Apocalipse, uma prévia – por Orlando Fonseca
Sobre os tempos atuais: “será que não aprenderam nada com a pandemia?”
O que vem acontecendo no clima do Rio Grande do Sul nos últimos anos, e o que vimos nos supermercados na semana passada, junto com uma notícia divulgada por cientistas da Universidade de Bristol, tudo indica que o fim está mais próximo do que se imagina. Poderia o prezado leitor imaginar, com razão, que sou um alarmista, no entanto, peço um pouco de atenção, coisa que tem feito falta, especialmente depois que o mundo todo foi assolado por um vírus letal.
Ainda não sabemos as consequências da elevação das águas do Guaíba sobre a capital do Estado, porém, é possível imaginar a iminência do caos, e a falta de perspectiva que isso levanta. Nossa cidade, neste momento, está ilhada, com bloqueios de estrada em todas as direções. A produção agrícola na iminência de quebra geral, com sucessivos eventos climáticos extremos. É para pensar sobre o que fizemos nos últimos anos que estou apontando o que pretendo abordar nesta despretensiosa crônica.
Não é dos cientistas que vem a pior notícia a respeito do fim do planeta Terra, pois para eles isso se dará daqui a mais ou menos 250 milhões de anos. É o que aponta um estudo liderado pela Universidade de Bristol (publicado na Nature Geoscience), cujos primeiros modelos climáticos de um supercomputador indicam que os mamíferos têm este tempo sobre o planeta. Os dados da pesquisa indicam que os extremos climáticos serão intensificados drasticamente, uma vez que os continentes terão se fundido para formar um supercontinente que será quente, seco e em grande parte inabitável.
Partindo da premissa cartesiana, “cogito, ergo sum”, o fim do mundo terá chegado muitos milhões antes disso aos humanos. Para René Descartes, a existência se dá a partir do pensamento. Isso serve tanto para que nós tenhamos a capacidade de metacognição, ou seja, de nos pensarmos (logo, de existirmos), quanto para que as coisas que “não pensam” tenham existência.
Os humanos terão deixado de pensar muito antes, e, não havendo quem “pense” este lugar, ele não existe. Logo, por ação impensada dos próprios humanos – com as consequências climáticas que estamos percebendo – ou por um meteoro do tipo que dizimou os dinossauros, o homo sapiens sapiens em breve não estará habitando este lugar. E observando as reações absurdas dos últimos dias, podemos afirmar que tem treinado muito para deixar de pensar (estendendo o sentido do verbo para além do que previa o filósofo e físico francês, precursor do Iluminismo).
Na terça-feira da semana passada, véspera de feriado e um dia antes do caos havido com as chuvas, fui ao mercado comprar um galão de água. Ao chegar no primeiro, já vi pelo pátio de estacionamento que havia um movimento inusitado. Ao adentrar o recinto, vi filas e filas nos caixas, com carrinhos abarrotados de fardos de garrafas de água mineral. Algumas pessoas puxando dois carrinhos com o mesmo volume.
Ao me dirigir a outro, a muvuca era no mesmo tom, com pessoas se acotovelando para pegar o máximo de itens possíveis, como se preparassem para uma hecatombe nuclear. O caos das intempéries no sul não se deu apenas com os estragos de inúmeras cidades, mas na busca pelo estoque de água (não pensam na água de poços artesianos, ou mesmo da chuva?); não pensam nos outros: os outros que se danem (para usar expressão permitida no horário nobre).
Conversando com uma pessoa que trabalha perto de um supermercado, ouvi dele que houve brigas por ali, com xingamentos. E emendou que as pessoas não pensam mesmo, talvez não confiem nos demais, e que em breve o fluxo de produtos vai se normalizar. Daí é que vem a minha suspeita a respeito do futuro da humanidade, desprovida de pensamento (não pensam em si, não pensam nos outros, não pensam o planeta). Meu interlocutor ainda falou: será que não aprenderam nada com a pandemia? Bem pensado. Quer dizer, podemos imaginar que alguns poderão sobreviver ao apocalipse.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera: as vezes perco as estribeiras, as vezes sou egoista, as vezes não penso nas consequencias. Ou seja, ‘homo sum: humani nihil a me alienum puto’. O maximo que se pode fazer é, como diz a galera do avental, grosso modo, é polir a pedra. No mais, quem sabe um dia a humanidade chegara na perfeição moral e racional do autor e atenderá suas expectativas.
‘[…] será que não aprenderam nada com a pandemia?’ Não e sim. Natureza humana não muda tão rapido. Alas, as maquinas tem maior chance de se aproximar do ideal de ‘humano’ que alguns defendem. Sim porque todos viram as decisões tomadas pelo poder publico e as consequencias, o que deu errado. Não existe um ‘Estado’, o que as pessoas enxergam é um organograma de cargos ocupados por pessoas com diferentes graus de capacidade. Geralmente abaixo da media. Simples assim.
Poço artesiano é para quem tem poder aquisitivo. Acredito que seja dificil perfurar um ainda por cima. Corsan tem monopolio. Agua da chuva tem o problema do artesiano, não é potavel.
Pessoas irão comportar-se-ão como pessoas. Principalmente em modo de sobrevivencia. Numa catastrofe destas noticia foi que na Ianquelandia correram para os supermercados e começaram a estocar papel higienico.
Descartes é seculo XVII. Dizem por ai que segundo ele nenhuma maquina poderia ter inteligencia humana. O que levaria a outra discussão. Total zero, não é invenção minha, mas dizem por ai que o ‘senso comum’ tem um sério problema: não é comum. Se perguntarmos a qualquer pessoa se ela possui ‘bom senso’ a resposta é invariavelmente afirmativa. Conclusão? E cilada Bino!
Problema sério é o idealismo alemão. Kant, Hegel et caterva. Pessoal não consegue largar este osso. Inventam uma forma perfeita platonica de ‘humano’ e querem que a sombra corresponda. Filosofia de buteco.
Modelo de Bristo, é bom ir na fonte, não é só climatico. Continentes se fundindo envolve geologia. E segundo eles 92% da Pangaea Ultima sera inabitavel por mamiferos. Ovelha não é para mato.
‘[…] a pior notícia a respeito do fim do planeta Terra, pois para eles isso se dará daqui a mais ou menos 250 milhões de anos. […]’. Dinossauros duraram uns 160 milhões de anos. Não tiravam carbono do subsolo e jogavam na atmosfera. Nem tinha arsenais nucleares. Dai a visão de Elon Musk, para sobreviver a raça humana tera que ser multiplanetaria. O que ninguem fala quase é que o corpo humano não foi feito para isto, mas é outra historia.
‘Poderia o prezado leitor imaginar, com razão, que sou um alarmista, […]’. Autor é chamado de muita coisa por muita gente diferente, aposto. Mas não tem importancia.
Existe uma ‘maldição chinesa’, que de chinesa não tem nada, é apócrifa, que diz ‘que voce viva em tempos interessantes’. Queda do Muro de Berlin, queda das Torres Gemeas, invasão da Ucrania, massacre seguido da invasão da Faixa de Gaza, o derretimento da Libia e da Siria, crises migratorias, pandemia, a decadencia do Imperio Ianque e da Comunidade Europeia, ascenção da China, formação de novos blocos. Agora isto.