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Israel deveria dar ouvidos a Biden e não ocupar Gaza. Americanos entendem de atoleiro – por Carlos Wagner

Exemplos mais conhecidos: as guerras do Vietnã, do Iraque e do Afeganistão

Por existirem mais perguntas do que respostas, torna-se impossível saber como a história irá terminar (Foto Reprodução)

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 73 anos, deveria dar ouvidos ao conselho do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 80 (democrata), e não ocupar com as tropas a Faixa de Gaza para tentar destruir o Hamas, o grupo terrorista que no último dia 7 de outubro, em um ataque surpresa, invadiu o território israelense, matou 1,3 mil pessoas e sequestrou 120.

O motivo pelo qual Netanyahu deve dar atenção a Biden é porque ninguém no mundo entende mais de atoleiro do que os americanos. Vou citar os mais conhecidos. A Guerra do Vietnã (1965 a 1973), também conhecida como o atoleiro vietnamita, onde morreram e desapareceram 58 mil soldados americanos. A Guerra do Iraque (2003 a 2011), quando, alegando que os iraquianos tinham armas de destruição em massa, os Estados Unidos invadiram o país e acabaram semeando movimentos islâmicos fundamentalistas por todo o Golfo Pérsico.

E, por último, a Guerra do Afeganistão (2001 a 2023), contra o regime dos talibãs que governava o país e apoiaram a Al-Qaeda, a organização liderada pelo terrorista saudita Osama Bin Laden, responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas, em Nova York. A retirada das tropas americanas do Afeganistão foi caótica – há material na internet.

Biden deu o conselho a Netanyahu durante uma entrevista ao prestigiado programa da CBS News 60 Minutes, que virou manchete nos principais jornais do mundo. Na mesma entrevista, o presidente americano concordou com o primeiro-ministro israelense sobre a destruição do Hamas. Trocando em miúdos, Biden concorda com a destruição do alvo, mas discorda da estratégia. Ele não é o único.

Antes de seguir em frente na nossa conversa vou dar uma explicação que considero importante para o leitor e os colegas repórteres, especialmente os jovens que estão na cobertura do dia a dia das redações. Cristalizou-se entre os jornalistas que fazem a cobertura de conflitos envolvendo tropas militares a palavra atoleiro para descrever uma operação malsucedida, que resultou em perdas inúteis de vidas e de material.

Voltando a nossa conversa. Biden não o único a desaconselhar o envio de tropas para Gaza. Os noticiários estão cheios de especialistas em estratégias militares fazendo a mesma afirmação: de que o plano do primeiro-ministro de ocupar Gaza com tropas terrestres é suicídio. Tem mais: neutralizar todos os principais líderes e milicianos do Hamas não significa acabar com a organização.

Das cinzas do Hamas pode brotar algo bem pior, como foi o caso do Estado Islâmico, também conhecido como ISIS, que nasceu nos escombros da destruição causada pela Guerra do Iraque – há material na internet. Biden tem afirmado, em várias ocasiões, que apoia a criação do estado da Palestina.

O fato é o seguinte: o presidente dos Estados Unidos é um político calejado e vai tentar a reeleição em 2024. O seu principal adversário é o ex-presidente Donald Trump (republicano), que durante o seu governo apoiou Netanyahu, inclusive reconhecendo Jerusalém como capital de Israel. A cidade é disputada por israelitas e palestinos.

O então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), também ensaiou o reconhecimento. Lembro que o primeiro-ministro de Israel esteve na posse de Bolsonaro. Para concorrer, Trump depende da indicação pelos republicanos. Nos dias atuais ele é o republicano que teria mais chances de enfrentar Biden.

Biden nunca deixou dúvidas de que os americanos apoiam Israel. O que ele está fazendo é colocar a política na conversa e mostrar que existem outras opções para resolver o problema. A invasão do Hamas interrompeu uma série de protestos que a população israelense vinha fazendo contra a tentativa de Netanyahu de mudar as leis do país para escapar de processos aos quais está respondendo. Ou seja, assim que essa história do Hamas for encaminhada, ele terá um encontro com a justiça, pelo menos é o que dizem os analistas e os principais líderes políticos de Israel.

Aqui tem mais uma questão. Assim como os massacres de inocentes pelos terroristas do Hamas foram documentados e transmitidos pelos celulares para as redes sociais ao redor do mundo, o sofrimento da população civil de Gaza com os bombardeios da artilharia e da aviação israelense está sendo contando pelas crianças, idosos e mães palestinas pelas mesmas redes sociais.

Como jornalista, temos visto e ouvido os fatos que estão acontecendo no campo de batalha. E também as narrativas das vítimas civis, israelitas e palestinas, disponíveis na internet. Esta é a nova realidade das guerras na era das modernas tecnologias de comunicação que o núcleo duro dos religiosos de extrema direita do governo de Netanyahu não tem interesse em conhecer. Mas ela existe, basta apertar um botão no teclado do celular para ver e ouvir.

É impossível ter a mínima ideia de como essa história vai terminar porque existem muitas pontas soltas. Há muito mais perguntas do que respostas, incluindo como os milicianos do Hamas conseguiram entrar no território israelense sem serem notados. Como sempre digo, viajei muito pelo Brasil fazendo cobertura de conflitos.

