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A falta de autenticidade das urnas – por Giuseppe Riesgo

O aperfeiçoamento do processo eleitoral e ampliação da representatividade

A democracia representativa pressupõe justamente isso: representação. Tivemos eleições de grande intensidade e rivalidade. No entanto, a julgar pela nossa eleição geral e comparando-a com as eleições americanas de agora, há muito a se fazer por aqui.

Por lá, a divisão social e política também está acirrada e, até o momento em que escrevo esse artigo, de resultado incerto (ainda que tendente à vitória do Partido Republicano). Já por aqui, infelizmente, só temos a lamentar. Da volta de Lula ao frágil sistema de escolha dos nossos representantes nos parlamentos, tudo em nosso sistema eleitoral reflete a crise política e de representatividade que vivenciamos em nossa democracia.

E é esse o tema que me traz aqui. Em qual aspecto estamos errando em comparação à democracia mais antiga do mundo? Bem, as diferenças são muitas, mas creio que o sistema americano acerta essencialmente na escolha dos seus deputados. Por lá, adota-se um sistema distrital puro. Basicamente, fatia-se demograficamente as mais distintas regiões e realiza-se uma escolha direta, nesses distritos, sobre qual deputado a região terá como representante em nível federal. A escolha aproxima-se da eleição de um prefeito, por exemplo.

Assim, além de formar um parlamento que representa toda a população, os americanos tendem a se envolver politicamente com a escolha do seu representante. Tendem a lembrar quem os representa, a cobrá-lo e, consequentemente, a se politizar mais em relação as suas escolhas e as decisões políticas envoltas à comunidade.

Já por aqui nada disso acontece. O nosso sistema, além de confuso, não premia a representatividade. De sua complexidade deriva o descrédito e a falta de interesse em quem nos representa. Afinal, nós sequer lembramos dos deputados que compõem a câmara federal e as assembleias estaduais.

Como iremos cobrar alguém que sequer lembramos? Como iremos nos politizar? Como iremos nos envolver devidamente com as questões políticas da nossa comunidade? Ou seja, com tantas lacunas políticas, é absolutamente compreensível que a população não se sinta representada e desacredite da política e daquilo ofertado ao seu escrutínio nos anos eleitorais.

A verdade é que o eleitor sente cada vez mais a falta de autenticidade nas ideias dispostas pelos candidatos nas eleições. O que mais temos são candidaturas reféns do populismo eleitoral e de pautas que não são suas. Não à toa, pululam candidaturas vagas e inconsistentes que mais se preocupam em sinalizar virtudes e se associar ao político populista da vez do que, efetivamente, melhorar a comunidade.

Não foi, por exemplo, um mero acaso a chuva de candidatos liberais e “de direita” por aí. O candidato percebe determinada inclinação ideológica e se adapta. Na ânsia de conquistar votos, leiloa as suas convicções em troca do voto do eleitor desavisado.

Eis o maior veneno para a democracia representativa. O debate genuíno de ideias se esvai, a hipocrisia e o artificialismo prevalecem em meio a um vácuo ideológico e representativo, aprofundado pelo sistema eleitoral utilizado aqui. A consequência? O citado desapontamento e descrédito generalizado no sistema eleitoral e na democracia como um todo.

Por isso meu papel como liberal é também contribuir para trazer mais simplificação e transparência na busca do eleitor por candidaturas verdadeiramente ideológicas e, portanto, interessadas na melhoria das condições de vida da população brasileira.

A crise de representatividade que vivenciamos não pode nos relegar a desolação com a democracia e com a política como um todo. Nosso trabalho é árduo, mas no fim serão as boas e autênticas ideias que iluminarão a escuridão. Seguirei trabalhando por isso.   

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

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6 Comentários

  1. A natureza não da saltos. Sistema esta voltando ao que o establishment acha ‘normal’. Jornadas de 2013 para eles não ocorreram ou foram esquecidas. É só cruzar os braços e ver no que dá. Alás, por que tem gente protestando em frente aos quarteis e não existe nenhum protesto em frente ao Casarão da Vale Machado?

  2. Mandato de deputado é dois anos e de senador é 6 anos, se não me engano. De dois em dois anos renova-se um terço do Senado. Com voto distrital na teoria a cobrança é grande. Porém existe crise de representatividade por lá tambem. É de bom grado, antes de sair copiando, verificar quais são as criticas ao que se quer copiar. Vide STF. Copiaram o sistema austriaco e o americano ao mesmo tempo e deram um acesso a justiça que não existe nos EUA. Deu no que deu.

  3. Pessoalmente defendo o parlamento com sistema distrital misto. Justificaria até as emendas parlamentares de certa forma. Porem o voto distrital não é aceito por muitos. Esquerda por que perderia representação (teoricamente, não acredito), outros porque a responsabilização seria diferente. Malvadezas são diluidas e na aldeia, por exemplo, Capsicum se fosse o deputado do distrito teria que mostrar muito mais serviço.

  4. Governo Molusco com L., o honesto, é o que a casa tem para oferecer. Entre a m. completa e o ‘incrivel fantastico extraordinario’ há 65536 tons de cinza. Menos na aldeia onde tudo é ‘incrivel fantastico extraordinario’ e os amigos dos amigos são todos geniais. Ja se sabe o que vem, mais impostos, mais intervenção estatal, mais obras faraonicas e mais corrupção. Cachorro que comeu ovelha é naquela base. Não vão faltar os imbecis do ‘planejamento’ (geralmente alguém que nunca planejou nada) e das ‘politicas publicas’ (um chavão). Papel aceita tudo, tirar do papel é que é dificil. Sem falar nos canetaços. Milhares de creches que não foram feitas, a redução na conta de luz artificial que virou uma conta bilionaria (que, obvio, a população teve que pagar), a lista é grande. Também a falta de informações confiaveis será grande. Midia ajudou a eleger o governo, vai dar suporte.

  5. Se o comunismo saiu das barbaridades da revolução industrial (basicamente), Nazismo floresceu com o ressentimento ocasionado pelas penalidades da derrota na Primeira Guerra agravado com a Grande Depressão. Cereja do bolo foi o declinio da Republica de Weimar. O que leva a Carl Schmitt e o conflito das teologias politicas. O jurista foi banido do ensino juridico em muitos lugares, jogaram lixo para debaixo do tapete. Não tem como resolver problemas sem reconhecer que eles existem e sem falar neles. Alas, voltando aos EUA, Guerra do Peloponeso começou com Atenas ‘exportando’ democracia e rompendo uma tregua de 30 anos.

  6. Problema ianque diria que é mais complexo. Estão numa guerra hibrida com outros paises (ao menos há sintomas). Logo há pessoas fomentando a divisão. Na Segunda Guerra o pessoal da Escola de Frankfurt se refugiou nos EUA e plantou a semente podre nas universidades. Em cima disto tudo estão negando os valores e praticas que levaram o pais a ser o que é. Pior, uma esquerda corrupta tenta usar o poder para exportar ‘utopias’ e forçar mudanças historicas na base do material bélico. Falam numa Guerra Fria Civil por lá.

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