baixos e poucos espaços destinados a filmes que não sejam blockbusters estrangeiros, muitas obras poderosas não encontram o espectador. Logo, é preciso comemorar quando uma delas consegue o apoio necessário para entrar em cartaz.

Seguindo Todos os Protocolos, primeiro longa-metragem solo do pernambucano Fábio Leal, foi a produção escolhida para o projeto Sessão Vitrine, promovido pela Vitrine Filmes, e tem sua estreia marcada para o dia 23 de junho. Antes disso, ele será exibido na décima primeira edição do festival Olhar de Cinema, em Curitiba. Muitos dados para um filme que é, antes de qualquer coisa, feito de almas ardentes e afetuosas em medidas bem semelhantes.

Premiado com o troféu Helena Ignez na última edição da Mostra de Tiradentes, em Minas Gerais, Seguindo Todos os Protocolos tem o próprio Fábio Leal como protagonista, mostrando um talento que já era perceptível em trabalhos anteriores como o ótimo curta Reforma, de 2018.

Chico, seu personagem, vê a vida pandêmica passar da janela de seu apartamento, enquanto pesquisa sobre a Covid-19 e tenta, ao máximo, se proteger dela. Discussões amorosas em formato on-line, muito tempo nas redes sociais e a antes simples ida até a farmácia transformada num desafio de sobrevivência são alguns dos elementos da produção. Mas o que interessa ao roteiro e, principalmente, à câmera de Leal é o desejo. Quando o mundo pede isolamento, como lidar com nossa necessidade natural de contato? 

Se o beijo e o toque tornaram-se perigosos, o que fazer com o tesão que insiste em continuar mandando recados? Já na sinopse, Seguindo Todos os Protocolos deixa claro qual a sua proposta: “após ficar 10 meses em quarentena, Francisco quer transar.”. Simples, mas também complexo.

A saga de Chico para encontrar sexo no meio da pandemia é permeada por outras questões também atuais. Sabendo que nem todo mundo está se cuidando, confiar é um verbo complicado de ser vivido. Beijar de máscara é o menor dos problemas. As cenas em que o protagonista orienta seus pretendentes a um encontro sobre PFF2, cortinas de plástico, álcool em gel e outros elementos agora comuns ao nosso cotidiano, são engraçadas num primeiro olhar.

Mas bastam alguns segundos para nossa risada dar lugar a pensamentos quase melancólicos. Os cuidados que rendem piada na tela nos mostram que os tempos são mais sombrios do que imaginávamos. Nosso desejo existe, mas vale a pena se deixar levar por ele e correr o risco de perder a própria vida? Medo de morrer e uma vontade matadora de fazer sexo. Eis o dilema de Chico. E talvez de todos nós neste nem tão novo contexto.

Gravado em plena pandemia, Seguindo Todos os Protocolos tem algumas das cenas de sexo mais interessantes do cinema atual. Tem um humor delicioso sem esquecer do erotismo. Leal sabe equilibrar corpos nus e fantasias sem cair no fetiche barato. O olhar sobre partes do corpo nem sempre associadas ao sexo, são de uma delicadeza ímpar. E é com essa delicadeza que o diretor traz para dentro da história a vigilância que tomou conta das redes sociais. As pautas progressistas são importantes, mas será que estão apresentadas da melhor maneira?

O toque de mestre de Leal é colocar o próprio Chico como alguém que critica atitudes tidas como erradas sem parar para pensar nas escolhas de quem as fez. No fundo, ele também gostaria de uma certa coragem perigosa para sair por aí atrás de alguém como se não houvesse coronavírus. Equilíbrio é algo em falta no mercado, pelo menos para uma parcela da população e o filme solta no ar possibilidades de discussão muito inteligentes.

No meio da política, a violência também se faz presente, numa cena que beira o estupro e tira o fôlego do espectador. O riso, o medo, o choro. Talvez por tantas emoções comungarem ao longo do filme, Seguindo Todos os Protocolos opta por uma fase final lúdica. De tanto procurar o gozo, Chico encontra no afeto o verdadeiro prazer e faz questão de mostrá-lo como ele acontece dentro da gente: com brilho, cores e formas únicas.

A bela cena final do longa diz muito mais do que parece. A geração que vende “good vibes” e skincare diário nas redes sociais ou os que ditam regras alegando buscar uma sociedade mais livre também hão de encontrar uma pedra no meio do caminho. E Leal pode ser quem vai nos mostrar isso nas telonas do futuro.

(*) Bianca Zasso, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Habitualmente, seus textos podem ser encontrados aqui às quintas-feiras.

Observação do Editor: as imagens que ilustram este texto são de Divulgação.

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