E lembro que em acontecimentos como o confronto entre israelitas e palestinos a imprensa do interior fica de fora ou se limita a reproduzir as reportagens publicadas nos grandes jornais. Desta vez, a imprensa do interior tem a oportunidade de pegar os depoimentos nas redes sociais e montar matérias interessantes para os seus leitores. Claro que é necessário tomar cuidado com as fake news. Mas a oportunidade existe.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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16 Comentários

  1. Por fim os territorios não controlados pelo Estado. Redes de tuneis eram alvo de investigação em SP no final da decada de 90. Apostaria que vai chegar nas favelas do RJ (primeiro). Drones carregando explosivos foram utilizados no Iemen e na Ucrania. Deve chegar aqui também. Questão de tempo. Se já não chegou.

  2. As pontas politicas arrumaram mais um motivo para se desentender no Brasil. Pouco tem a ver com o conflito. Vermelhos defendem os Palestinos, mas ignoram os Uigures. Defendem o Bis também, o chocolate.

  3. Consenso, acredito, é que as coisas não deveriam estar como estão. Não deveriam ter chegado neste ponto. Situação estava em banho maria, ‘interésses’ se manifestaram e deu no que deu.

  4. Brasil já tem sua imagem associada a Russia na questão ucraniana. E a causa Palestina no Oriente Medio. Certo ou errado depende do interlocutor. Europa e Ianquelandia já sabe e ninguem se engane, vai agir de acordo.Palestinos são ‘gente boa’. Santa Maria tinha muitos, não sei o numero agora. Vez por outra decadas atras desciam a Acampamento agitando sua bandeira. Maioria não entendia muito o que estava acontecendo. Alas, esta historia de muçulmanos nunca beberem alcool, desconfio que seja coisa da Globo (para horror dos mais tradicionais).

  5. No que se chega a relação poder civil e poder militar. Estes ultimos só precisam de uma missão. Civis não podem, observando as restrições legais, ficar dirigindo as operações. Há que se ter objetivos bem claros, um estado final de coisas a ser alcançado. Uma estrategia de saida tem que ser definida. Isto deve estar sendo discutido nos gabinetes em Israel. Mais do que óbvio, canais não publicos de negociação estão funcionando. O Principe Coroado da Arabia Saudita noutro dia fez um telefonema para o presidente do Irã. Surpreendente.

  6. Veteranos das guerras ianques são muito indignados. Iraque foi a troco de nada, perderam amigos(as) a troco de nada. Afeganistão repetiu os erros do Vietnam. O que se via no front não era refletido no discurso dos generais em Washington e nem na midia (ou seja, fluxo de informaçãos foi falho, sempre acaba aparecendo).

  7. No que se retorna ao atoleiro. Combate urbano é sala a sala, rua a rua, quarteirão por quarteirão. Complica ainda mais as coisas a existencia de tuneis. Homens-bomba, dispositivos explosivos improvisados. Se acontecer vai custar muito sangue.

  8. ‘[…] incluindo como os milicianos do Hamas conseguiram entrar no território israelense sem serem notados.’ Há quem fale em ataque cibernetico. Hamas divulgou um video (pelo menos um) mostrando um drone neutralizando uma torre de vigilancia. Questão não é importante agora, haverão investigações depois.

  9. Biden está seguindo o conselho de Theodore Roosevelt. Fale manso e carregue um porrete grande. Mandou dois grupos de ataque baseados em porta aviões para o Mediterraneo Oriental. Alem de cruzadores e destroieres, 4 submarinos nucleares acompanham. Ira ameaçou atacar, ataca num dia e esta de volta a idade da pedra no outro.

  10. Algo que ninguém fala. A resposta a um ato terrorista não pode ser um ‘vamos sentar e negociar’. Incentivaria atos terroristas. Chineses e Russos, apesar da retorica, sabem disto. Alas, tanto uns quanto outros já estariam passando o rodo na Faixa de Gaza se fossem os atingidos. Depois chegaria a hora do debate.

  11. No que se chega ao Hamas. Falha de inteligencia também engloba a falha de detectar a capacidade dos terroristas praticarem atos como aqueles. Outra coisa que salta aos olhos, fizeram coisas que nem o Estado Islamico fez. Porem copiaram algumas coisas, videos de ‘propaganda’. Num video mostram como fazem os foguetes. Custo algo como 500 dolares. Vangloriam-se, ‘Israel tem que gastar milhões para se defender’. Conclusão: Israel não pode ser permitir ‘deixar para lá’. Daqui uns meses invadem de novo. Mais não combatentes morrem. Alas, lançamento de foguetes ainda continua. Ameaça tem que ser neutralizada.

  12. Forças de Defesa de Israel tem problema logistico sério. Para cada 100 convocados apareceram 120 para lutar. Tem um problema economico, o pais parou.

  13. No que se chega a opinião da população media de Israel. Literalmente ouvi isto’ algumas coisas deverão acontecer, ser feitas; se Bibi se mostrar indisposto ou incapaz de fazer será substituido por alguém que faça.’ Simples assim. Entrevistado um bilionario ‘pacifista’. Empregava palestinos(as), era a favor de dois Estados. Enterrou a filha caçula que estava na Rave. Declaração? ‘Há que haver resposta’. Conclusão: sem acontecer nada não vai, a população israelense não vai aceitar.

  14. No que se chega ao chavão ‘sou a favor da solução de dois Estados’. Todo mundo é, ao menos a grande maioria. Não está no horizonte.

  15. ‘[…] a palavra atoleiro para descrever uma operação malsucedida, que resultou em perdas inúteis de vidas e de material.’ Mais uma prova de que os jornalistas são um bando de ignorantes. ‘Atoleiro’, ‘quagmire’ em ingles, vem de um livro de David Halberstam, ‘The Making of a Quagmire’. Aborda a Guerra do Vietnam.

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