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Educação especial: entre a qualidade e a mera formalidade – por Demetrio Cherobini

As dificuldades para se chegar ao ensino qualificado, reflete o articulista

Um dos grandes desafios da educação especial está em superar a prática da mera formalidade a fim de ser realizada com verdadeira qualidade.

Educação especial de qualidade exige preparar o estudante para se inserir, com o máximo de autonomia possível, em todos os ambientes sociais nos quais deseje participar. Autonomia, nesse contexto, significa ser independente na condução da própria vida, do ponto de vista afetivo, moral, intelectual, cultural, social e laboral/profissional.

Para chegar à autonomia, entre outras coisas, são necessários certos meios, isto é, os conhecimentos disponibilizados pela escola. Esses conhecimentos são, precisamente, os conhecimentos científicos e culturais mais refinados produzidos ao longo da História.

Pode-se dizer que há uma íntima relação entre a apropriação do conhecimento e a autonomia. Via de regra, quanto mais conhecimentos as pessoas possuem, mais autônomas elas são, ou poderão ser, nos variados contextos em que esses conhecimentos sejam significativos.

Nesse sentido, os conhecimentos escolares, importa ressaltar, são formados por conceitos. Para formar conceitos o sujeito precisa, pois, desenvolver a capacidade de abstração. O processo de ensino e aprendizagem deve, assim, partir do concreto e avançar rumo ao desenvolvimento da capacidade de abstração.

Muitos não acreditam que os indivíduos com necessidades especiais possam desenvolver a capacidade de abstração e se tornar seres pensantes. É um preconceito muito grande, pois a capacidade de abstração está presente na linguagem humana. Daí que, quanto mais rica a linguagem, mais o sujeito poderá desenvolver a capacidade de abstração, formar conceitos e apreender cientificamente a realidade.

Esses são alguns elementos daquilo que considero como educação especial de qualidade. Mas por que isso é tão difícil de ser obtido? Porque, na prática, a educação especial é tratada como mera formalidade pela alta burocracia que comanda a educação.

A mera formalidade é responsável por fazer muitos professores trabalharem com os estudantes incluídos sem carinho, dedicação, afeto e com profunda má vontade. Assim, as atividades feitas com esses meninos e meninas são só para “cumprir tabela”. Ora, onde o espírito da mera formalidade é hegemônico, a qualidade do ensino morre, como morrem o respeito, a consideração e a empatia por esses indivíduos mais frágeis.

Quem luta pela causa dos mais frágeis, portanto, tem o dever ético e político de combater a mera formalidade, que desgraçadamente impera nas estruturas que comandam a educação. Combater, sobretudo, as pressões para que essas crianças e adolescentes – e os professores que trabalham com eles – se tornem simples tarefeiros e cumpridores de ordens, e não seres pensantes, inteligentes, ativos, conscientes e livres.

(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.

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