Golpes e contragolpes – por Orlando Fonseca
… Assim caminha a humanidade brasileira. Recentemente, para ser mais preciso, há menos de dois anos, tivemos uma tentativa de ataque aos Três Poderes, na sua praça em Brasília. Um pouco antes, ainda, tivemos a deposição de uma presidente, legitimamente eleita, através de um processo com feições de um golpe. E já vínhamos caminhando com passo normal pela redemocratização, depois de um duro período de exceção, pós golpe militar de 1964. Mas o que esperar de uma república implantada através de uma quartelada? E vieram muitos outros movimentos, porém não é normal pensar que um golpe é normal. E os fatos graves vindos à tona na última semana alertam para a urgência em retomar o rumo em direção a um estado democrático e de direito, pleno, justo e igualitário.
Com o encerramento das investigações que a Polícia Federal vinha realizando, desde o final das eleições de 2022, houve o indiciamento de 37 suspeitos de conspiração, incluindo aí um ex-presidente e vários oficiais graduados das Forças Armadas. Com isso, podemos ter a dimensão do risco pelo qual a democracia brasileira passou. Ao longo do último governo, tivemos uma bem montada propaganda contra o sistema eleitoral, com ataques ao STF, à polícia federal, ao Congresso e à imprensa. Ter passado pelo palácio do Planalto um presidente negacionista não trouxe apenas efeitos colaterais na saúde do brasileiro (haja vista a volta de doenças erradicadas há décadas), mas contaminou também grande parte do contingente militar, com uma politização das Forças; armou no Congresso um contingente de parlamentares oportunistas que deram ao Centrão um poder não visto até então. Com isso, a perda do mandato nas eleições colocou em marcha uma série de expedientes escusos, que só não deram certo, pela incompetência dos operadores. O que não retira a sua gravidade e sua responsabilidade criminal.
Não podemos esquecer que, após as Jornadas de junho de 2013, formou-se uma legião de descontentes sem causa. Embora seus ataques a tudo o que cheira política de esquerda (o fantasma do comunismo), que deram base a um impeachment (invalidado pelo STF, na sequência, sem repor a ordem institucional), esse grupo se fortaleceu para conduzir ao poder uma figura como a de Bolsonaro, e sua cartilha de ataques à ordem democrática (apreço aos torturadores, saudade da ditadura, liberdade de expressão confundida com passe-livre às fake news). Deu no que deu, e não temos nada a celebrar daqueles quatro anos, agravados por uma pandemia, que só pioraram o que não tinha como não ser ruim. Pelo que veio à tona, a vontade de tomar o poder por um golpe ainda está no imaginário desta gente que acampou em frente aos quartéis, e que protagonizaram a baderna no dia 8 de janeiro de 2023. Não deu em coisa pior, vejam só, porque o Estado Maior das Forças Armadas negou unanimidade para embarcar na aventura golpista.
Este ano marca o centenário da Coluna Prestes, mobilização que teve início em 1924, como uma revolta dos tenentes, descontentes com as oligarquias no comando da República Velha; dois anos antes tivemos o famoso movimento dos 18 do Forte; em seguida veio a Revolução de 30, que deu início à ditadura de Vargas, depois os fatos que levaram ao seu suicídio e ao conturbado momento da eleição de JK. Aí vieram a renúncia de Jânio, as tentativas para impedir a ascensão de Jango, o golpe de 64 (que durou 21 anos), o impeachment de Collor, e a história, neste século, que todos conhecemos. O Brasil só atingirá status de desenvolvimento com uma democracia robusta, com instituições sólidas e o povo consciente de sua responsabilidade cidadã. O golpismo não pode virar prática corriqueira, e os processos contra essa gente devem ser dentro do marco legal, mas devem ser exemplares. Assim é que a humanidade aprende, e com a gente – gente brasileira – não há de ser diferente.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Resumo da opera. Pacote de corte de gastos é pequeno demais. Porque existem contas que ficam fora da ‘contabilidade criativa’. Ja se fala em dominancia fiscal. Quem frequenta supermercado deve ter se impressionado nos ultimos dias. O velho truque do ‘politicos pautam a imprensa e esta pauta a sociedade’ já não tem tanta força. Bom manter os pes no chão e ver o que afeta o dia a dia. O resto se resolve sozinho, é só mais uma novela ruim.