O camelo do Eduardo – por Marcelo Arigony
O bicho era uma bicicleta. Mas hoje o animal (não a bici) está em todo lugar

Mônica de moto, Eduardo de camelo. Na primeira vez que ouvi isso, idos de 1986, tocando num system Gradiente 106, o álbum “Dois” do Legião Urbana, imaginei literalmente: a moçoila chegando numa motocicleta; o rapaz montado em um camelo, chegando a galope para o encontro.
Acreditava eu, aos 14 anos de idade e até ontem, que a frase havia sido escrita realmente para causar, mostrar o quanto eram diferentes aquelas almas que acabaram se completando em perfeita harmonia.
Mas eis que passados 37 anos estou no carro com minha filha de sete e toca essa música, que ela aprecia muito. A pequena Bela então me pergunta sobre essa passagem. Ela também imaginou o Eduardo montado no camelo, e queria saber se existe camelo no Brasil.
Eu esbocei um início de explicação, mas logo parei. Pela primeira vez fiquei pensando se o camelo não era gíria, ou linguagem figurada, sentido conotativo.
Então disse a minha filha que, após esses anos todos, me parecia que o camelo seria uma gíria para quem anda a pé. A seguir fui pesquisar e descobri que em Brasília (DF) camelo quer dizer bicicleta. Vejam só! Eu interpretando uma das músicas mais importantes daquela época com minha pequena lente enviesada.
E isso me parece que tem ocorrido muito, no atual momento. Todos vendo camelos em tudo quanto é lugar, jogando baralho sem ter as cartas todas. Opinando, tirando conclusões precipitadas, agredindo e se expondo para ser agredido nas redes sociais, sem entender o contexto todo, sem conhecer os fatos, sem ouvir a opinião e os anseios dos outros. Nada parecidos com Eduardo e Mônica…
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do Editor: a imagem (sem autoria determinada) que ilustra esta crônica foi originalmente publicada AQUI.
Sábias palavras mestre, a fim de contextualizar um pouco mais o assunto, camelo se referia antigamente(anos 80/90) com bicicleta, porém não é qualquer bicicleta.
Se refere mais especificamente as bicicletas do tipo “Ceci”/”Brisa” que carregavam mais uma pessoa e tinha cestinho de carga ainda, além de que era possível andar longas distâncias com esse tipo de bicicleta cansando menos…
O apelido parou de ser utilizado, pois se popularizou as bicicletas com marchas e as “cecis” deixaram de vender pela cara de bicicleta de “tiazona”.
Espero ter agregado um pouco, grande abraço.
Ps. meus pais são naturais de SM.