Caso do ministro Fávaro na Agrishow tem as digitais dos bolsonaristas radicalizados – por Carlos Wagner
“Organizadores causaram enorme dano à imagem do evento com o episódio”
Como se fosse um vírus de alta letalidade, pequenos grupos de bolsonaristas radicalizados existentes nas cúpulas de entidades de classe, direções de empresas e outros setores produtivos estão causando enormes danos à imagem de importantes marcas de produtos e serviços. É sobre isso que vamos conversar. Vou começar citando o caso mais recente.
Na semana passada, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi desconvidado para comparecer na abertura da Agrishow, o maior evento agrícola do país, que acontece de 1º a 5 de maio em Ribeiro Preto, interior de São Paulo. A organização do evento alegou ter cancelado o convite porque na abertura estaria presente o ex-presidente da República Jair Bolsonaro.
Por entender que os organizadores da Agrishow havia feito uma “grosseria”, o ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, avisou que o Banco do Brasil estava cancelando o seu patrocínio à feira. No fim de semana foi cancelada a solenidade de abertura do evento, que é organizado por quatro entidades, sendo que duas delas representam os fabricantes de adubo e máquina agrícolas.
Por tudo que noticiamos sobre o assunto não haveria problemas se Bolsonaro e Fávaro participassem de um mesmo evento. A possibilidade de que não acontecesse nada de sério era muito grande. Se tudo corresse dentro dos conformes, o assunto renderia uma noticia de pé de página. O fato da organização ter desconvidado o ministro da Agricultura produziu uma notícia que foi manchete nos principais noticiários do Brasil e de alguns países vizinhos.
A maneira como foi conduzido esse assunto foi uma estratégia dos bolsonaristas radicalizados que trabalham na organização do Agrishow? O tempo vai responder a essa pergunta. Não vou mencionar o nome das entidades organizadoras da Agrishow por dois motivos: primeiro, que estão disponíveis na internet e, o segundo, que estaria ajudando a ampliar a confusão que a imprensa faz sobre quem representa o agronegócio.
Tenho dito que, ao contrário do que temos publicado, o agronegócio não tem uma direção geral que fala pelo setor. Muito menos é formado apenas pelo grandes e médios produtores de soja, milho e gado de corte. Ele é formado por pequenos produtores, a chamada agricultura familiar, que produzem frangos, suínos, leite e grãos e trabalham integrados com as agroindústrias, que geram milhares de empregos no interior do Brasil. Além dos produtores de cana-de-açúcar, frutas, verduras e vai por aí afora.
Claro que é impossível o repórter colocar em uma pequena notícia um tratado sobre o que é o agronegócio. Mas podemos colocar duas ou três palavras alertando o leitor sobre o que estamos falando. Vou lembrar os colegas e leitores que em março, mais precisamente no dia 3, publiquei o post Bolsonaristas vão chiar contra a eleição de Lula nas feiras agropecuárias? Por que fiz a publicação? Conheço muito bem o agronegócio nos quatro cantos do Brasil. Há mais de 500 grandes feiras agropecuárias e inúmeros outras pequenas e médias que acontecem anualmente no país.
É praxe nesses eventos, desde muito antes de existirem Bolsonaro e Lula, agricultores e sindicalistas fazerem discursos falando mal da política agrícola do governo. Nos dias atuais, uma boa parte dos agropecuaristas brasileiros, principalmente os mais velhos, são conservadores e bolsonaristas. Qual é o problema? Não são eles o problema.
O problema é uma minoria de bolsonaristas radicalizados que ocupam postos nas direções de entidades de classe e de empresas que abastecem o setor de máquinas, químicos e serviços. Essas pessoas são ligadas aos atos terroristas praticados em 8 de janeiro em Brasília (DF), quando invadiram os prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos sonhos de consumo dos agentes da Polícia Federal (PF) é que as sessões da recém-implantada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) os ajudem a chegar a essas minorias.
O fato é o seguinte. Os organizadores da Agrishow causaram um enorme dano à imagem do evento com o episódio do ministro Fávaro. Eles vão pagar pelo dano? Não vão pagar. Como não pagou a minoria bolsonarista radicalizada que ocupa cargos nas entidades de classe e direção das empresas na Serra Gaúcha que estão ligadas ao episódio dos trabalhadores safristas da uva encontrados em condições análogas ao trabalho escravo.
O episódio aconteceu em fevereiro, quando autoridades policiais e do Ministério Público da Justiça do Trabalho resgataram 194 safristas baianos trabalhando na colheita da uva em Bento Gonçalves – há matérias na internet. Os danos causados à imagem das empresas vinícolas foram enormes.
Vou lembrar um episódio desse rolo. O vereador de Caxias do Sul Sandro Fantinel, atualmente sem partido, fez um discurso na Câmara Municipal chamando os trabalhadores baianos de vagabundos e outros adjetivos. O discurso virou notícia ao redor do mundo. Essa história do trabalho análogo à escravidão é o ápice do trabalho clandestino que bolsonaristas radicalizados vêm desenvolvendo no meio empresarial da Serra Gaúcha – há inúmeras matérias sobre o assunto na internet.
A pergunta que nós jornalistas precisamos responder aos nossos leitores é até onde pretende ir essa minoria de bolsonaristas radicalizados que ocupam lugares estratégicos nas entidades de classe, empresas e outras organizações. A melhor maneira que temos de expor as jogadas armadas por eles para causar problemas é sendo exatos nas nossas matérias.
Toda vez que não somos precisos nas nossas reportagens, como é o caso da definição do agronegócio, ajudamos essa minoria a prosperar dentro das organizações de classe empresariais. O episódio com o ministro Fávaro na Agrishow tem as digitais dos bolsonaristas radicalizados.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
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